"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A CRISE E A ESPERANÇA, QUE PRECISA CONTINUAR EXISTINDO



Em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos, no dia 15 último, o pesquisador Pablo Ortellado faz a mais brilhante análise que pude ler sobre a crise brasileira. Ao contrário de alguns, que preferem manter o foco na crise mundial, Ortellado ilumina o que há de mais significativo no caso brasileiro. Segundo ele, nos anos 80 do século passado, a formação do Partido dos Trabalhadores conseguiu fazer convergir para essa sigla personalidades, movimentos sociais, inclusive o sindical, a Igreja Católica, com sua belíssima experiência com as comunidades eclesiais de base, e praticamente todas as organizações marxistas de variada tendência que lutavam contra a ditadura militar.
Intelectuais do porte de Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Hollanda, Antonio Candido, Marilena Chauí, para citar apenas esses, contribuíram com a força de suas mentes privilegiadas, somando esses conhecimentos com a democracia de base, em que os “de baixo” efetivamente tinham sempre a última palavra. Havia líderes de trabalhadores rurais, ambientalistas como Chico Mendes, sindicalistas como Lula, João Paulo Pires Vasconcelos e Olívio Dutra. Antigos militantes, como Apolônio de Carvalho e José Ibrahim. Estrelas que despontavam nos movimentos de favela, como Benedita da Silva. Vítimas da ditadura militar, como Manoel da Conceição, de Pernambuco, nossa inesquecível d. Helena Grecco e milhares de anônimos militantes, barulhentos em suas manifestações e entusiasmados com a maneira distinta de fazer política.
NÃO HAVIA CHEFES
Eu vi tudo isso acontecer. Não havia chefes que impusessem suas vontades à vontade de viver uma experiência nova de produzir novos caminhos na política brasileira. José Dirceu, Vladimir Palmeira, Luiz Gushiken… todos tinham a mesma força e convenciam ou não os delegados em encontros memoráveis.
Aí residiram a força e a beleza daquele partido.
A institucionalidade a tudo isso absorveu. Até que, diante da “Carta aos Brasileiros”, de 2002, com que Lula logrou vencer o medo e fazer-se presidente do Brasil, esse documento, por muitos tido como manobra tática, acabou por acabar com o sonho de todos os que lá se agrupavam. Pouco a pouco foram aparecendo os melhores, os que sabiam mais que outros, os que mandavam mais que todos.
Ortellado faz uma previsão sombria: serão necessários mais 20 ou 30 anos até que surja algo assim. E aposta que uma sociedade civil organizada, mas não subjugada a partidos, governos ou líderes carismáticos, possa fazer abreviar esse parto.
TODOS SE PERDERAM
De minha parte, eu apenas acrescentaria que não foi só o PT que se perdeu. Também o PSDB, que surgiu lutando contra o fisiologismo que começava a se instalar no antigo MDB. E, mesmo nas fileiras desse PMDB, quem não se recorda de nomes combativos que davam a tônica também representando outros excluídos?
Diante dos arremedos de partido que hoje vemos atuar nos espaços institucionais ou no que resta de movimento social organizado, a saudade bate forte. Mas a esperança precisa continuar existindo.

28 de julho de 2015
Sandra Starling

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