"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

NARCOTERROR NA COLÔMBIA: SANTOS, OLOF PALME E A TERCEIRA VIA



As FARC se reorganizaram, cresceu sua agressividade e a mesa de Havana resultou ser uma vulgar janelinha por onde Timochenko passa suas exigências e Santos obedece.

Ante o mistério que encerra o entreguismo de Santos ante as FARC, ante a impossibilidade de saber, no momento, o que é que há por trás da obstinação de fazer concessões sem contraprestação a esse perigoso bando armado e aos cubanos, resta o recurso de fazer, ao menos, o inventário das motivações intelectuais que poderiam explicar essa particular atitude.

Pois deve haver teorias que incendeiam essa mente. Só a loucura gasosa do Prêmio Nobel que lhe prometeram não dá para tanto. Examinemos pois uma dessas teorias, que tem a vantagem de aparecer a cada certo tempo nos discursos do presidente. Juan Manuel Santos, de vez em quando, diz ser partidário da “terceira via”, sem explicar a qual das numerosas variantes dessa construção ele é adepto.
Como se sabe, essa fórmula serve para designar programas e visões do campo político e social muito diversas. A frase foi lançada pela primeira vez pelo Papa Pio XI, em sua encíclica Quadragesimo Anno(1931), a qual procurava um caminho entre o socialismo e o capitalismo.

O líder trabalhista britânico Blair e o presidente Clinton adotaram depois essa fórmula para ilustrar outros combates políticos, como haviam feito o sociólogo norte-americano Wright Mills, o teórico comunista Ota Sik, e como farão o primeiro ministro holandês Win Kok, o chanceler alemão Gerhard Schröder e até o nefasto ditador Muamar Kadhafi.

Outro partidário da “terceira via” foi o social-democrata Olof Palme, primeiro ministro da Suécia de 1982 a 1986 [1]. Os soviéticos tentavam nesses anos dividir a aliança atlântica. Em vez de denunciar isso, Palme tratava de apaziguar Moscou. Por isso atacava violentamente a política exterior dos Estados Unidos no Vietnã e no Oriente Médio, e financiava as guerrilhas centro-americanas, o que não impedia a Suécia de desfrutar, ao mesmo tempo, da proteção militar dos Estados Unidos e da OTAN.

Palme estimava que ante a impossibilidade de derrotar um vizinho agressivo como a URSS, a única política era fazer-lhe vênias, pois uma linha de firmeza, por exemplo, como a que seguia Ronald Reagan, seria um fracasso. A vida demonstrou quão equivocado Palme estava, pois a política de Reagan contra o império expansionista soviético acabou por dar frutos espetaculares em 1990: a Alemanha foi reunificada, a URSS foi derrubada e o comunismo, ao menos na Europa, ficou reduzido a pó.

Com sua linha branda, Palme conseguiu que as incursões de submarinos soviéticos em águas do Mar Báltico, em vez de decrescer, aumentaram. É o affaire “Whisky on the rocks”. As forças navais suecas gastaram em 14 anos 4 bilhões de coroas (dois bilhões de dólares) em novas instalações radar e em operações, o que incluiu bombardeios ar/mar, para tratar de caçar os submarinos intrusos. Nunca conseguiu nada e se algo acabou com essa história, foi o desmoronamento do ogro soviético e não as lamentáveis políticas de capitulação de Palme ante o bloco do Leste.

O presidente Santos defende uma teoria similar à de Palme: como não é possível, diz ele, derrotar as FARC, deve-se capitular ante as FARC. Essa teoria de que as FARC não são derrotáveis é falsa e os dois governos do presidente Uribe provaram o contrário. Entretanto, a teoria da capitulação voltou ao poder e seus resultados são desastrosos: as FARC se reorganizaram, cresceu sua agressividade e a mesa de Havana resultou ser uma vulgar janelinha por onde Timochenko passa suas exigências e Santos obedece.

O último capítulo da rajada de aceitações humilhantes ocorreu ontem quando Santos nomeou um novo ministro da Defesa. Tirou Juan Carlos Pinzón que, apesar de ser um soldado disciplinado de Santos, não deixava de assinalar o caráter criminoso das ações das FARC e até criticou certos aspectos do “processo de paz”. Pinzón, filho de uma família militar, pronunciou-se sempre contra a pretensão das FARC de “reduzir” as Forças Armadas da Colômbia. Ele foi substituído por um advogado de ampla trajetória no setor privado, Luis Carlos Villegas, que foi vítima das FARC: sua filha foi seqüestrada no ano 2000 e mantida em cativeiro durante três meses.

Embaixador até a próxima semana em Washington, Villegas intercambiará seu posto com Juan Carlos Pinzón. A imprensa santista assegura que Villegas é o homem ideal para fazer a “reconversão para um cenário de término do conflito”. As FARC, de novo, ganharam uma partida.

“A paz não pode ser um caminho para que os violentos alcancem o poder”, advertiu Pinzón ao se despedir na Escola Militar. Como interpretar essa frase tão importante? Ele era um obstáculo para a aceleração das capitulações? Pinzón se felicita de ter dado golpes severos às FARC e aos outros bandos criminosos, e de haver criado 9 forças-tarefa, 18 brigadas móveis e duas brigadas de infantaria de Marinha em seus 44 meses à frente do ministério. O que restará dessas estruturas se a linha de debilitar a força pública se impõe ao todo? A rajada de destituições de altos oficiais, o de deixar em terra a força aérea, e abolir a aspersão aérea dos cultivos ilícitos é só o começo? O próximo passo será o cessar fogo bilateral?

A “terceira via” de Santos nos está levando a becos sem saída como ocorreu a outros.

28 de maio de 2015
EDUARDO MACKENZIE

Nota do autor:
[1] Palme foi assassinado numa rua de Estocolmo em 28 de fevereiro de 1986. Esse crime não foi elucidado. Um dependente de drogas foi detido mas em 2011 a revista alemã Focus afirmou que o pistoleiro era um membro do serviço secreto da Iugoslávia que vive tranqüilamente na Croácia.

Tradução: Graça Salgueiro

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