Acreditamos, porventura, estar informados sobre o que acontece em Guantânamo e surpreende-nos que o presidente Obama não feche esse centro de tortura. Mas, estamos equivocados. O público não conhece a verdadeira finalidade desse dispositivo e o que o torna indispensável para a atual administração.
Cuidado! Se se quer continuar pensando que existem valores comuns entre nós e os Estados Unidos, e que se deve continuar a ser aliado de Washington, é melhor, então, abster-se de ler este artigo.
Prisioneiro à saída de uma sessão de “condicionamento” em Guantânamo.
Todos recordamos as imagens de tortura que circularam na Internet
Nos primeiros episódios, o herói intimida os suspeitos para extrair informações. Nos episódios seguintes, todos os personagens suspeitam uns dos outros, e torturam-se entre si com mais ou menos escrúpulos, e cada vez mais seguros que estão cumprindo com o seu dever. No imaginário colectivo séculos de humanismo foram assim varridos e impôs-se uma nova barbárie. Isto permitiu que o cronista do Washington Post, Charles Krauthammer (que também é um psiquiatra) apresentasse o uso da tortura como um “imperativo moral” (sic), nestes tempos difíceis da guerra contra o terrorismo.
A investigação do senador suíço Dick Marty confirmou ao Conselho da Europa que a CIA sequestrou milhares de pessoas, através do mundo, das quais várias dezenas —possívelmente centenas— tinham sido sequestradas no território da União Europeia. Veio então a avalanche de evidências sobre os crimes perpetrados nas prisões de Guantanamo (na região do Caribe) e de Bagram (Afeganistão). Perfeitamente condicionada, a opinião pública nos Estados-Membros da Otan aceitou a explicação dada, e que tão bem se enquadrava com as intrigas novelescas servidas pela televisão: para poder salvar vidas inocentes Washington estava a recorrendo a métodos ilegais, sequestrando suspeitos e fazendo-os falar através de métodos que a moral rejeitaria, mas que a eficácia havia tornado necessários.
Foi a partir dessa narrativa simplista que o candidato Barack Obama se levantou contra a cessante administração Bush. Converteu a proibição da tortura e o fecho das prisões secretas em medidas-chave do seu mandato. Após a sua eleição, durante o período de transição, rodeou-se de juristas de altíssimo nível a quem encomendou a elaboração de uma estratégia para encerrar o sinistro episódio. Já instalado na Casa Branca, dedicou os seus primeiros decretos presidenciais ao cumprimento de seus compromissos nesta matéria. Esta disposição conquistou a opinião pública internacional, despertou uma imensa simpatia pelo novo presidente, e melhorou a imagem dos EUA perante o mundo.
O único problema é que, ao fim de um ano após a eleição de Barack Obama, se resolveram algumas centenas de casos individuais, mas, basicamente, nada mudou. O centro de detenção criado pelos EUA na sua base militar de Guantanamo, ainda está lá, e não há esperança de encerramento iminente. As associações de direitos humanos assinalam, além disso, que os actos de violência contra os detidos se agravaram. Quando questionado sobre o tema, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden afirmou que, quanto mais avançava no assunto de Guantanamo, mais ia descobrindo as coisas que até então ignorava,. E, em seguida, avisou os repórteres, enigmaticamente, que não devia abrir a caixa de Pandora. Por seu lado, o consultor jurídico da Casa Branca, Greg Craig, quis apresentar a sua renuncia, não porque achasse que falhara na sua missão de fechar o centro, mas sim porque acha que, neste momento, lhe foi confiada uma missão impossível.
Por que é que o presidente dos Estados Unidos não consegue ser obedecido no seu próprio país? Se já tudo foi dito sobre os abusos da era Bush porque é que se fala, agora, de uma caixa de Pandora, e que é o que causa tanto temor? O problema é que o sistema é na verdade muito maior. Não se trata apenas de uns quantos sequestros e uma prisão. E o mais importante, é que o seu objectivo é radicalmente diferente do que a CIA e o Pentágono quiseram fazer crer ao público. Antes de empreender esta descida aos infernos, é necessário aclarar algumas coisas.
Todos recordamos as imagens de tortura que circularam na Internet
Nos primeiros episódios, o herói intimida os suspeitos para extrair informações. Nos episódios seguintes, todos os personagens suspeitam uns dos outros, e torturam-se entre si com mais ou menos escrúpulos, e cada vez mais seguros que estão cumprindo com o seu dever. No imaginário colectivo séculos de humanismo foram assim varridos e impôs-se uma nova barbárie. Isto permitiu que o cronista do Washington Post, Charles Krauthammer (que também é um psiquiatra) apresentasse o uso da tortura como um “imperativo moral” (sic), nestes tempos difíceis da guerra contra o terrorismo.
A investigação do senador suíço Dick Marty confirmou ao Conselho da Europa que a CIA sequestrou milhares de pessoas, através do mundo, das quais várias dezenas —possívelmente centenas— tinham sido sequestradas no território da União Europeia. Veio então a avalanche de evidências sobre os crimes perpetrados nas prisões de Guantanamo (na região do Caribe) e de Bagram (Afeganistão). Perfeitamente condicionada, a opinião pública nos Estados-Membros da Otan aceitou a explicação dada, e que tão bem se enquadrava com as intrigas novelescas servidas pela televisão: para poder salvar vidas inocentes Washington estava a recorrendo a métodos ilegais, sequestrando suspeitos e fazendo-os falar através de métodos que a moral rejeitaria, mas que a eficácia havia tornado necessários.
Foi a partir dessa narrativa simplista que o candidato Barack Obama se levantou contra a cessante administração Bush. Converteu a proibição da tortura e o fecho das prisões secretas em medidas-chave do seu mandato. Após a sua eleição, durante o período de transição, rodeou-se de juristas de altíssimo nível a quem encomendou a elaboração de uma estratégia para encerrar o sinistro episódio. Já instalado na Casa Branca, dedicou os seus primeiros decretos presidenciais ao cumprimento de seus compromissos nesta matéria. Esta disposição conquistou a opinião pública internacional, despertou uma imensa simpatia pelo novo presidente, e melhorou a imagem dos EUA perante o mundo.
O único problema é que, ao fim de um ano após a eleição de Barack Obama, se resolveram algumas centenas de casos individuais, mas, basicamente, nada mudou. O centro de detenção criado pelos EUA na sua base militar de Guantanamo, ainda está lá, e não há esperança de encerramento iminente. As associações de direitos humanos assinalam, além disso, que os actos de violência contra os detidos se agravaram. Quando questionado sobre o tema, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden afirmou que, quanto mais avançava no assunto de Guantanamo, mais ia descobrindo as coisas que até então ignorava,. E, em seguida, avisou os repórteres, enigmaticamente, que não devia abrir a caixa de Pandora. Por seu lado, o consultor jurídico da Casa Branca, Greg Craig, quis apresentar a sua renuncia, não porque achasse que falhara na sua missão de fechar o centro, mas sim porque acha que, neste momento, lhe foi confiada uma missão impossível.
Por que é que o presidente dos Estados Unidos não consegue ser obedecido no seu próprio país? Se já tudo foi dito sobre os abusos da era Bush porque é que se fala, agora, de uma caixa de Pandora, e que é o que causa tanto temor? O problema é que o sistema é na verdade muito maior. Não se trata apenas de uns quantos sequestros e uma prisão. E o mais importante, é que o seu objectivo é radicalmente diferente do que a CIA e o Pentágono quiseram fazer crer ao público. Antes de empreender esta descida aos infernos, é necessário aclarar algumas coisas.
O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, participou nas reuniões do Grupo dos Seis, que foi o responsável por escolher as formas de tortura a serem aplicados pelos militares dos EUA. Aqui vemos Rumsfeld durante visita à Prisão de Abu Ghraib (Iraque).
Contra-insurgência
O que o exército dos EU fez em Abu Ghraib não tinha nada a ver, pelo menos numa primeira fase, com as experiências que estão sendo conduzidas pela US Navy [Marinha dos Estados Unidos] em Guantanamo, e nas suas outras prisões secretas.
Tratava-se então, simplesmente, do que fazem todos os exércitos do mundo, quando se transformam em policias e se enfrentam com uma população hostil. Tratam de dominá-la através do terror. Neste caso, as forças da coligação (coalizão-Br) reproduziram [no Iraque] os crimes cometidos pelos franceses durante a chamada batalha de Argel, contra os argelinos, a quem, além do mais, os franceses continuavam a chamar «compatriotas». O Pentágono recorreu ao general francês, aposentado, Paul Aussaresses, especialista em «contra-insurgência», para reuniões com oficiais superiores. Durante a sua longa carreira Aussaresses assessorou os EU, onde quer que Washington tenha lançado «conflitos de baixa intensidade» (LIC), principalmente no Sudeste asiático e na América Latina.
No fim da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos instalaram dois centros de treino nessas técnicas, a Political Warfare Cadres Academy (Academia de quadros para a guerra política -ndT) (em Taiwan) e a School of Americas [conhecida em espanhol como a Escola das Américas] (no Panamá). Em ambas as instalações davam-se cursos de tortura, destinados aos encarregados pela repressão no seio das ditaduras asiáticos e latino-americanos.
Durante os anos 1960 e 70, a coordenação desse dispositivo dava-se através da World Anti-Communist League (Liga Anti-Comunista Mundial), de que eram membros os Chefes de Estado interessados [2]. Essa política alcançou considerável dimensão durante as operações Phoenix, no Vietname, («neutralização» de 80.000 indivíduos suspeitos de ser membros do Vietcong) [3], e Condor na América Latina, («neutralização» de opositores políticos à escala continental) [4]. O esquema de articulação entre as operações de limpeza, nas áreas insurgentes, e os esquadrões da morte foram aplicadas da mesma maneira no Iraque, especialmente durante operação Iron Hammer (Martelo de Ferro -ndT) [5].
A única novidade, no caso do Iraque, foi a distribuição entre os soldados norte- americanos de um clássico da literatura colonial, The Arab Mind (A mentalidade Árabe -ndT), do antropólogo Raphael Patai, com um prefácio do Coronel Norvell B. De Atkine, diretor da John F. Kennedy Special Warfare School (Escola de Guerra Especial John F. Kenedy-ndT), nova denominação da Escola das Américas desde que esta se mudou para Fort Bragg (na Carolina do Norte) [6]. Este livro que apresenta, em tom doutoral, toda uma série de estúpidos preconceitos sobre os «árabes», em geral, contém um célebre capítulo sobre os tabus sexuais utilizado na concepção das torturas aplicadas em Abu Ghraib.
As torturas perpetradas no Iraque não são simples casos isolados, como afirmou o governo Bush, mas fazem parte de um todo de uma estratégia de contra-insurgência. A única maneira de lhe pôr fim não é a condenação moral, mas sim a solução da situação política. No entanto Barack Obama continua a atrasar a retirada das forças estrangeiras que ocupam o Iraque.
Contra-insurgência
O que o exército dos EU fez em Abu Ghraib não tinha nada a ver, pelo menos numa primeira fase, com as experiências que estão sendo conduzidas pela US Navy [Marinha dos Estados Unidos] em Guantanamo, e nas suas outras prisões secretas.
Tratava-se então, simplesmente, do que fazem todos os exércitos do mundo, quando se transformam em policias e se enfrentam com uma população hostil. Tratam de dominá-la através do terror. Neste caso, as forças da coligação (coalizão-Br) reproduziram [no Iraque] os crimes cometidos pelos franceses durante a chamada batalha de Argel, contra os argelinos, a quem, além do mais, os franceses continuavam a chamar «compatriotas». O Pentágono recorreu ao general francês, aposentado, Paul Aussaresses, especialista em «contra-insurgência», para reuniões com oficiais superiores. Durante a sua longa carreira Aussaresses assessorou os EU, onde quer que Washington tenha lançado «conflitos de baixa intensidade» (LIC), principalmente no Sudeste asiático e na América Latina.
No fim da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos instalaram dois centros de treino nessas técnicas, a Political Warfare Cadres Academy (Academia de quadros para a guerra política -ndT) (em Taiwan) e a School of Americas [conhecida em espanhol como a Escola das Américas] (no Panamá). Em ambas as instalações davam-se cursos de tortura, destinados aos encarregados pela repressão no seio das ditaduras asiáticos e latino-americanos.
Durante os anos 1960 e 70, a coordenação desse dispositivo dava-se através da World Anti-Communist League (Liga Anti-Comunista Mundial), de que eram membros os Chefes de Estado interessados [2]. Essa política alcançou considerável dimensão durante as operações Phoenix, no Vietname, («neutralização» de 80.000 indivíduos suspeitos de ser membros do Vietcong) [3], e Condor na América Latina, («neutralização» de opositores políticos à escala continental) [4]. O esquema de articulação entre as operações de limpeza, nas áreas insurgentes, e os esquadrões da morte foram aplicadas da mesma maneira no Iraque, especialmente durante operação Iron Hammer (Martelo de Ferro -ndT) [5].
A única novidade, no caso do Iraque, foi a distribuição entre os soldados norte- americanos de um clássico da literatura colonial, The Arab Mind (A mentalidade Árabe -ndT), do antropólogo Raphael Patai, com um prefácio do Coronel Norvell B. De Atkine, diretor da John F. Kennedy Special Warfare School (Escola de Guerra Especial John F. Kenedy-ndT), nova denominação da Escola das Américas desde que esta se mudou para Fort Bragg (na Carolina do Norte) [6]. Este livro que apresenta, em tom doutoral, toda uma série de estúpidos preconceitos sobre os «árabes», em geral, contém um célebre capítulo sobre os tabus sexuais utilizado na concepção das torturas aplicadas em Abu Ghraib.
As torturas perpetradas no Iraque não são simples casos isolados, como afirmou o governo Bush, mas fazem parte de um todo de uma estratégia de contra-insurgência. A única maneira de lhe pôr fim não é a condenação moral, mas sim a solução da situação política. No entanto Barack Obama continua a atrasar a retirada das forças estrangeiras que ocupam o Iraque.
Autor de sucesso, inventor da psicologia positiva, professor na Universidade da Pensilvânia e antigo presidente da American Psychological Association (Associação de Psicologia Americana -ndT), Martin Seligman supervisionou as experiências de tortura aplicadas aos prisioneiros em Guantanamo.
As experiências do professor Biderman
Foi com uma perspectiva muito diferente que o professor Albert D. Biderman, um psiquiatra da Força Aérea dos Estados Unidos, estudou, para a Rand Corporation, o condicionamento mental dos prisioneiros de guerra americanos na Coreia do Norte.
Muito antes de Mao e do comunismo, os chineses tinham desenvolvido sofisticados métodos destinados a quebrar a vontade de um prisioneiro e a incutir-lhe o desejo de fazer confissões. O seu uso durante a Guerra da Coreia deu alguns resultados. Prisioneiros de guerra americanos confessavam, com toda a convicção, à imprensa, crimes que, talvez, não tivessem cometido. Biderman apresentou as suas primeiras observações durante uma audiência no Senado, em 19 de junho de 1956, e, mais tarde, no ano seguinte, perante a Academia de Medicina de Nova Iorque (ver documentos disponíveis, “on-line”, através do “link” no final deste artigo). Biderman definiu 5 estados pelos quais passam os «sujeitos».
1. No início o preso nega-se a cooperar e fecha-se em silêncio.
2. Através de uma mistura de brutalidade e gentileza é possível fazê-lo passar a um segundo estado, em que ele é induzido a defender-se contra as acusações apresentadas contra si.
3. Posteriormente o prisioneiro começa a cooperar. Continua a proclamar a sua inocência, mas tenta agradar aos seus interrogadores reconhecendo que talvez tenha cometido algum erro involuntariamente, por acidente ou por descuido.
4. Ao transitar pela quarta fase o preso já está, completamente, degradado aos seus próprios olhos. Continua a negar as acusações de que é alvo, mas confessa a sua natureza criminosa.
5. No fim do processo, o prisioneiro admite ser o autor dos factos que se lhe imputam. Inclusive inventa detalhes, complementares, para se acusar a si mesmo e reclama a sua própria punição.
Biderman também examinou todas as técnicas usadas pelos torturadores chineses afim de manipular os prisioneiros: isolamento, monopolização da percepção sensorial, fadiga, ameaças, recompensas, demonstrações do poder dos guardas, degradação das condições de vida, formas de subjugação. A violência física tem um carácter secundário, a violência psicológica torna-se total e assume carácter permanente.
Nos trabalhos de Biderman a «lavagem cerebral» adquiriu uma dimensão mítica. Os militares dos EU começaram a temer que o inimigo pudesse usar contra os Estados Unidos os próprios soldados norte-americanos, já condicionados para dizer qualquer coisa e também, talvez, para fazer qualquer coisa. Eles conceberam, então, um programa de treino destinado aos pilotos de caça americanos, para garantir que se tornassem refractários a essa forma de tortura, e evitar que o inimigo possa “lavar- lhes o cérebro» se eles caírem prisioneiros.
Esta forma de treino (treinamento-Br) denomina-se SERE, um acrónimo para Survival, Evasion, Resistence and Escape(Sobrevivência, Evasão, Resistência e Fuga- ndT). No principio, este curso era ministrado na Escola das Américas mas, actualmente, foi estendido a outras categorias de pessoal militar e é lecionado em várias bases. Este tipo de treino foi implementado, além disso, em cada um dos exércitos que fazem parte da Otan.
A decisão do governo Bush, após a invasão do Afeganistão, foi a de usar estas técnicas para conseguir induzir os prisioneiros a fazer confissões que demonstrariam, à posteriori, o envolvimento do Afeganistão nos atentados do 11 de Setembro, validando assim a versão oficial sobre os atentados.
Iniciaram a construção de novas instalações na base naval dos EU em Guantanamo, e aí começaram a realizar experiências. A teoria de Albert Biderman completou-se com o contributo de um psicólogo civil, o professor Martin Seligman, conhecida personalidade que foi presidente da Associação Americana de Psicologia.
Seligman demonstrou que a teoria de Ivan Pavlov sobre os reflexos condicionados tinha um limite. Mete-se um cão numa jaula cujo piso está dividido em duas partes. De forma aleatória, enviam-se descargas eléctricas para um ou outro lado do solo. O animal salta de um lado para outro para se proteger. Até aqui não há nada de surpreendente. Posteriormente, os dois lados da jaula são electrificados.
O animal dá-se conta que nada pode fazer para escapar dos choques eléctricos, e que os seus esforços são inúteis. E acaba então por render-se. Deita-se no chão e cai num estado de indiferença que lhe permite suportar, passivamente, o sofrimento. Abre-se então a gaiola e … surpresa! O animal não foge. No estado psicológico em que se encontra, agora, nem sequer é capaz de fazer oposição. Permanece deitado, no chão eletrificado, suportando o sofrimento.
A Marinha de Guerra dos EU formou uma equipe médica de choque. Esta enviou o professor Seligman a Guantanamo. Conhecido pelos seus trabalhos sobre a depressão nervosa, Seligman é uma vedeta. Os seus livros sobre optimismo e a auto-confiança são best-sellers mundiais. E, foi ele que supervisionou as experiências com pessoas como se fossem meras cobaias. Alguns prisioneiros, ao ser submetidos a terríveis torturas, acabam afundando espontaneamente num estado psíquico que lhes permite suportar a dor, e que também os priva de toda a capacidade de resistência. Ao manipulá-los dessa forma eles são, rapidamente, levados para a fase 3 do processo Biderman.
Baseando-se também nos trabalhos de Biderman, os torturadores norte-americanos, sob a orientação do professor Martin Seligman, realizaram experiências com cada uma das técnicas coercivas e aperfeiçoaram-nas. Para isso, foi elaborado um protocolo científico baseado na medição das flutuações hormonais. Instalaram um laboratório médico na base de Guantanamo e recolhem amostras de saliva e sangue dos «cobaias», a intervalos regulares, para avaliar as suas reações. Os torturadores foram refinando os métodos de tortura. Por exemplo, no programa SERE monopolizava-se a percepção sensorial impedindo, mediante uma música stressante (estressante-B), que o prisioneiro pudesse dormir.
Em Guantanamo obtiveram-se resultados muito superiores com os gritos de bebés, reproduzidos durante dias seguidos. Anteriormente o poder dos guardas demonstrava- se por espancamento dos presos. Na base naval dos EUA em Guantanamo foi criada a Immediate Reaction Force (Força de Reacção Imediata-ndT). Trata-se de um grupo encarregado de castigar os prisioneiros. Quando esta unidade entra em acção os seus membros vestem couraças de protecção, ao estilo Robocop. Tiram o prisioneiro da sua jaula e metem-no numa cela de paredes acolchoadas, e recobertas com madeira compensada.
Eles projectam a «cobaia» contra as paredes, como se fossem quebrar-lhe os ossos, mas os estofos amortecem parcialmente os golpes, de forma que o prisioneiro fica tonto sem que se produzam fraturas.
Mas o principal «avanço» foi conseguido com o suplício da banheira [7]. Antigamente, a Santa Inquisição mergulhava a cabeça do prisioneiro num tanque cheio de água e tirava-a para fora, precisamente, antes que morresse afogado. A sensação de morte iminente provoca uma angústia extrema. Mas tratava-se de um processo primitivo e os acidentes eram frequentes. Actualmente, nem sequer é precisa uma tina cheia de água, basta deitar o prisioneiro numa banheira vazia. Simula-se então o afogamento vertendo água sobre sua cabeça, com a possibilidade de parar de imediato. Assim, agora, há menos acidentes.
Cada «sessão» é codificada para determinar os limites suportáveis. Vários assistentes medem a quantidade de água utilizada, o momento e a duração de afogamento. Quando isso ocorre, os assistentes recolhem o vómito, pesam e analisam-no para avaliar o gasto de energia e o cansaço provocado. Em resumo, como dizia o vice-diretor da CIA perante uma comissão do Congresso dos Estados Unidos: «Isto não tem nada a ver com o que fazia a Inquisição, com excepção da água» (sic).
As experiências dos médicos norte-americanos não foram feitas em segredo, como as do doutor Josef Mengele em Auschwitz, mas sim sob o controle directo e exclusivo da Casa Branca.
Era tudo relatado a um grupo encarregado de tomar as decisões, grupo que era formado por seis pessoas: Dick Cheney, Condoleezza Rice, Donald Rumsfeld, Colin Powell, John Ashcroft, e George Tenet. Este último atestou que havia participado numa dezena de reuniões deste grupo.
Mas o resultado destas experiências não foi satisfatório. Poucos «cobaias» ficaram receptivos. Conseguiu-se impor-lhes o que deviam confessar, mas o seu estado manteve-se instável e não foi possível apresentá-los em público, ante uma contraparte.
O caso mais conhecido é o do pseudo Khalil Sheikh Mohammed. Tratava-se de um indivíduo preso no Paquistão e acusado de ser um islamita koweitiano, apesar de ser evidente que este não era a referida pessoa.
Depois de um longo período de tortura, durante a qual ele foi submetido 183 vezes ao suplício da banheira, só durante o mês de março de 2003, o indivíduo disse ter organizado 31 diferentes ataques, através de todo o mundo, desde o atentado em 1993 em Nova York, contra o WTC, até aos do 11 de Setembro de 2001, passando pela explosão de uma bomba que destruiu um clube nocturno em Bali, e a decapitação do jornalista americano Daniel Pearl. O pseudo Sheikh Mohammed manteve as suas confissões perante uma comissão militar, mas advogados e juízes militares não puderam questioná-lo em público, porque se temia que, fora da sua jaula, se retractasse do que havia confessado.
Para esconder as actividades secretas dos médicos em Guantanamo, a Marinha de Guerra dos EU organizou viagens de imprensa a Guantanamo, para jornalistas amigos. O ensaísta francês Bernard Henry Levy prestou-se, assim, a desempenhar o papel de testemunha moral visitando o que quiseram mostrar-lhe. No seu livro American Vertigo, Bernard Henry Levy garante que o centro de detenção da base naval americana em Guantanamo não difere das demais prisões norte-americanas, e que os testemunhos sobre as torturas «foram muito inflacionados» (sic) [8] .
As experiências do professor Biderman
Foi com uma perspectiva muito diferente que o professor Albert D. Biderman, um psiquiatra da Força Aérea dos Estados Unidos, estudou, para a Rand Corporation, o condicionamento mental dos prisioneiros de guerra americanos na Coreia do Norte.
Muito antes de Mao e do comunismo, os chineses tinham desenvolvido sofisticados métodos destinados a quebrar a vontade de um prisioneiro e a incutir-lhe o desejo de fazer confissões. O seu uso durante a Guerra da Coreia deu alguns resultados. Prisioneiros de guerra americanos confessavam, com toda a convicção, à imprensa, crimes que, talvez, não tivessem cometido. Biderman apresentou as suas primeiras observações durante uma audiência no Senado, em 19 de junho de 1956, e, mais tarde, no ano seguinte, perante a Academia de Medicina de Nova Iorque (ver documentos disponíveis, “on-line”, através do “link” no final deste artigo). Biderman definiu 5 estados pelos quais passam os «sujeitos».
1. No início o preso nega-se a cooperar e fecha-se em silêncio.
2. Através de uma mistura de brutalidade e gentileza é possível fazê-lo passar a um segundo estado, em que ele é induzido a defender-se contra as acusações apresentadas contra si.
3. Posteriormente o prisioneiro começa a cooperar. Continua a proclamar a sua inocência, mas tenta agradar aos seus interrogadores reconhecendo que talvez tenha cometido algum erro involuntariamente, por acidente ou por descuido.
4. Ao transitar pela quarta fase o preso já está, completamente, degradado aos seus próprios olhos. Continua a negar as acusações de que é alvo, mas confessa a sua natureza criminosa.
5. No fim do processo, o prisioneiro admite ser o autor dos factos que se lhe imputam. Inclusive inventa detalhes, complementares, para se acusar a si mesmo e reclama a sua própria punição.
Biderman também examinou todas as técnicas usadas pelos torturadores chineses afim de manipular os prisioneiros: isolamento, monopolização da percepção sensorial, fadiga, ameaças, recompensas, demonstrações do poder dos guardas, degradação das condições de vida, formas de subjugação. A violência física tem um carácter secundário, a violência psicológica torna-se total e assume carácter permanente.
Nos trabalhos de Biderman a «lavagem cerebral» adquiriu uma dimensão mítica. Os militares dos EU começaram a temer que o inimigo pudesse usar contra os Estados Unidos os próprios soldados norte-americanos, já condicionados para dizer qualquer coisa e também, talvez, para fazer qualquer coisa. Eles conceberam, então, um programa de treino destinado aos pilotos de caça americanos, para garantir que se tornassem refractários a essa forma de tortura, e evitar que o inimigo possa “lavar- lhes o cérebro» se eles caírem prisioneiros.
Esta forma de treino (treinamento-Br) denomina-se SERE, um acrónimo para Survival, Evasion, Resistence and Escape(Sobrevivência, Evasão, Resistência e Fuga- ndT). No principio, este curso era ministrado na Escola das Américas mas, actualmente, foi estendido a outras categorias de pessoal militar e é lecionado em várias bases. Este tipo de treino foi implementado, além disso, em cada um dos exércitos que fazem parte da Otan.
A decisão do governo Bush, após a invasão do Afeganistão, foi a de usar estas técnicas para conseguir induzir os prisioneiros a fazer confissões que demonstrariam, à posteriori, o envolvimento do Afeganistão nos atentados do 11 de Setembro, validando assim a versão oficial sobre os atentados.
Iniciaram a construção de novas instalações na base naval dos EU em Guantanamo, e aí começaram a realizar experiências. A teoria de Albert Biderman completou-se com o contributo de um psicólogo civil, o professor Martin Seligman, conhecida personalidade que foi presidente da Associação Americana de Psicologia.
Seligman demonstrou que a teoria de Ivan Pavlov sobre os reflexos condicionados tinha um limite. Mete-se um cão numa jaula cujo piso está dividido em duas partes. De forma aleatória, enviam-se descargas eléctricas para um ou outro lado do solo. O animal salta de um lado para outro para se proteger. Até aqui não há nada de surpreendente. Posteriormente, os dois lados da jaula são electrificados.
O animal dá-se conta que nada pode fazer para escapar dos choques eléctricos, e que os seus esforços são inúteis. E acaba então por render-se. Deita-se no chão e cai num estado de indiferença que lhe permite suportar, passivamente, o sofrimento. Abre-se então a gaiola e … surpresa! O animal não foge. No estado psicológico em que se encontra, agora, nem sequer é capaz de fazer oposição. Permanece deitado, no chão eletrificado, suportando o sofrimento.
A Marinha de Guerra dos EU formou uma equipe médica de choque. Esta enviou o professor Seligman a Guantanamo. Conhecido pelos seus trabalhos sobre a depressão nervosa, Seligman é uma vedeta. Os seus livros sobre optimismo e a auto-confiança são best-sellers mundiais. E, foi ele que supervisionou as experiências com pessoas como se fossem meras cobaias. Alguns prisioneiros, ao ser submetidos a terríveis torturas, acabam afundando espontaneamente num estado psíquico que lhes permite suportar a dor, e que também os priva de toda a capacidade de resistência. Ao manipulá-los dessa forma eles são, rapidamente, levados para a fase 3 do processo Biderman.
Baseando-se também nos trabalhos de Biderman, os torturadores norte-americanos, sob a orientação do professor Martin Seligman, realizaram experiências com cada uma das técnicas coercivas e aperfeiçoaram-nas. Para isso, foi elaborado um protocolo científico baseado na medição das flutuações hormonais. Instalaram um laboratório médico na base de Guantanamo e recolhem amostras de saliva e sangue dos «cobaias», a intervalos regulares, para avaliar as suas reações. Os torturadores foram refinando os métodos de tortura. Por exemplo, no programa SERE monopolizava-se a percepção sensorial impedindo, mediante uma música stressante (estressante-B), que o prisioneiro pudesse dormir.
Em Guantanamo obtiveram-se resultados muito superiores com os gritos de bebés, reproduzidos durante dias seguidos. Anteriormente o poder dos guardas demonstrava- se por espancamento dos presos. Na base naval dos EUA em Guantanamo foi criada a Immediate Reaction Force (Força de Reacção Imediata-ndT). Trata-se de um grupo encarregado de castigar os prisioneiros. Quando esta unidade entra em acção os seus membros vestem couraças de protecção, ao estilo Robocop. Tiram o prisioneiro da sua jaula e metem-no numa cela de paredes acolchoadas, e recobertas com madeira compensada.
Eles projectam a «cobaia» contra as paredes, como se fossem quebrar-lhe os ossos, mas os estofos amortecem parcialmente os golpes, de forma que o prisioneiro fica tonto sem que se produzam fraturas.
Mas o principal «avanço» foi conseguido com o suplício da banheira [7]. Antigamente, a Santa Inquisição mergulhava a cabeça do prisioneiro num tanque cheio de água e tirava-a para fora, precisamente, antes que morresse afogado. A sensação de morte iminente provoca uma angústia extrema. Mas tratava-se de um processo primitivo e os acidentes eram frequentes. Actualmente, nem sequer é precisa uma tina cheia de água, basta deitar o prisioneiro numa banheira vazia. Simula-se então o afogamento vertendo água sobre sua cabeça, com a possibilidade de parar de imediato. Assim, agora, há menos acidentes.
Cada «sessão» é codificada para determinar os limites suportáveis. Vários assistentes medem a quantidade de água utilizada, o momento e a duração de afogamento. Quando isso ocorre, os assistentes recolhem o vómito, pesam e analisam-no para avaliar o gasto de energia e o cansaço provocado. Em resumo, como dizia o vice-diretor da CIA perante uma comissão do Congresso dos Estados Unidos: «Isto não tem nada a ver com o que fazia a Inquisição, com excepção da água» (sic).
As experiências dos médicos norte-americanos não foram feitas em segredo, como as do doutor Josef Mengele em Auschwitz, mas sim sob o controle directo e exclusivo da Casa Branca.
Era tudo relatado a um grupo encarregado de tomar as decisões, grupo que era formado por seis pessoas: Dick Cheney, Condoleezza Rice, Donald Rumsfeld, Colin Powell, John Ashcroft, e George Tenet. Este último atestou que havia participado numa dezena de reuniões deste grupo.
Mas o resultado destas experiências não foi satisfatório. Poucos «cobaias» ficaram receptivos. Conseguiu-se impor-lhes o que deviam confessar, mas o seu estado manteve-se instável e não foi possível apresentá-los em público, ante uma contraparte.
O caso mais conhecido é o do pseudo Khalil Sheikh Mohammed. Tratava-se de um indivíduo preso no Paquistão e acusado de ser um islamita koweitiano, apesar de ser evidente que este não era a referida pessoa.
Depois de um longo período de tortura, durante a qual ele foi submetido 183 vezes ao suplício da banheira, só durante o mês de março de 2003, o indivíduo disse ter organizado 31 diferentes ataques, através de todo o mundo, desde o atentado em 1993 em Nova York, contra o WTC, até aos do 11 de Setembro de 2001, passando pela explosão de uma bomba que destruiu um clube nocturno em Bali, e a decapitação do jornalista americano Daniel Pearl. O pseudo Sheikh Mohammed manteve as suas confissões perante uma comissão militar, mas advogados e juízes militares não puderam questioná-lo em público, porque se temia que, fora da sua jaula, se retractasse do que havia confessado.
Para esconder as actividades secretas dos médicos em Guantanamo, a Marinha de Guerra dos EU organizou viagens de imprensa a Guantanamo, para jornalistas amigos. O ensaísta francês Bernard Henry Levy prestou-se, assim, a desempenhar o papel de testemunha moral visitando o que quiseram mostrar-lhe. No seu livro American Vertigo, Bernard Henry Levy garante que o centro de detenção da base naval americana em Guantanamo não difere das demais prisões norte-americanas, e que os testemunhos sobre as torturas «foram muito inflacionados» (sic) [8] .
Uma das prisões flutuantes da Marinha dos EUA. Trata-se do navio USS Ashland. O porão achatado inferior foi modificado para receber jaulas com prisioneiros e dispô-las em vários níveis.
As prisões flutuantes da US Navy
Em suma, a administração Bush considerou que o número de indivíduos que poderiam ser «condicionados», em extremo, para crer que tinham cometido os atentados de 11 de setembro, era muito pequeno. Concluíram, então, que uma grande quantidade de prisioneiros deviam ser postos à prova para se seleccionar os mais receptivos.
Tendo em conta a controvérsia que se desenvolveu em torno de Guantanamo, e para garantir que fosse impossível qualquer ação legal contra, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos criou outras prisões secretas e colocou-as, fora de qualquer jurisdição, em águas internacionais.
17 barcos de fundo plano, como os destinados ao desembarque de tropas, foram convertidos em prisões flutuantes com jaulas como as de Guantanamo. Três dessas embarcações foram identificados pela Associação britânica Reprieve. Trata-se do USS Ashland, do USS Bataan e do USS Peleliu. Se forem somadas todas as pessoas que foram feitas prisioneiras, em diferentes zonas de conflito, ou sequestradas em qualquer lugar do mundo, e transferidas para esse conjunto de prisões durante os últimos 8 anos, parece que um total de 80 mil pessoas devem ter passado por esse sistema, entre as quais pelo menos um milhar poderão ter sido levadas até as últimas fases do processo Biderman.
A partir de tudo o que foi mencionado, o problema da administração Obama resume- se da seguinte forma: não é possível fechar Guantanamo sem que se saiba o que ali se fez. E, não será possível reconhecer o que ali se fez, sem admitir que todas as confissões são falsas e que foram inculcadas, de forma deliberada, através de tortura, com as consequências políticas que isso implica.
No final da II Guerra Mundial, o tribunal militar de Nuremberga funcionou em 12 juízos. Um deles foi dedicado a 23 médicos nazis. Sete de entre eles foram absolvidos, 9 foram condenados a penas de prisão e sete outros foram condenados à morte. Desde então há um Código de Ética que rege a medicina a nível mundial. Esse Código proíbe, precisamente, o que os médicos norte-americanos fizeram em Guantanamo, e nas outras prisões secretas.
Leia a resposta do professor Martin Seligman.
Thierry Meyssan
Tradução Alva
Fonte: Oriente Mídia
As prisões flutuantes da US Navy
Em suma, a administração Bush considerou que o número de indivíduos que poderiam ser «condicionados», em extremo, para crer que tinham cometido os atentados de 11 de setembro, era muito pequeno. Concluíram, então, que uma grande quantidade de prisioneiros deviam ser postos à prova para se seleccionar os mais receptivos.
Tendo em conta a controvérsia que se desenvolveu em torno de Guantanamo, e para garantir que fosse impossível qualquer ação legal contra, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos criou outras prisões secretas e colocou-as, fora de qualquer jurisdição, em águas internacionais.
17 barcos de fundo plano, como os destinados ao desembarque de tropas, foram convertidos em prisões flutuantes com jaulas como as de Guantanamo. Três dessas embarcações foram identificados pela Associação britânica Reprieve. Trata-se do USS Ashland, do USS Bataan e do USS Peleliu. Se forem somadas todas as pessoas que foram feitas prisioneiras, em diferentes zonas de conflito, ou sequestradas em qualquer lugar do mundo, e transferidas para esse conjunto de prisões durante os últimos 8 anos, parece que um total de 80 mil pessoas devem ter passado por esse sistema, entre as quais pelo menos um milhar poderão ter sido levadas até as últimas fases do processo Biderman.
A partir de tudo o que foi mencionado, o problema da administração Obama resume- se da seguinte forma: não é possível fechar Guantanamo sem que se saiba o que ali se fez. E, não será possível reconhecer o que ali se fez, sem admitir que todas as confissões são falsas e que foram inculcadas, de forma deliberada, através de tortura, com as consequências políticas que isso implica.
No final da II Guerra Mundial, o tribunal militar de Nuremberga funcionou em 12 juízos. Um deles foi dedicado a 23 médicos nazis. Sete de entre eles foram absolvidos, 9 foram condenados a penas de prisão e sete outros foram condenados à morte. Desde então há um Código de Ética que rege a medicina a nível mundial. Esse Código proíbe, precisamente, o que os médicos norte-americanos fizeram em Guantanamo, e nas outras prisões secretas.
Leia a resposta do professor Martin Seligman.
Thierry Meyssan
Tradução Alva
Fonte: Oriente Mídia
28 de maio de 2015
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