Em depoimento à Justiça Federal, Nestor Cerveró afirmou que sua ligação com o PT, e não com o PMDB, influenciou a sua indicação para a diretoria da área Internacional da Petrobras, no início do governo Lula.
A versão contraria depoimento do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da Lava Jato, afirmou que o PMDB era o beneficiário da propina paga por empreiteiras em troca de contratos com a diretoria Internacional.
Questionado pelo juiz Sergio Moro, Cerveró negou a influência do PMDB. “Eu assumi o cargo de diretor atendendo a um convite do presidente Lula e da ministra Dilma [Rousseff], de Minas e Energia, pelo meu conhecimento [técnico]. Quando assumi a diretoria já tinha 28 anos de companhia”, respondeu Cerveró.
Indagado se teve algum padrinho político na indicação ao posto, Cerveró cravou: “Do PMDB não”. O magistrado emendou: “E de algum outro [partido]?
O ex-dirigente da estatal apontou proximidade com o PT à época: “Havia uma ligação, porque eu trabalhei durante algum tempo com o… quer dizer, eu tinha uma atividade já dentro da Petrobras mais próxima ao Partido dos Trabalhadores, mas o que pesou foi meu conhecimento”.
DELCÍDIO AMARAL
No governo de FHC, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi diretor de Gás e Energia na Petrobras e tinha entre seus subordinados Cerveró, que era gerente executivo de Energia. Após a posse de Lula na Presidência em 2003, Cerveró foi promovido a diretor da área Internacional. No ano passado, Delcídio já negou ligação com a indicação do ex-diretor.
No depoimento, Cerveró também afirmou que os empresários Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e Júlio Camargo atuaram como lobistas em contrato de aluguel de navios-sonda para Petrobras, mas não apontou crimes ligados ao negócio.
Segundo acusação do Ministério Público Federal, houve pagamento de propina relativo a esse contrato com a participação de Soares e Camargo. Fernando Baiano é suspeito de ser o operador da propina para o PMDB.
MORADIA GRÁTIS
Cerveró diz que morou dois anos de graça em um apartamento em Ipanema, na zona sul do Rio, cujo aluguel mensal seria de R$ 18 mil, como um prêmio por ter ajudado o dono da offshore uruguaia Jolmey a encontrar o imóvel, que teve uma valorização excelente.
Ao ser questionado pelo juiz Sergio Moro se não tinha nenhum documento sobre a cessão do apartamento, Cerveró respondeu: “Eu não era um locatário normal. Fiz um acordo verbal”.
O apartamento duplex tem cinco quartos e outros dois para empregadas. Formalmente a Jolmey pertence ao uruguaio Oscar Algorta. Segundo a Procuradoria, Cerveró controlava a Jolmey e teria usado a offshore para ocultar a compra do apartamento. Na versão do ex-diretor de Petrobras, a Jolmey comprou um apartamento com o dinheiro de um “investidor uruguaio” de quem ele alegou não saber o nome.
Ele sustenta ter vivido no imóvel em troca de arcar somente com as despesas de IPTU, condomínio e parte da reforma do apartamento.
MINHA MULHER GOSTOU…
Durante o interrogatório, o ex-diretor cometeu um ato falho ao explicar como aconteceu a compra: “Minha mulher gostou do imóvel, eu também, nós vimos um potencial de otimização através do investimento que nós fizemos”, disse.
E, em seguida, corrigiu-se: “Nós, eu digo, que chamamos um construtor e uma arquiteta para reformar”.
O ex-diretor da Petrobras questionou duramente o juiz sobre as razões de estar preso há cinco meses, sem nenhuma prova, segundo ele.
Moro respondeu que não pretendia discutir a prisão e as provas na audiência: “O interrogado aqui é o senhor, não o juiz”.
08 de maio de 2015
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