"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

EU TINHA SONHOS

No princípio, bem no princípio mesmo, ser de esquerda implicava incondicional defesa de igualdade, fraternidade e liberdade. Muitas cabeças rolaram na luta por princípios tão nobres. Intelectuais aderiram em peso à causa. Até que, em vez da utopia, veio o totalitarismo. Tão bárbaro, desumano e cruel quanto o fascismo ou qualquer ditadura de direita.

Sob o tacão do "socialismo real", as primeiras vítimas foram a liberdade de expressão, os direitos humanos e o Estado de Direito. Na América Latina, a revolução cubana despontou como a esperança de uma nova esquerda. Não vingou. Mesmo no auge do regime, quando Fidel tentou garantir casa, comida, educação e saúde a todos, a ilha era uma masmorra para quem ousasse pensar diferente do ditador. Discordou? Censura, prisão, tortura, paredão...

É duro dizer, mas nunca vi ninguém dito de esquerda no Brasil sair em defesa dos direitos humanos de quem se insurgiu contra a ditadura cubana. Na Europa, George Orwell e Albert Camus romperam com "progressistas" porque não aceitaram o cabresto do pensamento único. Desse rompimento, nasceram dois clássicos da literatura mundial: A revolução dos bichos e 1984, ambos de Orwell.

Aqui, é comum ver intelectuais que se proclamam de esquerda engajados na justa defesa de causas gays, de mulheres e de religiões afrodescendentes. No entanto, esse mesmo pessoal encara com a maior naturalidade, como algo cultural até, a perseguição e o extermínio de homossexuais, comunistas, feministas e cristãos por jihadistas do miolo mole, gente que ainda não saiu das trevas da Idade Média.

São os mesmos "pragmáticos" que condenavam a ladroagem da direita, mas hoje condescendem com a corrupção da "esquerda". Agora, imagine se a direita tivesse descoberto antes que "o rouba, mas distribui" era muito mais negócio que "o rouba, mas faz"? Seria igualmente devastador para o Brasil. Mas nada se compara ao estelionato eleitoral do partido que chegou ao poder prometendo ética na política brasileira e, hoje, faz o companheiro Maluf - que no auge da carreira inspirou o verbo malufar - parecer um santo. Pois é. Como diria o Bob - não o da propina, o Esponja - ao amigo Lula Molusco: "Eu tinha sonhos".

15 de fevereiro de 2015
Plácido Fernandes Vieira, Correio Braziliense

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