"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 10 de janeiro de 2015

FRACASSO EM SE LIVRAR DO ESCÂNDALO DA PETROBRAS ASSOMBRA DILMA




Quando investigadores federais identificaram pela primeira vez sinais de possível corrupção na Petrobras, em 2009, Dilma Rousseff insistiu que a estatal de petróleo não tinha nada a esconder.
“A Petrobras hoje é uma empresa com nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes objetos de investimento”, disse Dilma, que na época era presidente do Conselho de Administração da companhia.

Hoje, está claro que sua confiança era equivocada. A Petrobras agora reconhece que pagou, por anos, sobrepreço em contratos.

O Ministério Público afirma que empreiteiras pagaram propina para vencer contratos da Petrobras, cobraram bilhões de dólares a mais e canalizaram uma parte do dinheiro para executivos corruptos, fornecedores e partidos políticos, incluindo o PT da presidente Dilma.

Uma análise da Reuters de uma investigação federal de 2009 sobre a Petrobras, e entrevistas com aqueles que a realizaram, indicou que Dilma perdeu oportunidades para estancar a sangria antes que gerasse uma crise tão grande que agora ameaça colocar a vagarosa economia do Brasil de volta à recessão.

ALEGAÇÕES DE DILMA

Dilma, que tomou posse de seu segundo mandato na quinta-feira, diz que não tinha conhecimento sobre a corrupção na estatal, e que tampouco participou dela, quando era presidente do Conselho da Petrobras de 2003 a 2010.
Líderes da oposição dizem acreditar na presidente e que é improvável que ela enfrente um processo de impeachment. E pesquisas de opinião revelam que a popularidade da presidente caiu apenas ligeiramente.

Mesmo assim, a presidente passa por um crescente escrutínio sobre se ela fez o suficiente para interromper a corrupção na maior companhia brasileira em faturamento. O escândalo assombra seu segundo mandato.

O escândalo contribuiu para uma queda de quase 50 por cento no valor das ações da Petrobras em seis meses e para a redução de mais de 80 por cento do valor de mercado da companhia desde o pico em 2008.

Dois ex-executivos da Petrobras e três dezenas de outros suspeitos de envolvimento no esquema foram indiciados pela Justiça.

PADRÕES CONTÁBEIS

Os padrões contábeis que foram outrora elogiados por Dilma estão agora em tal descrédito que auditores independentes têm se recusado a aprovar os resultados trimestrais da Petrobras pois acreditam que não têm condições de estimar o valor dos ativos da companhia sem uma investigação mais profunda.

Registros do Tribunal de Contas da União (TCU) mostram que investigadores detectaram sobrepreço generalizado em contratos, práticas de licitação irregulares e outros problemas em importantes projetos da Petrobras, incluindo a Refinaria do Nordeste (RNest), também conhecida como Abreu e Lima, maior investimento individual da história da estatal.

O TCU alertou o governo e a administração da estatal, incluindo Dilma.
Investigadores dizem que eles teriam descoberto ainda mais abusos se a Petrobras não tivesse se recusado a fornecer-lhes documentos-chave.

As constatações do TCU foram um sinal de aviso claro de problemas maiores e provavelmente de corrupção, de acordo com o engenheiro e advogado que trabalhou na auditoria, Saulo Puttini.
“Vimos numas contratações alguns contratos que tinham indícios de irregularidades graves”, disse ele à Reuters.

“Não estamos surpresos pelo que está saindo agora. Surpreendeu um pouco porque a gente começou a ver que a cadeia está toda contaminada, surpreendeu pelo tamanho, mas não pelo fato de existir um cartel.”

PROFUNDO ENVOLVIMENTO

Dilma disse em um comunicado de 22 de novembro que reagiu adequadamente ao relatório do TCU e destacou que o documento detalhou apenas uma parte das irregularidades que vieram à tona desde então. Um porta-voz da presidente referiu-se a essa declaração após recentes pedidos para comentar o assunto.

De acordo com um alto funcionário próximo à presidente da República, a decisão da Petrobras de não compartilhar mais informações com o TCU não foi de Dilma, mas de subordinados dela na companhia.

“Nunca passou pela sua mesa”, disse a fonte.
Supervisionar a Petrobras não era o único trabalho de Dilma, embora muitos digam que era sua verdadeira paixão.

Economista com um zelo para as questões energéticas, Dilma foi ministra de Minas e Energia de 2003 a 2005 e ministra-chefe da Casa Civil no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até 2010. Ela supervisionou a Petrobras durante uma época de ouro para a empresa, com muitos anos de preços das commodities em alta favorecendo um boom econômico no Brasil.

Dilma participava das reuniões mensais do Conselho, avaliava prioridades de investimento e colaborou para as mudanças da legislação do setor que tornaram a Petrobras sócia obrigatória em qualquer projeto no pré-sal.

“Ela estava profunda e emocionalmente envolvida na Petrobras”, disse o ex-diretor de gás e energia da estatal Ildo Sauer, que trabalhou em estreita colaboração com Dilma durante esses anos.

10 de janeiro de 2015
Jeb Blount e Anthony Boadle
Reuters/Yahoo

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