Itamaraty cobra explicações da Venezuela sobre acordo firmado com o MST por ministro bolivariano
A visita não oficial ao Brasil do ministro venezuelano Elías Jaua Milano, do Poder Popular das Comunas e Movimentos Sociais, sem comunicar o Itamaraty causou em Brasília a chamada “saia justa”.Jaua veio ao País para visitar a mulher, que estava internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e aproveitou a viagem para assinar um convênio com o Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra (MST), entre outras atividades. Considerando que o MST não tem personalidade jurídica constituída, recebendo dinheiro de ONGs abastecidas pelo governo federal, o tal acordo é no mínimo estranho
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, pediu, na quarta-feira (5), explicações a um representante da embaixada da Venezuela no Brasil.
De acordo com a assessoria do Itamaraty, Figueiredo convocou o encarregado de negócios venezuelano, Reinaldo Segóvia, para “manifestar a estranheza do governo brasileiro” com a visita de Jaua, que cumpriu agenda de trabalho sem notificar a diplomacia verde-loura.
No contraponto, a assessoria do MST disse que o convênio não foi “formalizado”. “A carta assinada foi apenas de intenções na área da cooperação agrícola, realizando intercâmbios entre camponeses do Brasil e da Venezuela para a troca de experiências agroecológicas. Mas ainda não tem nada concretizado sobre o assunto”, informaram.
Na diplomacia, a ausência de um aviso pode ser interpretada como ingerência em assuntos internos e prejudicial às relações dos dois países. Resta saber se Dilma Rousseff tomará alguma medida contra o governo do companheiro bolivariano Nicolás Maduro, pois a própria presidente usa a desculpa de não interferir em assuntos internos de outros países quando questionada sobre violação de direitos humanos, como acontece com frequência na Venezuela e em Cuba.
O ministério venezuelano comandado por Elías Jaua informa em seu site que acordo firmado com o MST tem como objetivo “incrementar a capacidade de intercâmbio de experiências de formação”.
De acordo com Jaua, o convênio serve “para fortalecer o que é fundamental em uma revolução socialista, que é a formação, a consciência e a organização do povo para defender o que conquistou e seguir avançando na construção de uma sociedade socialista”.
Além de encontro com o MST, o ministro venezuelano fechou convênios com farmacêuticos no Paraná e conheceu experiências de transporte público e gestão de resíduos da prefeitura de Curitiba.
Líder da oposição no Congresso Nacional, o deputado federal e senador eleito Ronaldo Caiado (DEM-GO) apresentou requerimento de convocação de Luiz Alberto Figueiredo.
O chefe do Itamaraty foi chamado a prestar esclarecimentos sobre o escândalo à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
“O governo tem a obrigação legal e constitucional de jamais permitir que sejam assinados acordos, por quem quer que seja, em que sejam violados os princípios da soberania e da não intervenção”, defendeu Caiado.
Um acordo entre a base aliada e a oposição transformou a convocação em convite, o que dispensa o ministro da obrigatoriedade de comparecer à Comissão. Contudo, Figueiredo já confirmou presença na audiência da comissão, marcada para 19 de novembro.
No Encontro Nacional da Indústria, realizado na quarta-feira, na capital dos brasileiros, Caiado classificou o convênio como “venezualização do Brasil” e foi aplaudido pela plateia de empresários.
Já o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi vaiado ao tentar defender o governo. “Se a Venezuela financia ou quer convênio com o MST, é um problema da Venezuela e do MST”, disse.
Na chegada ao Brasil, no dia 24 de outubro, pelo aeroporto internacional de Guarulhos, a babá da família de Jaua foi presa por policiais federais acusada de tráfico internacional de armas.
A babá, que segundo informações era uma agente do governo venezuelano, carregava na bagagem de mão um revólver pertencente ao ministro. A arma de fogo foi identificada quando a bagagem passou pelo Raio-X.
A família chegou ao aeroporto em um avião da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela. A babá foi liberada, e o ministro afirmou que a viagem com a arma havia sido “um erro”.
Segundo Jaua, a babá havia viajado ao Brasil para ajudá-lo nos cuidados com a esposa dele, que passava por um tratamento de saúde em um hospital em São Paulo.
06 de novembro de 2014
ucho.info
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