A presidente reeleita terá de mudar os rumos da economia, destravar os investimentos e enfrentar desdobramentos do petrolão no Congresso
A presidente Dilma Rousseff toma chimarrão depois da votação
do segundo turno, na manhã deste domingo (26), em Porto Alegre
(Paulo Whitaker/Reuters)
do segundo turno, na manhã deste domingo (26), em Porto Alegre
(Paulo Whitaker/Reuters)
"A democracia brasileira vai passar por um teste de estresse, com muita disputa, uma polarização bastante intensa. Tudo conspira para que presidente tenha grandes dificuldades no Congresso, na economia e no atendimento aos anseios da sociedade", afirma o professor Carlos Pereira, da Escola de Administração Pública da FGV.
O ponto mais sensível do futuro governo é a economia. Sob efeito de uma persistente pressão inflacionária – 6,75% nos últimos doze meses e longe do centro da meta de 4,5% – o novo governo terá pela frente o desafio de reverter o baixo crescimento econômico, melhorar a condução da política fiscal para diminuir a dívida pública, estancar a crise de desconfiança dos investidores e passar credibilidade suficiente para evitar que o Brasil perca o grau de investimento recebido em 2008.
“O mais importante problema que vamos enfrentar daqui para frente diz respeito à questão fiscal. Crescimento e a inflação são itens preocupantes, mas se não arrumar a área fiscal, as demais questão passam a não ser eficazes”, diz o doutor em economia Flávio Basílio, da Universidade de Brasília (UnB). “O fiscal também é importante para garantir o grau de investimento da economia brasileira, para auxiliar o Banco Central no combate à inflação e também acaba reduzindo os juros futuros, que é uma variável relevante para a decisão sobre os investimentos do país”, completa.
Ainda no campo econômico, a presidente reeleita terá mais bombas para desarmar: o inevitável reajuste no preço dos combustíveis e o risco de problemas na oferta de energia elétrica em 2015 caso persista a escassez de chuvas. Por temer impactos no desempenho eleitoral da presidente Dilma, o governo postergou para depois do segundo turno o reajuste no preço da gasolina, desidratando o caixa da Petrobras, já que a estatal tem de importar parte do combustível que vende por não produzir nem refinar toda a gasolina exigida pelos consumidores brasileiros. Como os preços do mercado doméstico estão defasados em relação aos do mercado internacional, o prejuízo recaiu sobre o caixa da petroleira.
“Existem dúvidas se ela vai ser capaz de reequilibrar as contas públicas, porque o governo foi negligente com a macroeconômica em todo o primeiro mandato. Não temos crescimento econômico e estamos em recessão técnica. Somado a isso, o escândalo da Petrobras e o depoimento do doleiro Youssef, que mencionou diretamente tanto ela quanto o ex-presidente Lula, pode colocar grande parte do governo em suspeição e fragilizar naturalmente o novo mandato da presidente Dilma", diz Carlos Pereira, da FGV.
No setor elétrico, contribuem para a formação de mais um campo minado o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, o aumento da necessidade das térmicas, que têm energia mais cara, e a inescapável dependência das chuvas. No mais, Dilma terá de rever as nomeações políticas – boa parte das indicações na Eletrobras e em subsidiárias são feitas pelo PMDB – e provavelmente substituir o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, enfraquecido após ter sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como uma das autoridades que receberam propina do petrolão.
Além do impacto na imagem da Petrobras, a maior empresa pública brasileira, os mais emblemáticos efeitos do esquema de corrupção na estatal deverão começar a ser sentidos no próximo ano e também entram na lista de tempestades a serem administradas pela presidente Dilma Rousseff. Com a esperada homologação da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, os nomes de deputados e senadores citados tanto por ele quanto pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa deverão vir a público, comprometendo próceres do PT, PMDB e PP e abrindo espaço para o esfacelamento da base aliada da petista reeleita. A própria Dilma e o antecessor no cargo, Luiz Inácio Lula da Silva, também poderão ter sérios problemas com o Judiciário no desenrolar do caso.
A diferença é que, a partir do próximo ano, as artimanhas do marqueteiro João Santana poderão não ser suficientes.
01 de novembro de 2014
Laryssa Borges, de Brasília
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