"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

RESULTADO DO 1o. TURNO É MUITO RUIM PARA DILMA





 


 A presidente Dilma Rousseff (PT) fez uma vantagem muito menor do que a esperada sobre Aécio Neves (PSDB), cerca de 8 milhões de votos. Em 2010, ela abriu quase o dobro disso, foram 12 milhões a mais do que o tucano José Serra.
Por sua vez, Marina Silva (PSB) praticamente voltou ao seu patamar de quatro anos atrás. O que ela teve a mais veio de Pernambuco, herdado de Eduardo Campos.

A missão de Dilma é a mais difícil de um candidato a presidente do PT desde 1998. Em quantidade de votos, sua vantagem equivale à de Lula em 2006, mas com uma diferença fundamental: o ex-presidente ficara a 1,4 ponto de se eleger no primeiro turno. Dilma está a 9 pontos da reeleição. Faltam-lhe 9 milhões de votos.
 
A petista vai precisar dos pouco mais de 2 milhões de votos de Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) e pelo menos 7 milhões dos 22 milhões de votos de Marina. Ou seja, Dilma precisa de 32%, ou 1 a cada 3 eleitores da candidata do PSB. Na última simulação de segundo turno, a petista conseguia 20%, 1 de 5.
 
MELHOR DO QUE SERRA
 
Já Aécio, que chegou a convocar uma entrevista coletiva para dizer que não renunciaria à candidatura em setembro, teve um desempenho melhor do que o de Serra em 2010. O eleitor mudancista migrou em massa para ele nos metros finais da corrida eleitoral quando percebeu que Marina não tinha mais chances.
 
Por pelo menos um mês, Marina surfou sozinha a maior onda de opinião pública em muitos anos no Brasil, mas caiu da prancha e acabou na areia. Como o movimento que a carregou, sua candidatura sucumbiu ao peso das próprias contradições.
 
As mesmas razões que levaram a comunidade de negócios a flertar com a campanha de Marina à Presidência fizeram ela fraquejar nas pesquisas de intenção de voto quando a disputa esquentou.
 
Empresários e operadores do mercado financeiro enxergaram em Marina mais do que uma candidata aberta ao diálogo e disposta a ouvir opiniões divergentes – diferentemente da irredutibilidade de Dilma Rousseff (PT). Com ou sem razão, projetaram a imagem de alguém que, por falta de um partido, precisaria de mais suporte de terceiros e se tornaria assim permeável a influências externas. É como se imaginassem que poderiam tutelá-la.
 
VOLUBILIDADE
 
O problema foi que a opinião pública pensou a mesma coisa, com sinais trocados. Quem se deixa tutelar não é um líder confiável. A partir das idas e vindas em relação ao seu programa de governo, colou na imagem pública de Marina a ideia de que ela é volúvel. Era a favor do casamento gay, depois não era mais. Saiu do PT para o PV, depois para a Rede e, por falta de opção, entrou no PSB. Tudo em um espaço de tempo muito curto.
 
Não houve um evento catastrófico, mas a sucessão de pequenos desgastes. Sua candidatura não implodiu, foi desconstruída a marretadas, a cada inserção de 30 segundos dos adversários na TV. Fixaram-lhe a imagem de uma candidata sem estrutura partidária, sem equipe e sem firmeza de propósito.
 
A campanha de Marina era a sobreposição mal costurada do estafe herdado de Eduardo Campos com o séquito da Rede. Seu comando mudou de estratégia no meio da corrida. Primeiro pintou-a de vítima. No fim, tentou vesti-la de guerreira. Deu no que deu. Nem que tivesse sido Aécio a se vestir de amarelo no debate da Globo, a queda de Marina não teria sido interrompida nem seus ex-futuros-eleitores teriam deixado de cair no colo do tucano. Depois que a avalanche começa, não há nada que consiga pará-la.
 
O embate de Dilma com Aécio nas próximas três semanas será uma reprise do filme que o eleitor cansou de ver em 2006 e 2010: Norte/Nordeste contra Sudeste/Centro-Oeste, interior contra capitais, pobres contra ricos, menos escolarizados contra mais escolarizados. O final é incerto, mas o enredo será o mesmo de sempre: uma mistura de farsa e suspense com momentos de terror.
 
06 de outubro de 2014
José Roberto de Toledo
Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário