"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 12 de outubro de 2014

CRISES DE 2015 JÁ COMEÇAM A SER RESOLVIDAS NESTE MÊS DE OUTUBRO

           

 
Com o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, o ano novo político começará. Aí já estaremos em um 2015 curto ou longo, a depender da lua de mel entre opinião pública, imprensa e Congresso com o novo governo e sua agenda.
 
Qualquer que seja o presidente, o Brasil sai fraturado de uma campanha eleitoral que foi violenta em seu primeiro turno e que promete ser agressiva em sua conclusão. E esse presidente terá de desempenhar papel conciliador pouco visto nos últimos anos na política nacional.

Além da conciliação com aliados e da manutenção de diálogo mínimo com a oposição, a agenda política do governo será repleta de desafios. E ser capaz de estender a lua de mel típica do primeiro ano de uma nova Presidência. Tarefa difícil para os nomes disponíveis.

O primeiro desafio será o de construir ou reconstruir uma base política. Nada fácil para os candidatos. O presidencialismo de coalizão, baseado na entrega de ministérios para os partidos, não funciona bem. Não há uma fórmula fiável ou alternativa.

BASE ALIADA

O Congresso que emergirá das urnas será, como sempre, fragmentado em múltiplos partidos, com lideranças informais e diferenças regionais. A presença no condomínio do poder ainda é a fórmula mínima de proteção para qualquer governo. Mas a sucessão de escândalos mostra que isso tem de funcionar com base em projetos e programas, e não para servir ao clientelismo de sempre.

Terá de convencer a base política e o Congresso para tomar medidas duras de ajuste, visando recompor a nossa ameaçada credibilidade fiscal e econômica. O Congresso é ágil e eficiente para fazer bondades com os cofres públicos. A motivação é quase nula para fazer cortes e sacrifícios. Dependemos de crises para avançar e cortar na carne.

O terceiro desafio é o de administrar as sequelas das denúncias de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que podem devastar algumas lideranças políticas atuais. Imagina-se que, em 2015, dezenas de processos contra políticos e parlamentares cheguem ao STF com potencial para os mensalões do PSDB, do PT e do DEM parecerem furtos de pirulitos na cantina do colégio.

Com o escândalo da Petrobras, podemos ter outras investigações a caminho. O Securities Exchange Office, regulador do mercado acionário norte-americano, está de olho nos acontecimentos no Brasil. A Petrobras é negociada na bolsa norte-americana, e qualquer malfeito tem desdobramentos jurídicos por lá. Um problema adicional de credibilidade a ser gerenciado pelo próximo governo.

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

As investigações no Brasil vão atingir duramente as empresas fornecedoras da Petrobras que podem fazer delações e revelações sobre o submundo das operações com a gigante estatal e as relações com os financiamentos a partidos e políticos.

O tema causa arrepios em setores do empresariado brasileiro, pois o juiz Sergio Moro não quer apenas investigar políticos. Ele sabe que suas ações podem resultar na destruição de um modelo opaco e, muitas vezes, ilegal, de relacionamento entre o setor privado e as esferas governamentais.
E que existe desde os tempos do regime militar. Não é trivial e pode ser algo parecido com a operação Mãos Limpas, que promoveu um terremoto político na Itália.

Os desafios e reflexões aqui expostos deveriam resultar em um debate sério sobre a reforma política. Algo que deveríamos ter feito de forma organizada tempos atrás. Felizmente, alguns aperfeiçoamentos têm ocorrido de forma espasmódica nas últimas décadas. A crise que vem por aí poderá ser mais uma oportunidade para avançarmos institucionalmente.

(transcrito de O Tempo)

12 de outubro de 2014
Murillo de Aragão

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