"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A OCUPAÇÃO DA REITORIA DA USP


 

Inicialmente um texto de Reinaldo Azevedo:

Sintusp: Os democratas de Paulo Arantes e Chico de Oliveira gritam: "Viva o Hezbollah". Veja você mesmo.

Como vocês sabem, Tio Rei está disposto a ressuscitar Amaral Neto, o Repórter. Ele mostrava a belezura da nossa pororoca (antecipava o jornalismo que Lula quer fazer no Brasil), e eu demonstro a pororoca de besteiras dos esquerdopatas, que acaba indo parar, de forma liofilizada, no jornalismo dito sério. Dei destaque aqui, como sabem, a uma conversa entre três tenores da esquerdopatia uspiana - Francisco de Oliveira, Paulo Arantes e Laymert Garcia dos Santos - na Folha de domingo, pressurosamente glosada pelo jornalista, sem qualquer intenção crítica. Falavam sobre os novos amanhãs que saíam da invasão da reitoria, de que o Sintusp, o sindicato dos funcionários da USP, foi o grande promotor. No Estadão, Luiz Renato Martins, um radical de segundo time, também demonstrava como a solidariedade e o humanismo estavam nas bases daquele movimento - e ele dá destaque, inclusive, aos companheiros funcionários.

Vovò Diet, uma leitora desta blog, manda um vídeo de uma reunião do Sintusp em que os valentes debatem a guerra entre Israel e o Hezbollah. Moacyr Aizenstein, um professor da USP, protesta contra um folheto distribuído pelo Sintusp que prega a destruição do Estado de Israel. É impedido de falar pela malta, que o faz calar-se. Toma, então, a palavra Claudionor Brandão, diretor do sindicato. É um que aparece, em outro vídeo que já postei aqui, dando safanões em estudantes da Poli - os estudantes aos quais ele deveria servir (por isso ele é um "servidor"). O homem explica, então, que, como "marxistas revolucionários", eles são a favor da destruição de "todos os estados burgueses", inclusive, claro, o de Israel. Mais: diz que a luta que se trava lá não é religiosa, mas de classes.
Não era o bastante. Um certo Marco Antonio, da Liga Bolchevique Internacionalista, toma a palavra para demonstrar que o apoio ao Hezbollah era o apoio, em suma, ao começo do fim do capitalismo. De fato, diz ele, apoiar o Hezbollhah era apoiar "os companheiros da Volks".

Vejam o vídeo. Esses caras têm o apoio de Paulo Arantes, Francisco de Oliveira, Laymert Garcia dos Santos, Luiz Renato Martins e, por que não?, de uma parte da mídia brasileira, que reproduz de forma servil tudo o que eles pensam. Não acreditem no que digo deles. Acreditem no que eles dizem de si mesmos. Laura Capriglione, repórter da Folha, foi à reitoria e não percebeu nada disso. Viu um monte de estudantes sem qualquer vinculação política, em busca do novo. Ou, como disse Uirá Machado, também da Folha, de "algo de novo no ar, embora ainda não seja possível dizer exatamente o que (...)". É claro que eles disseram o quê: a reunião terminou com gritos de "Viva o Hezbollah, Viva o Hezbollah".
Eis o endereço:

Alguns leitores reclamam que não estão conseguindo acessar o vídeo em que os bravos do Sintusp pedem o fim do estado burguês de Israel. No meu micro, basta clicar duas vezes sobre a imagem. Mas tudo bem. O endereço é este: 

http://www.youtube.com/watch?v=RnljOrCf1b0&eurl=

O nome do vídeo (conforme está no original): "Debate do SINTUSP"

***
Terminado o texto do Reinaldo, mostro detalhes sobre quem são os grupelhos comunistas citados por Reinaldo Azevedo no artigo reproduzido acima: 

O que é a Liga Bolchevique Internacionalista (LBI)?

A Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) foi constituída, a partir de uma cisão, em 1992, na então Organização Quarta Internacional (OQI), atual Partido da Causa Operária, hoje registrado perante a Justiça Eleitoral. Em julho de 1996 vinculou-se, como seção nacional, à Corrente Bolchevique por la Cuarta Internacional (CBQI), constituída na Argentina, que passou a defender a palavra-de-ordem de luta "por um governo operário e camponês", em contraposição à consigna apregoada peloPartido Obrero (PO) argentino e pelo Partido da Causa Operária (PCO), do Brasil, de luta "por um governo dos trabalhadores", considerada "não revolucionária".

CBQI luta, com seções nacionais no Brasil, Argentina (além do Partido Obrero, também a chamada Fração Gamboa, do Partido Operário Revolucionário) e Chile, pela construção da Federação Socialista da América Latina. Em um panfleto datado de 12 de outubro de 2000 (tão logo foi deflagrada a Segunda Intifada, em setembro de 2000), a LBI deu vivas "à Intifada das massas palestinas rumo à destruição do Estado nazi-sionista de Israel! Abaixo os acordos de paz sustentados pela traidora OLP! Pela reconstrução do Partido Revolucionário do Proletariado Palestino, Árabe e Judeu!".

Mais recentemente, em janeiro de 2005, em Porto Alegre, por ocasião da realização do Fórum Social Mundial, a Liga Bolchevique Internacionalistamanteve reuniões com a Unión Socialista de los Trabajadores, da Argentina, e com a Tendência Revolucionária Operária e Camponesa (TROC), constituída por um grupo de militantes que rompeu com o Partido dos Trabalhadores em julho de 2004. Essas reuniões foram denominadas de pré-Conferência de Construção do Partido Operário Revolucionário Troskista, mais um centro internacional irradiador do trotskismo.

Nessa pré-Conferência foram aprovadas as bases programáticas desse novo Centro. 

É interessante assinalar apenas duas dessas bases programáticas: "Defesa das organizações que se enfrentam com o imperialismo e pela derrota e expulsão das tropas anglo-ianques no Iraque, Afeganistão, bem como pela destruição do Estado nazi-sionista de Israel, enclave do imperialismo no Oriente Médio"; "Denúncia dos governos de centro-esquerda burguesa como Chávez, Tabaré Vasquez, Lula e Kirchner na América Latina, por serem marionetes do imperialismo".

Liga Bolchevique Internacionalista integra o P-Sol. Veja e comprove emhttp://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4209 .

Leiam também um trecho de matéria publicada em 23 de junho de 2007 pelo Estado de São Paulo ("Após 50 dias, alunos deixam reitoria"):

"Os estudantes saíram de cabeça para cima. Tiveram uma vitória significativa e mostraram para toda a sociedade a importância da universidade pública", disse o professor de História Oswaldo Coggiola (ver Observação ao final desta matéria), que esteve na ocupação durante a tarde. "Foi um dos movimentos mais bonitos que eu já vi na USP", afirmou Istvan Jancso, do Instituto de Estudos Brasileiros, um dos docentes do grupo de negociadores.

Quem é Oswaldo Coggiola?

O "professor de História, Oswaldo Coggiola", acima citado, é Osvaldo Luis Angel Coggiola, argentino radicado no Brasil, membro do Comitê Central do Partido da Causa Operária e integrante da direção do Comitê de Ligação pela Reconstrução da Quarta Internacional (CLR/QI). Coggiola é referido, com freqüência, em documentos da esquerda trotskista, como "representante do Partido Obrero no Brasil", do qual é também membro dirigente.

O Partido Obrero, da Argentina, tem por vezes se aliado à "Oposição Trotskista Internacional", cujo componente fundamental é a organização italiana "Proposta", que integra a Refundação Comunista (grupo que se desprendeu do Partido Comunista Italiano quando do desmoronamento do socialismo real, a partir de Nov 1989).

O CLR/QI, um dos grupos coordenadores do trotskismo internacional, realizou em Buenos Aires, no período de 20 a 22 Abr 2004, um Congresso Mundial. A CLR/QI agrupa seções nacionais em 12 países, entre os quais o PARTIDO OBRERO (PO) argentino, o PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT) uruguaio e o PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA, brasileiro, tornado legal pela Justiça Eleitoral.

O Partido da Causa Operária também integra o P-Sol. Veja e comprove:http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4209.

***
Como tudo terminou:

O Globo - 26 jun 2007

USP: computadores e geladeira roubados
Funcionários voltam ao trabalho e se revoltam com danos da ocupação
Luís Kawaguti*

SÃO PAULO. O primeiro dia de trabalho na reitoria da Universidade de São Paulo (USP) após 51 dias ocupada por estudantes foi de limpeza e de gestos de indignação dos funcionários. Computadores foram roubados, tiveram a memória apagada e peças subtraídas. Objetos pessoais e até uma geladeira sumiram. Pelo menos uma sala foi completamente destruída a golpes de enxada por alunos que deixaram o local na sexta-feira.

Os funcionários foram orientados a fazer boletins de ocorrência individuais nas delegacias para registrar furtos de objetos pessoais. A primeira atividade deles ontem foi uma reunião, às 9h, com a reitora, Suely Vilela. Eles receberam formulários para registrar danos materiais e de documentos, além de instruções para o preenchimento. O balanço detalhado dos prejuízos deve ficar pronto em cerca de 20 dias.

- Chegamos para trabalhar e encontramos nossa sala destruída. O trabalho de 12 anos foi todo perdido, e, por isso, ficamos revoltados. Estava tudo muito sujo, cadeiras e mesas quebradas e as cortinas, rasgadas. Do nosso setor, sumiram uma copiadora que ainda estava na caixa, dois laptops e uma geladeira - disse Angelina Gerhard, secretária da Pró-Reitoria de Graduação, departamento responsável pela coordenação dos cursos de graduação da USP.
 Débora Martinez, diretora do mesmo departamento, afirmou que os 12 computadores do setor tiveram as memórias apagadas e componentes eletrônicos subtraídos:

- Até CDs com cópias dos documentos foram roubados. Perdemos dados desde 2002. Mas podemos recuperar as informações.

No sábado, o corpo de segurança da USP havia informado que a reitoria contava com 150 computadores, mas apenas 80 deles foram encontrados.

* do Diário de S.Paulo

A desocupação da Reitoria da USP deixou seqüelas.

Os diversos grupos trotskistas que invadiram a Reitoria e lá permaneceram por mais de 50 dias - P/SOL. PCO. PSTU e LER/QI (Liga Estratégia Revolucionária/Quarta Internacional) - não chegaram a um acordo e se acusam mutuamente pelo "fracasso" da ocupação.

Qualquer semelhança com o que ocorreu na USP agora, em 2014, é pura coincidência...

17 de setembro de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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