"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

GRAU DE TRABALHO

Maio tem pior desempenho na criação de empregos desde 1992, e mau desempenho evidente da economia sugere que a situação se agravará

O surpreendente descompasso do mercado de trabalho começa a ser corrigido, mas não de maneira favorável. Registra-se, desde 2012, um descolamento entre o baixo crescimento da economia, de um lado, e os altos níveis de emprego, de outro. Nos últimos meses, porém, surgiram evidências de piora na geração de vagas.

São ruins os dados recém-divulgados pelo Ministério do Trabalho. Foram criados 58,8 mil empregos formais em maio, o pior saldo para o mês desde 1992.

Estão na indústria, como sempre, as maiores dificuldades: fecharam-se 28,5 mil postos de trabalho. O setor de serviços, provavelmente impulsionado por contratações temporárias ligadas à Copa do Mundo, teve desempenho positivo, com abertura de 38,8 mil vagas.

Essa é, porém, apenas uma parte do quadro, pois as informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) se referem aos empregos formais, contabilizados pelas empresas. Outras fontes revelam sinais ambíguos.

Um exemplo é a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (PME), realizada em uma amostra de domicílios em seis capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador). O levantamento mede a geração de vagas formais e informais, a taxa de desemprego e a renda do trabalho.

Pela PME, a perda de dinamismo também é patente; há vários meses a ocupação não cresce. Por outro lado, a taxa de desemprego permanece no menor nível da história (4,9%) --sobretudo porque muitas pessoas têm desistido de pleitear um posto de trabalho.

Maior acesso ao ensino superior --que atrasa a busca por emprego--, desalento pelas dificuldades do país e menor expansão populacional são alguns dos motivos.

Quanto ao crescimento da renda, seu ritmo atual, cerca de 3% ao ano acima da inflação, é bem inferior ao de períodos recentes e insuficiente para sustentar fortes altas no consumo. O contexto, vale lembrar, é de elevado endividamento das famílias.

Neste ano, o IBGE passou a divulgar uma nova pesquisa, a Pnad Contínua, abrangendo 3.464 municípios. De acordo com essa métrica, o desempenho é melhor, com crescimento da população ocupada até o primeiro trimestre (o último dado disponível).

O mercado de trabalho, hoje, está em algum ponto entre morno e frio, a depender do observador.

Em qualquer caso, o mau desempenho evidente em outros indicadores --queda da confiança de empresas e consumidores, redução das intenções de investimento, estoques excessivos na indústria-- sugere que a situação dos empregos continuará a esfriar.


27 de junho de 2014
Editorial Folha de SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário