"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 12 de abril de 2014

O TERCEIRO EQUÍVOCO

Para Gabrielli, o assunto morre aí: Dilma não tinha informação e a compra da Pasadena foi correta

Então, ficamos assim: de todas as pessoas que aprovaram a compra da refinaria de Pasadena, só Dilma Rousseff acha que foi um mau negócio. Mas ela não teve culpa nenhuma nisso, a julgar pelo que disse José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras à época da compra, em 2006. Mudando versões anteriores, Gabrielli admitiu nesta semana que Dilma, então presidente do Conselho de Administração da estatal, não tinha todas as informações quando aprovou o negócio.

Não seria estranho isso? No mínimo uma falha administrativa e funcional da diretoria da empresa e da própria conselheira?

Não, nada de mais, garante Gabrielli, pois o negócio era bom na época.

Ficamos assim, portanto: quando considerou a compra boa, em 2006, Dilma estava mal informada. Quando tomou conhecimento de novos termos do contrato e passou a achar que o negócio havia sido uma fria, em 2008, Dilma continuava equivocada, pois o negócio havia sido bom, garante Gabrielli.

Nessa versão, a presidente enganou-se duas vezes: na primeira, aprovou um negócio sem informações suficientes; na segunda, desaprovou e condenou abertamente um negócio bom.

Para Gabrielli, o assunto morre aí: Dilma não tinha informação e a compra da Pasadena foi correta.

Não é por nada, não, mas parece que a presidente teria algo a acrescentar. Se fosse tão simples como diz o ex-presidente da Petrobras, por que razão Dilma, já como presidente da República, teria tomado a iniciativa de divulgar nota oficial dizendo que, se tivesse todas as informações na época, não teria aprovado a compra?

Teria sido o terceiro equívoco da presidente? Ou falta dizer alguma coisa?

SÓ?

Na semana passada, o favor que o deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, recebera do amigo Youssef, o doleiro preso, era de uns 200 mil reais — o preço de um aluguel de jatinho no percurso ida e volta Londrina-João Pessoa.

Aí apareceram e-mails e grampos mostrando que as relações entre os dois tinham mais negócios do que um simples voo na faixa.

O ex-presidente Lula disse que Vargas precisa se explicar bem, para que o PT não pague o pato. E acrescentou esperar que tudo não passe de um aluguel de jatinho.

Ressalvou que o jatinho já seria um erro. Quer dizer que ser for isso, é só isso, um erro?

FORA DA LEI

O senador Gim Argello, aspirante a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União, responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal por peculato, lavagem de dinheiro, crime contra a Lei de Licitações, crime eleitoral e corrupção ativa.

Por isso, auditores e procuradores do TCU lançaram uma campanha para barrar a indicação. Argello respondeu que processo não é sentença e que ele não tem qualquer condenação.

Auditores e procuradores alegaram que ministro do TCU precisa ter reputação ilibada.

O leitor imaginaria que, nessa altura, Argello defendesse sua situação. Mas ele preferiu outro caminho: disse que a exigência de reputação ilibada não está na lei. Assim, qual o problema?

Parece que muitos senadores acham que tem problema, sim.

PORTUGUÊS

Por que a gente lê, estuda e até decora Camões? Para aprender bem a nossa língua — e isso significa ler e entender, pensar, sentir e se expressar, por escrito e oralmente.

Logo, colocar um verso de Camões numa prova do terceiro ano do ensino médio e pedir que o aluno interprete, comente, descubra os sentidos e sentimentos ali expostos, está muito certo.

Se a prova pedisse apenas que o aluno soubesse a sequência de “Alma minha gentil, que te partiste...” — não seria uma boa pergunta, só decoreba, mas, enfim, Camões.

Agora, qual o sentido de pedir que os alunos saibam de cor o verso de Valesca Popozuda “é só tiro, porrada e bomba”? Foi para criar polêmica na imprensa sensacionalista, disse o professor de filosofia que aplicou a prova numa escola pública de Taguatinga.

E os alunos aprenderam o que mais?

TUDO BEM

O FMI, o Banco Mundial, consultorias locais e internacionais, agências de classificação de risco — está todo mundo dizendo que a economia brasileira enfrenta um impasse de crescimento baixo, inflação elevada e tudo isso com juros na lua.

A inflação se aproxima dos 6,5% anuais e as pesquisas mostram que a maioria ampla dos brasileiros acha que a carestia incomoda e que vai piorar. E acha também que o desemprego vai aumentar.

Estão todos enganados, responde o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. O Brasil está entre os melhores do mundo.

 
12 de abril de 2014
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo

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