"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de abril de 2014

O LADO PODRE

 

Dia 3 de fevereiro passado, o então obscuro vice-presidente da Câmara conquistou súbita notoriedade nacional. Conseguiu essa façanha ao levantar o braço esquerdo e exibir punho cerrado em plena cerimônia de abertura do ano legislativo.
 
Teve a desarrazoada ideia de cometer o gesto na presença de Joaquim Barbosa, presidente de um dos poderes da República. É de crer que tenha agido assim de caso pensado. Não nos esqueçamos que, pelo ordenamento de nossa Constituição, o posto ocupado pelo doutor Barbosa é equiparado à presidência da República.
 
Naquele momento, o deputado Vargas não estava na sala de visitas de sua casa. Encontrava-se em solenidade oficial, mirado pelas câmeras de tevê. Desacatou a figura máxima do Judiciário brasileiro, personagem hierarquicamente superior a ele. Se fez o que fez, foi porque quis.
 
Crédito: Folhapress
Crédito: Folhapress
 
Seu primitivismo incomodou muita gente. Escandalizou gregos, persas, troianos e cartagineses. Fez lembrar a dança da pizza, obra daquela parlamentar que a poeira do tempo se encarregou de varrer. Foi daquelas atitudes que projetam seu autor à estratosfera da popularidade para, em seguida, atirá-lo rapidinho ao lixo da humilhação e do esquecimento.
 
Mais que ofensivo, seu gesto foi suicidário. Nestes tempos em que o gigante adormecido anda ensaiando entreabrir um olho, não convém mostrar a face torpe do Congresso. O Poder Legislativo anda já bastante alquebrado. Não interessa a nenhum parlamentar degradar ainda mais sua imagem junto à população. A última coisa que nossos parlamentares desejam é acentuar a a face escabrosa que já projetam.
 
Com a arrogância que só a ignorância permite, o deputado Vargas cutucou a onça com vara curta. Agasalhado na certeza da impunidade, o parlamentar foi dormir feliz como criança depois da mamadeira. O sono do herói não durou muito. Dois meses depois do desaforo, o mundo desabou sobre sua cabeça.
 
Sua íntima ligação com um doleiro vai levá-lo à ruína. A não ser que abandone seu mandato antes, será destituído por seus pares. E quer saber de uma coisa? Não escaparia nem que a votação ainda fosse secreta. A nenhum de seus colegas interessa atrair a atenção do distinto público para o lado podre daquela Casa.
 
O bumerangue voltou e atingiu em cheio o lançador bisonho. Quem tem telhado de vidro…
 
13 de abril de 2014
José Horta Manzano

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