Artigos - Economia
A sociedade humana é imperfeita; seria tolice quebrar a banca para tentar transformar o círculo em quadrado. O socialismo, como religião que é, quer fazer exatamente essa transformação.
O capitalismo, como sistema de liberdade econômica, corre o risco de ser derrubado. Esse é um fato que muitas pessoas não estão a par, pois ele está no domínio da economia, assunto ao qual está além da compreensão da maioria dos cidadãos. A liberdade econômica e o livre mercado estão em declínio porque novamente o socialismo está avançando. “O socialismo é a palavra de ordem e o lema dos nossos dias”, escreveu Ludwig von Mises em sua clássica obra sobre o socialismo (1). “A ideia socialista domina o espírito moderno. As massas aprovam-na. Ela expressa os pensamentos e os sentimentos de todos; [ela] estabeleceu sua marca sobre a nossa era.”
As forças que ameaçam o mercado são muitas. Quem se atreve a pará-las? Os defensores do livre mercado parecem estar sobrepujados, embora a causa possa ser eloquentemente defendida. Os leitores tirariam bom proveito se vissem o clássico vídeo “If I Wanted America to Fail” [NT.: Se eu quisesse que a América fracassasse] do site freemarketamerica.com (2).
O vídeo faz um resumo das políticas invertidas que prejudicam o bom funcionamento do nosso sistema de mercado. E como a América depende da liberdade para prosperar, a limitação gradual da liberdade econômica sugere um perigo ainda pior, isto é, o fim da liberdade política. “Seu país está em perigo”, disse o autor e pesquisador neozelandês Trevor Loudon em uma conferência recente para o America’s Survival (3). “Pequenos grupos marxistas estão (atualmente) comandando seu país”, explicou.
Os sindicatos foram tomados por marxistas ortodoxos nos anos 1990 e isso afetou a trajetória de um dos dois grandes partidos, de modo que isso acabou por direcionar o país para um caminho mais marxista. Dia após dia, momento após momento, os freios e contrapesos dos Pais Fundadores estão sendo quebrados. Um sistema socialista altamente centralizado está envolvendo o velho sistema de livre mercado. A bancarrota nacional parece ser parte integrante do plano deles.
“O marxismo é uma religião”, escreveu o economista Joseph Schumpeter na obra Capitalism Socialism and Democracy. “Para o fiel, ele se apresenta primeiro como um sistema de fins derradeiros que incorporam o sentido da vida e servem como padrão absoluto para julgar eventos e ações; depois, ele se apresenta como um guia para aqueles cujos fins implicam um plano de salvação e indicação do mal do qual a humanidade [...] será salva”. Para o marxista, esse mal é a liberdade econômica; a liberdade de comprar e vender, de traçar seu próprio curso na economia. O malfeitor na ideologia marxista é o homem rico, pois ele não é tido como benfeitor da civilização, mas sim como um malfeitor cuja grande riqueza deve ser suprimida.
As grandes batalhas políticas do nosso tempo podem ser vistas como disputas entre socialismo e capitalismo, com este último sendo incapaz de lutar consistentemente em seu próprio favor. “Em princípio, não há oposição ao socialismo”, escreveu Mises há mais de 80 anos. E assim parece ser até hoje, pois o regime de regulamentações e controle econômico parece amontoar novas leis e novas taxas a cada década, conforme emergem novas políticas e novos cenários. Para se ter ideia, para qualquer medida anticapitalista revogada sob Reagan ou Tatcher, três vieram em seu lugar. “A palavra ‘capitalismo’ expressa, na nossa era, a soma de todos os males”, escreveu Mises. “Mesmo os oponentes do socialismo são dominados por ideias socialistas”.
Em setembro, a revista The New Criterion publicou o texto “A sociedade interesseira” de Kenneth Minogue (4), que explora alguns aspectos desse mesmo dilema. Refazer o mundo à imagem da utopia socialista é muito caro, sugeriu Minogue. “E politicamente, não há dúvida sobre qual rumo tomarão os gastos. Eles se elevarão desenfreadamente. As classes vulneráveis se multiplicarão e as demandas por dinheiro público aumentarão para que seja possível lidar com problemas que as gerações anteriores adequavam ao âmbito das exigências familiares”. Minogue acrescenta que muitos dos estados ricos do Ocidente estão sendo levados a “uma condição de falência crônica”.
A solução deveria ser óbvia, pois ela é oferecida tanto por Mises quanto por Minogue. A sociedade humana é imperfeita; seria tolice quebrar a banca para tentar transformar o círculo em quadrado. O socialismo, como religião que é, quer fazer exatamente essa transformação.
Quantia nenhuma em gastos estatais corrigirá as imperfeições da sociedade ou fará dela uma utopia concretizada. O máximo que pode acontecer é um governo tão grande, e as pessoas tão dependentes dele, que a própria liberdade será posta em perigo. Tudo que a despesa descontrolada pode fazer é nos levar à falência até estarmos escravizados por uma ditadura política. Levando em conta a quantidade de cadáveres atribuídos ao socialismo e a expectativa da debacle universal, Minogue concluiu que “a inevitável conclusão que me ocorre é deixar as economias se abrirem [i. e. correrem livremente], seja o quanto for que desaprovemos suas consequências, [ainda assim] é uma opção muito melhor”.
O capitalismo pode ser salvo – e apenas continuará a existir – se nossa civilização colocar de lado a noção de progresso como a eliminação dos problemas do mundo. Como seres humanos deveríamos reconhecer a absurdidade de tal perfeccionismo. “Parece-me”, escreveu Minogue, “que nossa preocupação com os defeitos da nossa civilização é uma preocupação permanente e perigosa que nos faz recorrer à autoridade civil para lidar com o que poderíamos ser persuadidos a entender como imperfeições sociais”. Deixe a generosidade individual tomar o lugar do estado de bem-estar social que mira uma arma na cabeça de todos os contribuintes em nome daquilo que Minogue chama de “classes vulneráveis”. E o mais importante: não devemos, conforme avisa Minogue, “começar a conceber as sociedades modernas como associações de incompetentes e defeituosos”. Não é apenas uma questão de o que se pode fazer, é também uma questão de o que nos tornaremos se estivermos sob tal sistema.
Notas:
O capitalismo pode ser salvo – e apenas continuará a existir – se nossa civilização colocar de lado a noção de progresso como a eliminação dos problemas do mundo. Como seres humanos deveríamos reconhecer a absurdidade de tal perfeccionismo. “Parece-me”, escreveu Minogue, “que nossa preocupação com os defeitos da nossa civilização é uma preocupação permanente e perigosa que nos faz recorrer à autoridade civil para lidar com o que poderíamos ser persuadidos a entender como imperfeições sociais”. Deixe a generosidade individual tomar o lugar do estado de bem-estar social que mira uma arma na cabeça de todos os contribuintes em nome daquilo que Minogue chama de “classes vulneráveis”. E o mais importante: não devemos, conforme avisa Minogue, “começar a conceber as sociedades modernas como associações de incompetentes e defeituosos”. Não é apenas uma questão de o que se pode fazer, é também uma questão de o que nos tornaremos se estivermos sob tal sistema.
Notas:
21 de outubro de 2013
Jeffrey Nyquist
Publicado no Financial Sense.
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