"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

TV CHINESA EMITE EM OCIDENTE CONFISSÕES FORÇADAS DE TORTURADOS



“Nova normalidade” de Xi Jinping: confissões forçadas
após tortura emitidas como 'educativas' pela TV


Confissões forçadas obtidas após dias de tortura física e psicológica passaram a integrar a “nova normalidade” da China de Xi Jinping e são ‘atrações’ das emissões da TV oficial chinesa para Ocidente, escreve Libération de Paris.

Simon Cheng, um ex-funcionário do consulado britânico em Hong Kong, foi um dos mais recentes e deploráveis exemplos.

Ele foi exposto pelo canal CGTN (China Global Television Network), da estatal chinesa CCTV, que atinge dezenas de milhões de telespectadores em todo o mundo num clip intitulado “Simon Cheng, que vergonha”.

Simon, de 29 anos, foi preso durante uma viagem à China continental acusado pela polícia chinesa de apoiar o movimento democrático em Hong Kong.

Ele de fato só podia repetir como verdade o que a polícia já o tinha previamente instruído ou acusado.

A autocrítica parecia ter desaparecido com a modernização da China.

Mas desde que Xi Jinping assumiu o poder em 2013, a sádica prática maoísta foi retomada e as imagens de presos implorando perdão aos telespectadores tornaram-se comuns.



Simon Cheng, de Hong Kong, foi preso, torturado
e teve que fazer autocrítica na TV continental. Captura


A ONG Safeguard Defenders entrou com queixa junto a reguladores de transmissão no Canadá e nos EUA pela retransmissão desses “entretenimentos” perversos tidos como ‘educativos’.


“Pelo menos 52 autocríticas forçadas foram transmitidas na TV desde 2013. A CCTV obteve sua licença no Canadá sob a condição de que o canal cumprisse as regulamentações locais. Reunimos mais de 100 páginas de testemunhos e fitas provando que esse não é o caso”, disse Peter Dahlin, da Suécia.
O diretor da Safeguard Defenders enquanto trabalhava na China para uma ONG que ajudava defensores dos direitos humanos, foi preso e detido por três semanas em 2016.


“Eu era mantido em uma prisão secreta, em confinamento solitário, onde fui interrogado”, contou a ‘Libération’. “Um dia recebi uma folha de papel com perguntas e respostas para serem decoradas”.

No dia seguinte, foi obrigado a se sentar frente a jornalistas da CCTV cercado por doze policiais.

“Foi como uma peça. Eles nos davam instruções, ‘falar mais devagar’, ‘usar um tom diferente’ e nos faziam recomeçar até obter o que queriam. Demorei cinco vezes para dizer: ‘Eu magoei os sentimentos do povo chinês’”.


Peter Humphrey foi amarrado a uma cadeira
em uma gaiola de metal para gravar uma autocrítica.


Em 2018, o ex-correspondente da Reuters Peter Humphrey denunciou à OFCOM, a agência reguladora da televisão britânica, que foi amarrado a uma cadeira em uma gaiola de metal para gravar uma autocrítica enquanto estava sendo mantido sem julgamento em 2013.

Cédric Alviani, da Repórteres Sem Fronteiras, lembrou então que “uma mídia que exibe os detidos como bestas de festa e divulga suas confissões ditadas pelo Estado não faz jornalismo”.

De acordo com Peter Dahlin, “imediatamente após a entrevista coletiva de Humphrey, uma reunião de emergência foi organizada por Pequim na sede do grupo. Durou todo o fim de semana. Então as transmissões pararam no exterior, até o caso Simon Cheng”.

A entrevista da BBC em que Simon Cheng detalhou os abusos que sofreu, fez a polícia transmitir editada em inglês a filmagem que ela guardava.

Uma possível retirada da licença de uma TV chinesa no Reino Unido teria consequências importantes para Pequim.

Xi Jinping, comanda uma vasta ofensiva do Partido Comunista Chinês para inundar o planeta com sua guerra da informação.



Editor e dono de livraria foi sequestrado, levado ao continente,
torturado, constrangido a autocritica televisionada e condenado


O comunismo pequinês já investiu mais de € 1 bilhão em Londres para criar uma plataforma de disparo dessas informações mirando a Europa.

Várias autocríticas de tipo maoísta já foram publicadas pelos três canais da CGTN chinesa em diversas línguas ocidentais.

Em 2016, o canal de língua francesa transmitiu duas confissões forçadas de Gui Minhai, um editor de Hong Kong.

Gui foi sequestrado em 2015 pela polícia chinesa na Tailândia para impedi-lo de publicar livros criticando o Partido Comunista, foi torturado e ainda é mantido incomunicável, embora também tem nacionalidade sueca. 

Simon Cheng exposto pelo canal CGTN. CLIQUE NA FOTO




29 de outubro de 2020
Luis Dudaur
Escritor, jornalista, conferencistas de política internacional

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