A Quarta-Feira de Cinzas começou com suspense nos mercados de capitais, assombrados pelo temor de turbulências parecidas com as da semana passada
A Quarta-Feira de Cinzas começou com suspense nos mercados de capitais, assombrados pelo temor de turbulências parecidas com as da semana passada, quando a Bolsa de Nova York anulou os ganhos acumulados no ano. Em todo o mundo preços de ações foram arrastados para baixo. Houve reação no começo desta semana, mas as preocupações voltaram a dominar o ambiente, ontem de manhã, enquanto se esperavam os números da inflação americana de janeiro. A informação seria divulgada em Washington às 11h30 de Brasília. O resultado saiu pior que o previsto pelos economistas consultados pelos meios de informação econômica e financeira. O efeito imediato foi uma nova rodada de quedas nos índices futuros de Nova York e nas cotações das bolsas de Londres, Frankfurt e Paris.
Novas notícias – sobre os estoques e preços do petróleo, entre outras – logo afetaram positivamente os negócios nas bolsas. A de São Paulo acompanhou a melhora, mas as condições de instabilidade permaneceram. Às 14h10 de Brasília o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caía ligeiramente, prenunciando uma série de novas oscilações. Na Europa, os mercados fechariam em alta.
Muito mais importante que o balanço final do dia, no entanto, é a persistência de um ambiente de insegurança quanto às condições dos mercados financeiros e de capitais nos próximos meses. Essa incerteza é especialmente relevante para o Brasil, hoje muito mais vulnerável do que há alguns anos a choques provenientes do exterior.
O susto da Quarta-Feira de Cinzas foi causado pelo anúncio de uma inflação de 0,5%, em janeiro, nos Estados Unidos. As previsões indicavam 0,4% de alta dos preços ao consumidor. O núcleo, calculado com a exclusão de preços de alimentos e de energia, subiu 0,3%. Especialistas haviam projetado 0,2%. Analistas e operadores do mercado já haviam sido surpreendidos, algumas semanas antes, por um aumento do salário real maior que o estimado. Agora, os novos dados da inflação reforçam os argumentos de quem aposta numa alta de juros mais forte, neste ano, que a anteriormente prevista com base na estratégia da autoridade monetária.
A meta do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já foi atingida e até ligeiramente superada, com a inflação anual em 2,1%, podem argumentar os mais assustados. O argumento é um tanto simplista, porque uma avaliação segura depende de uma observação mais extensa e detalhada. Mas há, de toda forma, alguma justificação para o temor de um aperto monetário mais forte, com quatro aumentos de juros, por exemplo, em lugar dos três previstos para este ano até há pouco tempo.
É impossível dizer quantos novos sustos poderão ocorrer. O novo presidente do Fed, Jerome Powell, prometeu vigilância para prevenir ameaças à estabilidade do sistema financeiro, mas essa declaração nada informa sobre uma possível mudança de ritmo da “normalização monetária”, isto é, do aperto progressivo das condições de financiamento.
Com maior ou menor velocidade, o aperto ocorrerá. Empresas e países administrados com alguma competência estarão preparados para as novas condições. As perspectivas do Brasil são muito menos tranquilizadoras. O risco de novo rebaixamento da nota de crédito do País foi admitido à Agência Estado por uma representante da Fitch, a diretora de ratings soberanos para a América Latina, Shelly Shetty.
A decisão, segundo ela, poderá ser motivada por um retrocesso na agenda da reforma da Previdência e, portanto, na agenda de correção das contas públicas. Isso dependerá, ressalvou, da avaliação de um comitê, mas a advertência é clara. Se a Fitch seguir esse caminho, o Brasil, em sua escala, ficará três níveis abaixo do grau de investimento, posição já ocupada na classificação da Standard & Poor’s. Mesmo sem rebaixamento, economias em condições fiscais muito precárias, como o Brasil, serão especialmente vulneráveis a um aperto no quadro financeiro internacional. Ajustes e reformas dependem também dos congressistas, pouco afeitos, no caso brasileiro, a cuidar do interesse geral do País.
16 de fevereiro de 2018
Editorial O Estadão
A Quarta-Feira de Cinzas começou com suspense nos mercados de capitais, assombrados pelo temor de turbulências parecidas com as da semana passada, quando a Bolsa de Nova York anulou os ganhos acumulados no ano. Em todo o mundo preços de ações foram arrastados para baixo. Houve reação no começo desta semana, mas as preocupações voltaram a dominar o ambiente, ontem de manhã, enquanto se esperavam os números da inflação americana de janeiro. A informação seria divulgada em Washington às 11h30 de Brasília. O resultado saiu pior que o previsto pelos economistas consultados pelos meios de informação econômica e financeira. O efeito imediato foi uma nova rodada de quedas nos índices futuros de Nova York e nas cotações das bolsas de Londres, Frankfurt e Paris.
Novas notícias – sobre os estoques e preços do petróleo, entre outras – logo afetaram positivamente os negócios nas bolsas. A de São Paulo acompanhou a melhora, mas as condições de instabilidade permaneceram. Às 14h10 de Brasília o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caía ligeiramente, prenunciando uma série de novas oscilações. Na Europa, os mercados fechariam em alta.
Muito mais importante que o balanço final do dia, no entanto, é a persistência de um ambiente de insegurança quanto às condições dos mercados financeiros e de capitais nos próximos meses. Essa incerteza é especialmente relevante para o Brasil, hoje muito mais vulnerável do que há alguns anos a choques provenientes do exterior.
O susto da Quarta-Feira de Cinzas foi causado pelo anúncio de uma inflação de 0,5%, em janeiro, nos Estados Unidos. As previsões indicavam 0,4% de alta dos preços ao consumidor. O núcleo, calculado com a exclusão de preços de alimentos e de energia, subiu 0,3%. Especialistas haviam projetado 0,2%. Analistas e operadores do mercado já haviam sido surpreendidos, algumas semanas antes, por um aumento do salário real maior que o estimado. Agora, os novos dados da inflação reforçam os argumentos de quem aposta numa alta de juros mais forte, neste ano, que a anteriormente prevista com base na estratégia da autoridade monetária.
A meta do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já foi atingida e até ligeiramente superada, com a inflação anual em 2,1%, podem argumentar os mais assustados. O argumento é um tanto simplista, porque uma avaliação segura depende de uma observação mais extensa e detalhada. Mas há, de toda forma, alguma justificação para o temor de um aperto monetário mais forte, com quatro aumentos de juros, por exemplo, em lugar dos três previstos para este ano até há pouco tempo.
É impossível dizer quantos novos sustos poderão ocorrer. O novo presidente do Fed, Jerome Powell, prometeu vigilância para prevenir ameaças à estabilidade do sistema financeiro, mas essa declaração nada informa sobre uma possível mudança de ritmo da “normalização monetária”, isto é, do aperto progressivo das condições de financiamento.
Com maior ou menor velocidade, o aperto ocorrerá. Empresas e países administrados com alguma competência estarão preparados para as novas condições. As perspectivas do Brasil são muito menos tranquilizadoras. O risco de novo rebaixamento da nota de crédito do País foi admitido à Agência Estado por uma representante da Fitch, a diretora de ratings soberanos para a América Latina, Shelly Shetty.
A decisão, segundo ela, poderá ser motivada por um retrocesso na agenda da reforma da Previdência e, portanto, na agenda de correção das contas públicas. Isso dependerá, ressalvou, da avaliação de um comitê, mas a advertência é clara. Se a Fitch seguir esse caminho, o Brasil, em sua escala, ficará três níveis abaixo do grau de investimento, posição já ocupada na classificação da Standard & Poor’s. Mesmo sem rebaixamento, economias em condições fiscais muito precárias, como o Brasil, serão especialmente vulneráveis a um aperto no quadro financeiro internacional. Ajustes e reformas dependem também dos congressistas, pouco afeitos, no caso brasileiro, a cuidar do interesse geral do País.
16 de fevereiro de 2018
Editorial O Estadão
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