Representante máximo da quarta geração da dinastia de empreiteiros que se iniciou em 1923 com seu bisavô, o engenheiro Emilio Odebrecht, especialista em concreto armado, Marcelo Odebrecht é um pobre menino rico, prepotente e soberbo. Na verdade, ele simplesmente herdou o império consolidado por seu avô Norberto Odebrecht e pelo pai Emilio Alves Odebrecht, que cometeu o mau passo de corromper o próprio filho, ao instruí-lo sobre tenebrosas transações com agentes públicos e formação de cartéis empresariais para acumular enriquecimento ilícito.
Quando Emílio Alves Odebrecht resolveu deixar a direção do grupo em 2002, seu filho Marcelo, que também se formara em Engenharia, já tinha 34 anos, mas o patriarca preferiu passar a presidência ao executivo Pedro Novis, contra a vontade de seu único herdeiro, que não aceitou essa decisão e passou a lutar contra ela.
UM GRAVE ERRO – Inconformado, Marcelo tanto fez que em 2009, no final do segundo governo Lula, acabou convencendo o pai a colocá-lo na presidência e transferir Novis para integrar o Conselho de Administração da holding. Foi o maior erro que pai e filho cometeram.
Até então, as negociações de bastidores com o governo Lula continuavam a ser fechadas pessoalmente por Emílio Odebrecht, a quem Lula chamava de “chefe”. O novo presidente Pedro Novis sabia de tudo, acompanhava as manobras escusas, mas não se metia na “política” dos negócios.
Ávido pelo poder, Marcelo Odebrecht resolveu assumir a empresa “au grand complet”, como dizem os franceses. Colocou o pai para escanteio e passou a se comunicar pessoalmente com o presidente Lula e depois com a sucessora Dilma Rousseff, fechando acordos, irrigando o caixa dois do PT e pagando altas propinas.
UM OTÁRIO – O pobre menino rico Marcelo Odebrecht julgava-se muito esperto, mas na verdade era um tremendo otário, em meios a espertalhões de todo tipo. Por isso, jamais lhe passara pela cabeça que o pai, ao nomear um executivo para presidir o grupo, estivesse tentando protegê-lo e afastá-lo desses negócios ilegais e imorais.
Na madrugada de 19 de junho de 2015, quando foi acordado pela equipe da Polícia Federal, Marcelo Odebrecht não imaginava que seria preso e passaria 30 meses atrás das grades. Achava que logo seria solto. Em Curitiba, gritava e ofendia seus advogados. Quando o pai Emilio foi visitá-lo, fez o mesmo, exigindo que ele mandasse libertá-lo imediatamente.
Na mesma época, convocado a depor na CPI da Petrobras, Marcelo Odebrecht esnobou os parlamentares, criticou e ironizou as delações premiadas. A ficha demorava a cair, ele continuava pensando que logo seria libertado.
CRISE NA FAMÍLIA – A prepotência de Marcelo foi levando o pai ao desespero. Emilio Odebrecht se sentia culpado por tudo, sabia que não devia ter aceitado colocar o filho na direção da empresa. E o tempo foi passando. Ricardo Pessoa, da UTC, e Otavio Azevedo, da Andrade Gutierrez, fizeram delações e foram soltos. A situação de Marcelo e da Odebrecht se complicava, mas ele seguia irredutível.
Sem alternativa, Emilio Odebrecht procurou a força-tarefa e se ofereceu para ficar preso no lugar do filho. Responderam que era impossível, porque não havia provas contra ele. A solução foi o próprio Emilio prestar depoimento e obrigar 71 executivos da Odebrecht a fazerem delação premiada.
Somente assim Marcelo Odebrecht aceitou colaborar com a força-tarefa, mas sempre a contragosto, e continuou brigado com o pai.
FORA DA CADEIA – Nesta terça-feira, dia 19, Marcelo Odebrecht deixa a cadeia em Curitiba e segue para São Paulo num jatinho particular, para cumprir mais dois anos e meio em prisão domiciliar, alojado na sua mansão em São Paulo, numa área de três quilômetros quadrados, avaliada em R$ 30 milhões. Em 2020, a pena passa automaticamente para o regime semiaberto. Neste caso, ele terá a obrigação de permanecer em casa à noite, nos fins de semana e feriados.
Portanto, o pobre menino rico terá muito tempo livre para pensar sobre os erros cometidos. Por conta das desavenças, a esposa de Marcelo e as três filhas deixaram de festejar o Natal na casa do avô Emilio, como sempre fizeram. O mesmo vai ocorrer este ano, porque o patriarca, com o coração despedaçado, decidiu viajar com a mulher, ao saber que o filho não quer se encontrar com eles.
É uma família destroçada pela ganância e pela ilusão de poder. Sua trajetória comprova a tese de que dinheiro não traz felicidade. Tudo o que Emilio Odebrecht desejava era abraçar e beijar o filho, a nora e as três netas neste Natal. Mas este prazer o dinheiro não pode comprar.
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P. S. 1 – Marcelo Odebrecht é um filho ingrato, não há a menor dúvida. Merecia continuar mofando na cadeia. Mas a vida tem dessas coisas.
P. S. 1 – Marcelo Odebrecht é um filho ingrato, não há a menor dúvida. Merecia continuar mofando na cadeia. Mas a vida tem dessas coisas.
P.S. 2 – Pessoalmente tenho desprezo pelo drama da famiglia Odebrecht. Mas gostaria de ter conhecido o patriarca Norberto Odebrecht, que dedicou o final de sua vida ao mais importante projeto social já realizado no Brasil – o programa Baixo Sul da Bahia, que estava melhorando a qualidade de vida de 11 municípios carentes. Com a morte do Dr. Norberto em 2014, e com a crise da empreiteira, o projeto também já deve ter sido sepultado. Ou será que na famiglia Odebrecht alguém liga para esta extraordinária obra do Dr. Norberto? (C.N.)
19 de dezembro de 2017
Carlos Newton
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