"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de agosto de 2017

SE VOCÊ ACHA QUE NÃO EXISTEM POLÍTICOS BRILHANTES, LEMBRE-SE DE WALDIR PIRES

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Waldir Pires, um político verdadeiramente exemplar
Para quem não acredita que no Brasil possa ter um político honesto, segue um belo artigo recentemente publicado pelo ex-deputado federal paranaense Hélio Duque, que de 1978 a 1991 foi um dos destaques da chamada “Ala dos Autênticos” do PMDB, liderada por Ulysses Guimarães.
Hélio Duque é doutor em Ciências da Área Econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), professor universitário e autor de vários livros sobre a economia brasileira, além de articulista de importantes jornais e sites.
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O BRASILEIRO WALDIR PIRES
Hélio Duque
Nesse tempo de mediocridades triunfantes, de carência de vocações públicas, reencontrar em Salvador o velho amigo Waldir Pires foi testemunhar uma parte decente da história política brasileira. Aos 91 anos, lúcido e ativo na defesa da democracia, ele sentencia: “A política é a única forma de produzir mudanças na sociedade. O governo democrático não é o governo da vontade pessoal do governante. Não há falta de inteligência nos dias atuais. Há falta de caráter. A civilização não pode ser a corrupção e o caos, a ansiedade e a opressão. A dignidade humana, os direitos existenciais, os valores da liberdade, devem ser o balizamento na sociedade democrática. É o ser humano a medida e o fim da sociedade humana.”.
Ao longo de uma vida de vitórias e derrotas, nunca abdicou do fato de ser um homem público. Diferentemente dos tempos atuais, nunca usou o poder para servir-se, mas de ser um servidor na atividade pública.
LEIS MODERNAS – No Legislativo, como deputado federal, foi um formulador de leis modernas. No Executivo, em diferentes administrações, imprimiu seriedade e competência no enfrentamento dos desafios que se apresentavam.
Nos idos de abril de 1964, era Consultor-Geral da República, no deposto governo de João Goulart, integrando a primeira lista de cassados pelo novo regime. Exilado na França, tornou-se professor da Faculdade de Direito da Dijon e do Instituto de Altos Estudos da América Latina na Universidade de Paris, entre 1966 e 1970.
Na década de 70, retornou ao Brasil e, após 1979, com a aprovação da anistia, recuperou os direitos políticos, filiando-se ao MDB. Pela Bahia, em 1982, disputaria o Senado e foi derrotado.
MINISTRO EXEMPLAR – Com a redemocratização e a eleição do seu velho amigo Tancredo Neves, seria nomeado Ministro da Previdência. Herdou situação de déficits, decorrentes das chamadas contas previdenciárias “Azul” e “Vermelha”.
Nelas o sistema financeiro privado pagava as aposentadorias e benefícios, mesmo não tendo provisionamento, e se creditavam na cobrança dos juros de mercado, elevando o déficit previdenciário. Era a conta “Vermelha”. Já a conta “Azul” garantia aos bancos o recolhimento dos tributos previdenciários, com prazo de 90 dias para repassar ao governo o total arrecadado. Em realidade de alta inflação, os bancos lucravam duplamente.
Ao eliminar o privilégio, o ministro Waldir Pires garantiu longa sobrevida à Previdência Social. Foi uma gestão exitosa.
VITÓRIA HISTÓRICA – Em 1986, candidato ao governo da Bahia, obteve histórica vitória, derrotando poderosas forças da hereditária oligarquia baiana. Em janeiro de 1989 (eu estava em Salvador), durante almoço no Palácio de Ondina, residência oficial do governador, o assunto abordado era a eleição direta para a presidência da República. A maioria dos presentes defendia a candidatura do governador Waldir Pires, para a disputa presidencial, pelo PMDB.
Na dupla condição de deputado federal e vice-presidente do Diretório Nacional do partido, argumentei contrariamente, apontando as duas principais razões: primeiro, o candidato partidário deveria ser Ulysses Guimarães; segundo, se fosse candidato, Waldir Pires teria de renunciar ao governo da Bahia.
Meses depois, em Brasília, na convenção nacional, ele disputaria com Ulysses a indicação e seria derrotado.
FALSA ARGUMENTAÇÃO – Tragicamente, em nome da unidade partidária, convenceram o governador a ser o vice de Ulysses, com a falsa argumentação de que em curto espaço de tempo, por falta de carisma eleitoral, o deputado Ulysses Guimarães renunciaria e Waldir Pires assumiria a disputa presidencial.
Ao deixar o governo da Bahia, assumiu o vice-governador, Nilo Coelho, que reformularia radicalmente a administração, gerando atrito com o antecessor.
No final da eleição a chapa Ulysses–Waldir foi tragada e destroçada com pífio resultado eleitoral. Naquela eleição também foi derrotado o PMDB histórico que escreveu indelével momento na redemocratização brasileira.
NA ERA QUÉRCIA – Meses depois, o governador Orestes Quércia, de São Paulo, aliado a outros governadores e parlamentares, desferiria o golpe mortal, destituindo Ulysses da direção partidária, gerando o que é o PMDB atual, uma federação de oligarquias regionais, onde ética e princípios têm valor relativo e a pecúnia valor absoluto.
Em 1990, Waldir Pires se elegeria, com a maior votação registrada na história política da Bahia, deputado federal na legenda do PDT. E nos últimos anos, serviu ao Brasil na estruturação da CGU (Controle Geral da União) e emprestando sua inteligência na titularidade do Ministério da Defesa.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Há uns quatro anos, encontrei Waldir Pires no metrô do Rio, em direção à Zona Sul. Viemos conversando e saltamos juntos no Largo do Machado, onde ele me disse que ia visitar a filha. Como é bom saber que há políticos brasileiros que andam de metrô, como nos países mais desenvolvidos… Também já encontrei o ex-deputado federal José Frejat e o atual secretário estadual de Cultura, André Lazaroni, andando de metrô. Detalhe: nenhum dos três (Pires, Frejat e Lazaroni) foi assediado pelos passageiros. Eram apenas rostos na multidão, como todo político deveria ser. (C.N.)


13 de agosto de 2017
Mário Assis Causanilhas

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