"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de agosto de 2017

MAIOR COLAPSO ECONÔMICO DO PLANETA PODERÁ SER NA VENEZUELA

A crise econômica da Venezuela poderá ser reconhecida como o maior colapso econômico da história econômica mundial.  Alguns analistas econômicos argumentam que a ausência de dados mais consistentes impede estabelecer comparações confiáveis com outras crises históricas já atravessadas pela humanidade.
Enfatiza-se a intolerância emblemática do presidente Nicolás Maduro na liderança de um regime exemplarmente ditatorial, disposto a tudo para reprimir, num clima de violência sem precedentes que só faz crescer. A determinação da oposição é visível em abrir caminho na busca de uma solução para a profunda crise econômica em que está mergulhado o país através de manifestações que mobilizam todos os setores da sociedade. Fortes ameaças invadiram a Venezuela, tornando seus próximos dias sombrios, já que se encontra praticamente isolada do resto mundo, excluindo a propriedade privada e a liberdade de imprensa. Cultivar a repressão,que nos últimos meses já deixou um saldo de mais de cem mortos, centenas de feridos e milhares de presos é a ordem do dia.
O colapso econômico da Venezuela é a imagem perfeita das políticas desenvolvidas pelo seu ex-presidente Hugo Chávez a partir de 1998, após sua eleição, políticas essas apoiadas, depois da sua morte, pelo seu aplicado sucessor Nicolás Maduro, a partir de 2013, sendo ele uma exata cópia diante do espelho embaçado de um País arrasado financeira, econômica, social e psicologicamente. Conseguiu uma combinação inusitada e extremamente tóxica entre controle cambial, estímulo à demanda e patrulhamento do setor produtivo, disparando a inflação e causando escassez de produtos. A situação piorou significativamente a partir de meados de 2014, com a queda abrupta do preço do petróleo, que representa 96% de suas divisas da exportação de hidrocarbonetos, deteriorando completamente as contas públicas e tornando os recursos escassos.
Geralmente os países absorvem choques negativos de preços como estes, aproveitando os bons tempos para acumular reservas, recorrendo a elas em épocas difíceis para que as importações não sofram tanto quanto suas exportações. Infelizmente a Venezuela não pode fazer isso, pois ela se aproveitou do “boom” do petróleo para multiplicar por seis a dívida estrangeira.


A opção do governo não foi dar o calote como se especulou, mas, em compensação houve uma queda violenta na importação de bens e serviços per capita de 75% no período de 2012 a 2016, corrigido pela inflação. Há apenas casos semelhantes na Mongólia entre o final da década de 80 e início da de 90 e na Nigéria entre os anos de 1982 a 1986. A Venezuela conseguiu a façanha de ser maior que todos os outros colapsos de importação de 04 anos a partir de 1960.
Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% nos últimos quatro anos, sendo que o indicador “per capita” caiu aproximadamente 40% em igual período. Pelo visto, é razoavelmente superior aos 27% encontrados na Grande Depressão Americana que abalou a economia global (1929 – 1933).
De acordo com o mesmo relatório, a inflação deverá ultrapassar 700% no final de 2017, mantendo-se como a mais alta do planeta e com uma retração prevista na economia em torno de 8,0%. Para se ter uma pequena noção, o derretimento do Bolívar, a moeda venezuelana, se dá praticamente na mesma velocidade em que o valor do petróleo despenca. O país precisou reduzir drasticamente as importações, o que levou a uma grande escassez de alimentos e medicamentos e à quase estagnação da indústria por falta de insumos. 
O Prof. Ricardo Hausmann, ex-ministro do Planejamento do país na década de 90, atualmente lecionando na Universidade de Harvard, em recente artigo publicado no Project Syndicat, elaborou interessantes comparações. O colapso venezuelano também é um pouco superior a períodos bastante conturbados em países como Rússia (1990-1994), Cuba (1989-1993) e Albânia, que também aconteceu em igual período. Mesmo assim, ainda se coloca atrás do que sofreram os países soviéticos quando da transição para o capitalismo, dentre eles, Ucrânia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão e Tajiquistão. Porém ainda não chegou ao nível do mesmo PIB durante o período de guerras em países como o Irã em 1981, Libéria em 1993, Ruanda em 1994, Líbia em 2011 e mais recentemente no Sudão do Sul. Destacou ainda que uma pesquisa realizada por uma das três universidades venezuelanas mais conceituadas apontou que a pobreza em 2014 era de 48%, subindo para 82% em 2016.
Penso que o grande passo a ser dado para acalmar a tragédia venezuelana seria inicialmente baixar o tom da crise política; todavia o governo se colocou numa forte ofensiva desde que fracassou em 2015 no controle político do Legislativo. A Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela (ANC), órgão exclusivo dos admiradores do governo Maduro, já se encontra articulada, objetivando reformar a Constituição e reordenar o Estado. A votação que a legitimou há dias atrás, apesar da luta da oposição e o repúdio de boa parte da comunidade internacional, foi mais uma vez marcada pela violência, baixa participação e fraude. 
Finalmente uma questão importante - caso venha a acontecer a implosão econômica desse país de ventos caribenhos, isso não traria de forma alguma grande impacto no Brasil. Embora seja a terceira economia da América do Sul, onde estão concentradas as maiores reservas de petróleo e gás conhecidas no continente, não dá para comparar com a brasileira, já que é apenas um parceiro comercial relativamente pequeno sem capacidade de nos levar a um baque profundo. Ainda bem que temos baixa exposição diante da turbulência pela qual também estamos passando. Na realidade, precisamos abrir os olhos, pois brevemente, se não tomarmos as devidas precauções, nosso País poderá ficar igualmente contaminado.

13 de agosto de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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