"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 21 de março de 2017

MENSAGEM AOS CARENTES, NA VIDA REAL OU VIRTUAL


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Charge do Duke (dukechargista.com.br)
Tem gente que já nasce carente, com uma carinha de “quero colo” , bracinho esticado, beicinho de choro. Essas pessoas adoram um aconchego, têm um olhar de “pidão”, enroscam-se num abraço, caçam um colo, adormecem risonhos num cafuné sem pressa. São explícitos e desavergonhados. Mas existem os carentes silenciosos, que, orgulhosos, esperam, tímidos e impassíveis, o carinho e o afeto que a forte inibição afetiva os priva de curtir. Em uma prisão horrível, invisível e torturante habitam pais, filhos, cônjuges, enfim, qualquer pessoa que não saiba manifestar seus sentimentos e emoções.
Imagine amar alguém e não conseguir se expressar? Ou querer um abraço, um ombro amigo e não conseguir tomar a iniciativa? É aquela história de dar o melhor ao filho, mas sem conseguir nem chegar perto do rebento. Ou o contrário.
VIDA VIRTUAL – Telas não fazem carinho, nem olham nos olhos. Pois, se a vida moderna, rápida, acelerada, já nos roubava o tempo, o encanto, a afetividade necessária, imagine agora, quando nem nos sentamos a uma mesa sem nossos celulares ou eletrônicos, ou ainda quando ficamos perto de alguém que está com seu headphone, em outro ritmo, em outra onda.
Ok, tempos pós-modernos, pós-verdade, sei lá o quê. O individualismo é o modo de vida. Cada um que se vire, em seu grupo de Whats, em sua rede, porque, a essa altura, Face virou coisa de dinossauro, Snap, da galera, e se muito, uma bobagem da hora é compartilhada no YouTube. Mas, no geral, sobram carentes, sejam reais ou virtuais. Queremos sempre algo ou alguém que nunca é quem está ao lado. Sempre existe o mais bonito, o mais rico, o mais bem-sucedido, e a ilusão de que o outro é sempre mais feliz. Pelo menos nas selfies, nas redes, nas telas. Aí a carência vira material, e dá-lhe compras e cartão estourado. Sim, a grama do vizinho é sempre mais verde.
COMPARAR TUDO – Mas, com tanta internet, tudo parece melhor do que o da gente. Cabelo, corpo, carro, férias, família, vida. É um tal de comparar, competir e invejar que Deus me livre! Qual parâmetro devo usar? Qual referência é válida? O filho educado e afetivo da prima ou o marginalzinho do vizinho? O que é normal? Como educar? Como escolher um cônjuge?
Somos carentes de segurança, de fé em nós mesmos, de um líder, de um guia. Num tempo em que o certo ou o errado são questão de visão do mundo, as muitas mídias têm duas em cada três notícias falsas ou fabricadas, um presidente americano que repete “fake news” a cada seis palavras, precisamos de colo, de companhia, de alguém que faça um carinho ou uma massagem relaxante, que conte uma história engraçada ou que invente um fato romântico que embale nosso sono.
VIAJE NA FICÇÃO – Invente uma ficção científica na qual, num futuro próximo, o planeta passe por transformações tão fantásticas que a fraternidade possa emergir como um belo nascer de sol, na qual a empatia nos faça dividir as riquezas naturais de forma altruísta e generosa, na qual máquinas e tecnologia façam o trabalho pesado para que possamos viver de pensar, sentir e desejar, admirar o meio ambientem, viajar sem rumo, sem passaporte, apenas com a energia do pensamento, habitar um lar chamado Terra e sentir que humanos somos todos. Por isso, um termo se tornou sagrado: semelhantes! Chega de apontar diferenças entre nossos semelhantes.
Quero resgatar o que temos em comum. Assim se comunga, se comunica, se torna comunidade. E que nossos braços sirvam para abraçar; nossos ombros, para apoiar; nossa voz, para acalmar; nosso ouvido, para ouvir a dor do outro; nosso tato, para fazer um cafuné de amor.
Viva a carência de quem luta pelo afeto, pelos sentimentos tão negados, escondidos ou esquecidos. S.O.S para o amor, a fé no outro, a paz no coração!

21 de março de 2017
Eduardo Aquino
O Tempo

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