"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 4 de setembro de 2016

ESTÁ EVIDENTE O ACORDO DE RENAN PARA BENEFICIAR CUNHA E OUTROS CORRUPTOS


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Renan foi à China, mas está no mundo da Lua
Está ficando cada vez mais intrigante o mistério que ronda o fatiamento da sentença do impeachment de Dilma Rousseff. A cada momento surge uma nova versão, que acaba entrando em choque com a realidade dos fatos. A mais recente explicação veio do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que no julgamento defendeu ardorosa e emocionadamente a manutenção dos direitos políticos da presidente que estava sendo cassada.
EFEITO PRÁTICO – Depois de um inquietante silêncio que já durava desde quarta-feira, neste sábado Renan enfim deu declarações e alegou que não houve negociação para aprovar a manobra, cujo efeito prático é facilitar a candidatura de políticos cassados por corrupção e outros crimes.
Com a desfaçatez que lhe é peculiar, Renan tentou justificar o que é injustificável e pagou mico ao dizer que não houve negociação para o fatiamento, quando até os garçons do Congresso já sabem que a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) revelou que se reuniu com o próprio Renan e também com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, para combinar o polêmico destaque, cuja apresentação ficou a cargo da bancada do PT.
NO MUNDO DA LUA – Renan está passeando na China, curtindo a mordomia da comitiva presidencial de Michel Temer. Com a decisão do Senado, considerou liquidada a fatura e nem se interessou em saber o que estava acontecendo aqui no Brasil. Ao dar declarações, pagou mico, porque não sabia que Kátia Abreu já abrira o jogo. Se soubesse, o Renan teria inventado uma desculpa mais adequada, não estaria agora exposto ao ridículo.
A entrevista, divulgada pelo site “Congresso em Foco”, mostra que o presidente do Senado está no mundo da Lua, completamente desinformado sobre o que acontece no Brasil, nem teve curiosidade de acompanhar pela internet a crise que ele mesmo provocou.
Ao minimizar o fato de que a própria Dilma considerou “estranhíssima” a decisão do Senado, Renan também se deu mal, e depois disse um monte de asneiras. Tentou alegar que o precedente não poderá beneficiar Eduardo Cunha ou Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), demonstrando não saber que o senador cassado já recorreu ao Supremo.
MUITAS VERSÕES – O mais interessante, instigante e inquietante são as versões sobre o polêmico destaque. A primeira delas era de que se tratava de uma iniciativa solitária da bancada do PT, que atendia a um pedido da própria Dilma Rousseff, que sonhava dar aulas em universidades públicas (cá entre nós, seria um sucesso, os alunos se divertiriam adoidado, as salas ficariam lotadas, todos iam querer assistir, para dar gargalhadas).
Depois, outra versão. O diligente servidor público Luiz Fernando Bandeira, que exerce o papel de secretário-geral da Mesa Diretora do Senado e assessora diretamente Renan, disse que, ao tomar conhecimento da movimentação dos senadores, tomou a iniciativa pessoal de pedir um parecer à Diretoria Jurídica do Senado.
Mentindo mais do que bula de remédio, Bandeira afirmou que o ministro Ricardo Lewandowski não sabia de nada e foi surpreendido com a apresentação do destaque pelo PT na sessão.
Neste momento o ministro Lewandowski virou para mim e disse: ‘Eu posso aceitar isso?’. Eu mostrei para ele o parecer (da consultoria legislativa), ele leu o regimento interno, as disposições aplicáveis e entendeu que era o caso de admitir“, disse o assessor de Renan, sem saber que logo seria desmentido pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO).
TUDO COMBINADO – Em entrevista gravada pela Rádio Gaúcha, Kátia Abreu deixou bem claro que o destaque a ser apresentado pelo PT já era do conhecimento antecipado de Lewandowski e Renan.
Eu estive com o ministro e com o senador, dias antes do julgamento, avisando que apresentaríamos o requerimento”, declarou Kátia Abreu. A senadora usou o plural porque referia-se ao PT. E essa reunião com Lewandowski ocorreu na segunda-feira, 22 de agosto, dez dias antes do julgamento.
Mas já surgiu outra versão, do jornalista Josias de Souza (UOL),  que atribui a desastrada ideia ao advogado mineiro João Costa Ribeiro Filho, suplente do senador Vicentinho Alves. Ele teria conversado com Kátia Abreu, e a senadora então pediu a aprovação de Dilma, que autorizou (juntamente com José Eduardo Cardozo) o seguimento da trama. E o advogado Ribeiro Filho então teria acompanhado Kátia Abreu na reunião com Lewandowski.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – De tudo isso, extrai-se que Renan e Lewandowski estavam juntos na manobra, com Kátia Abreu e o PT. Fica a dúvida se Dilma autorizou ou não. Mas parece óbvio que ela não participou, caso contrário não consideraria “estranhíssima” a decisão que a beneficiou.
Fica faltando saber qual o real motivo de tudo isso. E a explicação é óbvia. Revoltado pela inevitabilidade da cassação, Eduardo Cunha ameaçou fazer delação. Para acalmá-lo, Renan & Cia então armaram a manobra inconstitucional da manutenção dos direitos políticos, para que Cunha possa ser candidato em 2018.
Como a medida beneficia os corruptos de todos os partidos, foi aprovada com apoio de 39 senadores (36 votos e três abstenções, que contavam a favor), enquanto 42  parlamentares  (maioria absoluta) se manifestavam contra  armação, mostrando que nem tudo está perdido.
SUPREMO VAI NEGAR – Já se sabe que Lewandowski não vai participar e a sessão do Supremo que julgará a inovação será presidida pela vice-presidente Cármen Lúcia. Dos dez ministros que participarão, dois deles (Gilmar Mendes e Celso de Mello) já declararam que apoiam a suspensão dos direitos políticos de Dilma por oito anos.
Portanto, só faltam quatro votos no Supremo para erradicar essa estranha jabuticaba institucional, cuidadosamente cultivada na horta da quadrilha suprapartidária que insiste em explorar o país, através da prática de uma política transgênica e amoral.

04 de setembro de 2016
Carlos Newton

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