"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O DEBATE MAIS IMBECIL DA ATUALIDADE É O DA "REFORMA POLÍTICA".

Todos a defendem, todo mundo a quer, mas ninguém sabe dizer objetivamente o que seria reformado. Há muito grito e pouco foco, retrato de nosso debate político atual.


Todo mundo é a favor da “Reforma Política”. Todos a apontam como grande solução para os problemas estruturais do país e acreditam que sua implantação deveria ser urgente.

Ok, ok. Mas qual reforma? Pois é.

Assim como quando se fala em reformar uma casa, a expressão permite todo tipo de mudança. Desde algumas irrisórias, relativas à pintura, até a demolição de quartos, construção de andares e assim por diante. Dizer-se a favor da “Reforma Política”, sem especificar o que seria reformado, é algo um tanto bocó.

Sim, a expressão tem um efeito sonoro interessante, e o verbo “reformar” possui valor semântico de mudança que cai como luva nos anseios atuais. Mas, a rigor, não significa nada. Pode ser qualquer coisa e ao mesmo tempo coisa nenhuma.

Alguns pontos da “Reforma Política”, aliás, são opostos entre si. Parte da esquerda, por exemplo, defende a adoção de “lista fechada” (vota-se no partido e ele escolhe quem ocupa o parlamento). Mas muitos outros pleiteiam o voto distrital (cada distrito/região teria um candidato à Câmara). Como reformaríamos, nesse caso? E assim vão quase todos os tópicos.

No auge da crise, um “gif” fez sucesso nas redes: Lula, Dilma, Aécio, Marina, Cunha, Renan com as legendas “nem ele, nem ela, nem ele, nem ela” etc. Por fim, as frases de efeito: “FORA TODOS! QUEREMOS A REFORMA POLÍTICA!”. Era impressionante (de forma lamentavelmente negativa) o pessoal divulgando isso a sério, sem ser de forma sarcástica.

Em 2013, quando as “jornadas de junho” explodiram, e o governo e seus militantes ainda achavam possível capitalizar com a revolta (arrogantes que eram e são, jamais suporiam – e até hoje não aceitam – que a GRANDE MAIORIA era/é contra as pautas esquerdistas). Mas o que fez Dilma naquele momento? Depois de longos dias acuada, propôs medidas estapafúrdias, com especial destaque àquela voltada ao que seria sua “Reforma Política”.

Sem medo do ridículo, defendeu a convocação de plebiscito para uma “constituinte exclusiva” a deliberar sobre o que seria reformado. Os petistas, com sua empáfia ignorante, supunham eleger maioria favorável na tal assembleia e, com isso, mudar tudo de acordo com seus interesses.

Desnecessário dizer que, após algumas pesquisas, o próprio governo enterrou essa ideia de jerico. Motivo: tomariam uma surra nas urnas e a tal constituinte seria muito mais “reacionária” do que imaginavam. Tentaram usar as manifestações para emplacar suas pautas, mas perceberam que já tinham perdido apoio ideológico especialmente entre os jovens.

O resto é história: vaias na Copa, panelaços, manifestações com milhões de pessoas e enfim o impeachment. Essa ladeira, hoje praticamente no fim, começou a ser descida naquele momento de 2013.

Não existe uma única “Reforma Política”; cada partido defende a sua e cada militante a empurra para seu lado. Dizer simplesmente “PRECISAMOS FAZER A REFORMA POLÍTICA!”, sejamos francos, é ridículo já no nível em que fica difícil manter o respeito intelectual pela pessoa.

A revolta é compreensível, mas não dá para usar uma frase de efeito como solução de problema objetivo e específico (assim como gritar “TEM QUE ACABAR COM TUDO ISSO QUE ESTÁ AÍ” não costuma dar certo para acabar com nada que está aí). E é patético que o debate pare justamente nesse ponto. Pedem a “reforma” e fim de papo, sem nem dizer o que pretendem reformar – ou então até dizem, mas recuam quando percebem que os eleitores não estão propriamente favoráveis a tal causa.

E não adianta levantar falsas esperanças: simplesmente NUNCA haverá qualquer “Reforma Política” da forma como é proposta. Podem mudar alguma coisa aqui e ali, mas só a perfumaria. O motivo é simples: são os próprios políticos, já eleitos, não tem interesse em modificar as regras de um sistema que os mantem no poder.

Mudanças desse tipo acontecem de forma gradual, com etapas longas, pequenos passos, alguns recuos e muitas dificuldades. Há que se ter foco e estratégia. Mas não é isso que fazem. Vendem uma ideia genérica, com expressão que parece resolver todos os problemas, e no fim, por óbvio, não acontece nada. Sobra discurso e faltam ações.

Mais do mesmo. O de sempre.

Desse modo, meu humilde conselho é: parem de falar da “Reforma Política” sem especificar as mudanças pretendidas, como se expressão, por si, encerrasse algum significado objetivo. Isso já seria um bom primeiro passo.


11 de julho de 2016
implicante

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