"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 2 de julho de 2016

É O DÓLAR CAINDO, CAINDO, CAINDO...

A nova perspectiva de valorização do real tem como fundamento a retomada da confiança na economia

As cotações do dólar mergulharam 10,35% apenas em junho (até esta quarta-feira) e já não se enxerga o fundo da barroca.

É uma situação que começa a exasperar dirigentes da indústria e outros analistas que identificam nesse movimento tendência perigosa a nova temporada de perda de competitividade do setor produtivo. São os mesmos que, no passado, acusaram os governos anteriores de usar e abusar do câmbio como âncora contra a alta de preços.

A nova perspectiva de valorização do real tem como fundamento a retomada da confiança na economia. É menos capital medroso que sai e mais corajoso que entra.





O Banco Central poderia evitar novos tombos do dólar por meio de compras de moeda estrangeira no mercado. No entanto, na entrevista que concedeu na última terça-feira, o novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, lembrou o distinto público que o regime vigente é de câmbio flutuante e que eventuais intervenções não se farão contra tendências firmes do mercado - serão feitas “com parcimônia”. A informação foi entendida como disposição de deixar que a retomada da confiança e a baixa do dólar, que a ela se seguir, trabalhem a favor da queda da inflação.

Os mais aflitos com mais essa robusta valorização do real argumentam que um dos fatores que mais atraem capitais para cá, especialmente os especulativos - e que assim concorrem para acentuar a baixa da moeda estrangeira -, são os juros excessivamente altos no Brasil. Por enquanto, é um argumento que não encontra respaldo nos fatos. Não há indícios de entrada significativa de capitais que aportem por aqui para ganhar com os juros. As informações mais recentes, divulgadas terça-feira no Relatório de Inflação, mostram que, nos cinco primeiros meses do ano, houve saída líquida (e não entrada líquida) de recursos aplicados em carteira. Foram nada menos que US$ 11,8 bilhões negativos e, pelas projeções do Banco Central, deverão ser de pelo menos US$ 12,8 bilhões, também negativos, ao longo de todo o ano.

A questão de fundo consiste em saber como fica a indústria que aparentemente terá de remar contra mais essa corrente adversa. Essa pergunta não tem resposta fácil. O que se pode dizer é que o câmbio não é a causa da baixa competitividade da indústria brasileira. Ela tem de ser procurada na carga tributária excessiva, nas péssimas condições de infraestrutura, na falta de reformas e na falta de acordos comerciais que lhe deem acesso preferencial a seus produtos. É descabido tentar compensar esse jogo contra apenas com o câmbio, especialmente se esse câmbio supostamente favorável à indústria acabe por acentuar a desarrumação da economia.

A melhor maneira de fortalecer a indústria não é jogo de retranca, mas é garantir solidez aos fundamentos da economia. É o que dará previsibilidade e condições de investimento. Um câmbio artificial teria efeito contrário, porque cria incertezas: a qualquer momento estaria sujeito a enfrentar o realismo da dança das moedas.

CONFIRA:




Continua ruim
O índice de desocupação no Brasil medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua manteve-se nos 11,2% no trimestre móvel terminado em maio. É resultado ligeiramente melhor do que o esperado que, no entanto, não deve enganar. As condições do mercado de trabalho ainda não apontam para melhora. Ao contrário, tendem a piorar. Mesmo se a atividade econômica (PIB) voltar a crescer, é improvável que o emprego siga no mesmo ritmo porque o empresário tentará produzir mais ocupando capacidade ociosa, e não aumentando os fatores de produção.


02 de julho de 2016
Celso Ming, Estadão

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