"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A MENTIRA DO GOLPE 2

A falsa narrativa é, na verdade, o maior de todos os golpes que poderiam ser desferidos contra o regime democrático brasileiro

O ex-presidente FHC comparou em artigo no GLOBO deste domingo os “crimes de responsabilidade” atribuídos agora à presidente Dilma e antes ao ex-presidente Collor em seus julgamentos no Senado. “O crime de responsabilidade de Dilma consiste em ter utilizado os bancos públicos para mascarar a verdadeira situação fiscal da República e ter autorizado gastos sem autorização do Congresso. 

O crime de responsabilidade de Collor consistiu em receber um automóvel de presente, o que o Senado considerou quebra de decoro. O ministro do Supremo que presidiu o julgamento de Collor no Senado, o jurista Sydney Sanches, disse que desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal e fazer gastos sem autorização do Congresso são formas de quebra de decoro. 
E que Collor foi absolvido da acusação de crime comum (corrupção) porque não ficou provado que da quebra de decoro tivesse decorrido qualquer benefício para quem o presenteara com o carro”, registra FHC.

Collor estaria incapacitado para governar, sendo inocentado do crime de corrupção. Poderia, então, ter recorrido à narrativa do golpe quando afastado da Presidência. Teve milhões de votos, não caiu pelas urnas. Fenômeno das primeiras eleições diretas para a Presidência após a redemocratização, comportou-se com dignidade e respeito às instituições democráticas durante sua queda. 
Derrotara nas urnas todas as correntes oposicionistas de “esquerda”, novas como a de Lula e velhas como a de Brizola, assim como os representantes do governo de transição, Aureliano Chaves à “direita” e Ulysses Guimarães e Mario Covas à “esquerda”.

A extraordinária popularidade de um jovem presidente anti-establishment, que chamou Sarney de “corrupto, incompetente e safado” e poderia aposentar por obsolescência as demais lideranças políticas, atemorizou a esquerda hegemônica. 
Ameaçados de extinção pela fulminante ascensão de Collor, uniram-se todos em um golpe contra ele a pretexto de um Fiat Elba? Eram todos golpistas? 
Os que creem, como eu, na construção de uma Grande Sociedade Aberta preferem outra narrativa. A saída de Collor registrou um importante aperfeiçoamento institucional de uma democracia emergente, com a declaração de independência de nosso Poder Legislativo ante práticas não republicanas do Executivo.


02 de maio de 2016
Paulo Guedes, O Globo

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