"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 17 de janeiro de 2016

O PETRÓLEO NÃO É DO PT...

Charge de Paixão (reprodução da Gazeta do Povo)














A campanha do “O Petróleo é Nosso”, pela criação da Petrobrás, estava no auge, em 1953, eletrizando todo o país. Em Belo Horizonte, entidades estudantis, sindicais, de jornalistas e intelectuais preparamos um comício para a Praça da Estação e convidamos os parlamentares. A polícia proibiu, alegando que era comício dos comunistas. Nenhum deputado federal apareceu. A praça cheia, cercada pela policia.
Lá na frente, servindo de palanque, vazio, pusemos um caminhão sem as laterais e com um microfone. De repente, chega o deputado federal do PTB, querido professor licenciado da Faculdade de Direito e candidato a senador, Lucio Bittencourt, alto, magro, terno claro, bigodinho preto, e vai direto para o caminhão. Fomos juntos. Com ele, a polícia não teve coragem de barrar-nos. Alguns de nós falamos. Ele pegou o microfone e começou:
– Ontem, chegando a Minas, li nos jornais que a policia havia proibido este comício. Liguei para o governador Juscelino, ele me disse que eram ordens do Exército, do Rio. Confesso que tive dúvidas de vir. Mas, à noite, dormindo, ouvi o povo me dizendo:
– Vai, Lucio, vai! Vai!
E Lucio foi. Subiu no caminhão, deu um passo à frente e caiu embaixo do caminhão. Ainda tentei segurá-lo pela ponta do paletó, não adiantou. Nosso querido professor desabou. Acabou o comício.
LULA
No dia seguinte, no palácio, Juscelino dava gargalhadas:
– Eu bem disse a ele: – “Não vai, Lucio! Não vai!
Aquela queda ajudou Lucio Bittencourt, o “senador do petróleo”, a ter uma vitoria consagradora para senador em Minas, no ano seguinte.
Quando vejo o escárnio do PT gigoloteando a Petrobrás e destruindo-a, comendo por dentro como cupins, penso em tantos que, como Lucio Bittencourt 60 anos atrás, Eusébio Rocha, Rômulo Almeida,Gabriel Passos, Francisco Mangabeira , lutaram incansável e bravamente para que o petróleo fosse de fato nosso, do povo brasileiro e não de Lula e sua gangue.
Uma ação da Petrobras valer um “pixuleco” é uma afronta à historia.
LUCIO
Dois anos depois, em 1955, já criada a Petrobrás e Getulio morto, o Partido Comunista, embora ilegal, estava apoiando Juscelino e Jango para Presidente e vice, e Lucio Bittencourt, recém-eleito senador do PTB, para governador. Lucio disputava com Bias Fortes (PSD) e Bilac Pinto (UDN).
Fui destacado para ajudar a campanha de Lucio como jornalista. Haveria uma excursão ao Norte e Nordeste de Minas, ele me chamou:
– Vamos lá, você morou e foi professor em Pedra Azul, conhece bem o vale do Jequitinhonha, Araçuaí, aquela região toda.
Fiquei animado. Mas logo o “Jornal do Povo” me propôs acompanhar Juscelino ao Nordeste brasileiro. Entre o nordeste de Minas e o meu Nordeste, traí Lucio Bittencourt. Falei com ele, ele compreendeu, outro companheiro da Faculdade foi em meu lugar e fui com Juscelino.
Em Campina Grande, Juscelino estava no palanque com Rui Carneiro, Alcides Carneiro, Samuel Duarte, Abelardo Jurema, o PSD todo da Paraíba. Falava um deputado. Chega um “western” (telegrama especial da época) urgente da “Ultima Hora” informando que Lucio Bittencourt acabava de morrer em desastre de avião, em Minas, saindo de Araçuaí e quase chegando a Pedra Azul. Morreram o piloto, ele e meu substituto.
Gelei. Sentei em um canto do palanque e quase chorei. Alguém, um colega da Faculdade, morrera em meu lugar. Os assessores ficaram sem saber como dar-lhe a noticia. Nós jornalistas escolhemos Fernando Leite Mendes, o brilhante e gordo baiano da “Ultima Hora”, que Juscelino chamava de “Pero Vaz de Caminha” de sua campanha:
– Governador, uma noticia ruim, de Minas. Lucio Bittencourt morreu perto de Pedra Azul em desastre de avião.
Juscelino arregalou os olhos, fechou-os, baixou a cabeça, ficou alguns instantes em silencio, visivelmente chocado, como se estivesse rezando, e murmurou:
– Foi reza forte do Bias.
Pegou o microfone e fez comovente homenagem a Lucio Bittencourt.
DELCÍDIO
Se, pouco tempo atrás, a algum candidato de um “Enem” qualquer dessem esses nomes para dizer quem são, tiraria inapelavelmente “zero”:
Cerveró, Delcídio,Youssef, Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Bumlai. Mas, no entanto, são capitães de longo curso. E como navio não anda sozinho, alguém os trouxe para a gangue e a porta do xadrez.
Delcídio era um guapo engenheiro de Corumbá que apareceu lá pelas bandas do Pará e logo o governador Jader Barbalho, rapaz de raro faro, o fez diretor da Eletronorte e logo ele saltou para diretor da Eletrosul, em Santa Catarina. Especializou-se em gás, gasodutos, termoelétricas e Bolívias, tendo Cerveró como fiel escudeiro. Virou senador e líder de Dilma. Deu no que deu.
17 de janeiro de 2016
Sebastião Nery

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