"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 20 de dezembro de 2015

OS RISCOS ADIANTE, PASSE OU NÃO O IMPEACHMENT



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Charge de Jota A (reprodução do Portal O Dia)




















A cada momento de nossa história, o Brasil cai em ilusões de propostas mágicas que serviriam para nortear nosso futuro. Há pouco, muitos acreditavam que o pré-sal salvaria o Brasil. Agora, o país se divide entre os que veem o futuro no impeachment e aqueles que querem a continuidade da presidente Dilma Rousseff. Não percebem que o futuro será muito difícil com qualquer uma dessas alternativas. Torcem por um lado ou outro como em arquibancada de futebol, sem refletir, sabendo que o jogo termina depois do apito final. Mas a realidade é mais complexa.
Se o impeachment passar, o vice-presidente assumirá com uma herança maldita, tendo de enfrentar o PT de volta à oposição, exigindo reajustes salariais, aumentos de gastos públicos, lembrando boas coisas do seu governo, sem mencionar que eram insustentáveis.
Corre-se o risco de que o impeachment de Dilma interrompa o fim do ciclo do PT. Isso ficará ainda mais possível se o encaminhamento do processo tiver falhas e se eles conseguirem passar a ideia de golpe. Ainda mais se um futuro governo dificultar o funcionamento da Polícia Federal nas operações contra a corrupção.
REORIENTAR O GOVERNO
Se o impeachment não passar, uma alternativa seria que a presidente Dilma entendesse e fizesse um reconhecimento público de que o Congresso a salvou da vontade popular de sua cassação, e tentasse reorientar seu governo para os próximos anos.
Reconhecer seus erros, dizer que seu partido é o Brasil, não o PT ou qualquer outro; assumir seu compromisso com um governo de união e transição até 2018, com dois objetivos centrais: o ajuste necessário para corrigir os erros na economia e a definição das bases de reformas estruturantes para o futuro.
Mas tudo indica que, com a continuidade do governo Dilma, os próximos três anos não serão diferentes de 2014, salvo que a presidente, o PT e os demais partidos no governo tratarão o arquivamento do processo de impeachment como a aceitação de todos os seus erros, como uma carta em branco para continuar aparelhando o Estado, desprezando a responsabilidade fiscal.
BANDEIRAS VERMELHAS
Não é difícil imaginar, no dia seguinte ao arquivamento, as bandeiras vermelhas de volta às praças; com gritos de que o golpe não passou, que as pedaladas foram aceitas, assim como também as manipulações na campanha e as irresponsabilidades na economia; que tudo está bem com a Petrobras, a corrupção não existiu, pedindo anistia para os presos e o fim da Lava Jato.
Mesmo temendo o futuro, o impeachment precisa ser debatido e votado de acordo com as razões legais. A eleição do presidente é uma escolha política, mas sua destituição deve ser por razões legais, julgando, não votando.
O impeachment não é golpe, porque está previsto na Constituição, mas ali estão previstas as razões que o justificam, definindo se a presidente cometeu ou não crime.

20 de dezembro de 2015
Cristovam Buarque
O Tempo

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