"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

BARNABÉ, O CRÉDULO


Sempre apreciei muito o Barnabé. É fora de dúvida que ele tem qualidades. É reto, despretensioso, de trato agradável. Mas o coitado tem um defeito incorrigível, tão incorrigível que acabou por fazê-lo ficar de miolo mole.

O defeito do Barnabé é que ele acredita piamente em tudo quanto dizem os intelectuais da última moda, aos quais uma literatura pseudo-filosófica e certos cadernos da mídia concedem grande audiência. E o mais triste é que o pobre Barnabé procura seriamente aplicar na vida concreta as fantasias elucubradas por esse gênero de sonhadores utópicos que a esquerda costuma produzir a rodo.

A última enrascada em que Barnabé se meteu foi acreditar que os animais têm direitos iguais aos dos homens. Mais ainda, que os animais são iguais aos homens. Eu não sei em que leituras ele se meteu, nem que palestras ouviu, mas o certo é que ficou convencido da propalada igualdade. E, como é seu vezo, logo se aplicou em transferir para a prática a utopia mirabolante.


Para cúmulo dos males, ele tinha um cachorro de estimação, um fox terrier branco e engraçadinho, que atendia pelo nome de Pimpão. Não é que o pobre Barnabé concedeu estatuto de igualdade ao Pimpão!

Às refeições, lá estava a cadeira do cãozinho, que deveria sentar-se educadamente, com o guardanapo ao pescoço, tendo à sua frente o prato e os talheres. Na hora de dormir, o Pimpão tinha seu quarto e sua cama, com lençóis limpos e um cobertor de reserva para o caso de esfriar à noite. Uma pia bem baixa, com lugar para o sabonete e a escova de dentes, foi especialmente encomendada.

Tudo estava perfeito, e Barnabé contentíssimo. Mas a dificuldade surgiu: o terrier não se compenetrava de que era igual aos homens e não agia de acordo com a etiqueta. Aí começaram as agruras do Barnabé: como fazer para tornar eficaz essa igualdade com um cabeçudo como o Pimpão, que timbrava em agir como cachorro, e não como homem?

Barnabé começou então a dar tratos à bola em busca de uma saída para um problema tão inesperado. Ele era inteligente, não propriamente intuitivo, muito menos esperto, mas raciocinante.

Foi então –– em meio a essas sessões escaldantes de raciocínio apertado, em que o cérebro fervia de tanto trabalhar –– que a solução pulou de dentro da cabeça de Barnabé, como lançada por uma mola. Nem o estalo de Vieira pode-se comparar a tanta lucidez repentina:

— Eureka! Achei! Pimpão e eu somos iguais. Se ele não quer se portar como um igual em relação a mim, eu vou me portar como um igual em relação a ele.

E eis o pobre Barnabé andando de quatro, comendo no prato de ferro do terrier, forçando sua coluna vertebral para caber dentro da casinha do cachorro; e –– coitado! –– latindo quando alguém se aproximava.

A última vez que o visitei no manicômio, os médicos me asseguraram que a situação dele é reversível, e que ele tem cura. É questão de tempo, e sobretudo de não permitir mais que ele leia qualquer literatura pseudo-filosófica ou as seções “culturais” de certa mídia.



10 de dezembro de 2015
Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM

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