"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

ACABOU, DILMA!

Só dois terços tiram Dilma Rousseff da Presidência, e é preciso apenas um terço para que ela fique. Com dois terços, constrói-se um núcleo de governabilidade no Congresso. Com um terço, constrói-se apenas a agudização da crise.

Por mais alienada que Dilma esteja da realidade, é claro que ela sabe que a aventura acabou. Um governo que consegue 199 votos, de 513 possíveis, numa disputa que serve de esquenta para o impeachment pretende conquistar com quais instrumentos os 308 necessários para aprovar, por exemplo, a CPMF –o imposto que já conta como receita em 2016, ano que, já se sabe, será igualmente horrível?

Não! Esse não é um argumento jurídico. É só aritmética aplicada à política. É só pragmatismo.

No terreno legal, que o crime de responsabilidade tenha sido cometido, aí fala a evidência do texto no cotejo com a realidade. Por mais que se possa admitir um espaço para a interpretação, isto que segue, por exemplo, é muito claro: é crime de responsabilidade "ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal".

Cito apenas uma das agressões à Lei 1.079 (a íntegra da denúncia contra Dilma está neste endereço. Observem: faço, como toda gente, minhas escolhas políticas, ideológicas, valorativas. Mas pretendo manter em campos distintos a ordem dos fatos e as operações puramente mentais.

Incapazes de negar as evidências dos crimes cometidos pela presidente; acuados pelo sentido objetivo das palavras; emparedados pelas evidências mais elementares, restou aos defensores da permanência de Dilma brandir mais uma vez a teoria do "golpe das elites contra um governo popular".

Jamais imaginei, a partir dos 25 anos ao menos, que um dia ainda escreveria isto: saudade do tempo em que as esquerdas eram marxistas, o que as obrigava a agregar a seus juízos de valor um raciocínio econômico. Mesmo quando se dedicavam às tertúlias sobre a superestrutura, a cultura, a ideologia, forçoso era que o pensamento encontrasse o seu molde na economia.

Hoje não. Uma das razões que levam petistas para o banco dos réus são suas relações perniciosas com as forças que aquelas esquerdas de então chamariam de "burguesas". Qualquer esquerdista medianamente honesto com as suas próprias convicções estaria obrigado a confessar que a história do petismo é a história de uma rendição muito bem remunerada do trabalho alheio.

Ora, mas por que eu, então, que abomino essa gente estou descontente? Essa é fácil de responder! Porque não sou nem chantagista nem lacaio de ricos. Tenho o destemor de defender aquilo que causa horror mesmo a parte considerável do empresariado brasileiro: um modelo liberal.

Quando se acusa aqui e ali um suposto golpe das elites contra Dilma, cabe perguntar: por que elas o fariam? Nunca se viram governos tão generosos com os muito ricos como os do PT.

Sou um legalista e um formalista. Presentes as razões que constam da denúncia, eu estaria a defender o impeachment de Dilma mesmo que ela fosse um sucesso de crítica e de público.

Contamos com esta única facilidade: ela não é! Que os pecados da presidente possam nos redimir. Em nome da lei. Em nome do pragmatismo.



11 de dezembro de 2015
Reinaldo Azevedo

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