Milton Campos foi o primeiro ministro da Justiça do regime militar. Engoliu sapos, como a cassação do ex-presidente Juscelino Kubitschek e de montes de mandatos.
Não aguentou quando o marechal Castelo Branco decidiu editar o Ato Institucional 2, que inaugurava novo período ditatorial.
Foram dissolvidos os partidos políticos, suspenso o habeas-corpus, ampliado o número de ministros do Supremo Tribunal Federal, entre outras barbaridades.
Ao apresentar seu pedido de demissão, o velho professor de democracia disse ao então presidente: “nossa diferença é que eu posso sair e o senhor tem que ficar”.
A posse, ontem, dos novos ministros, lembra o episódio antigo. Todos os que assumiram ou se viram remanejados no ministério podem sair. Seus motivos diferem daquele que levou Milton Campos a pedir demissão, pois a presidente Dilma não pensa em ditadura. Mas está, como Castello Branco, tutelada e sem poder. Naqueles idos, quem mandava era o Exército, com o ministro Costa e Silva à frente. Hoje, manda o Lula, com ou sem o PT.
ESTÁ POR POUCO
O atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, não é nenhum campeão da democracia, mas está para o novo governo mais ou menos como o dr. Milton diante dos militares: pouco à vontade, incomodado e sem espaço.
Encontra-se afastado da política, não controla a Polícia Federal nem passa pela porta dos partidos da base oficial. Suas relações com o Poder Judiciário deixam a desejar e com as forças armadas, nem isso.
É o último dos inimigos íntimos do Lula que falta Madame mandar passear ou deslocá-lo para o ministério dos Esportes ou das Mulheres. Há quem suponha estar o dr. Cardoso prestes a antecipar-se, pedindo para deixar a equipe governamental. Senão será deixado.
PRIMEIRA E ÚLTIMA VEZ
Os novos ministros, assim como alguns dos agora remanejados, entraram ontem no gabinete da presidente da República pela primeira vez. E talvez a última. Na melhor das hipóteses, condenam-se a dialogar com o novo chefe da Casa Civil e com o secretário de Governo.
Se antes já havia ministros de primeira e de segunda classe, entram em campo agora os de terceira. Aqueles que Dilma nem escolheu para figurantes e que estarão na dependência dos votos de deputados do PMDB e outros partidos.
A saída será reformar seus gabinetes em São Paulo, ficando na fila de audiências no Instituto Lula…
06 de outubro de 2015
Carlos Chagas
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