"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

EM BARCELONA, A CIDADE DE AUGUSTO

Thomas Piketty está assessorando o partido Podemos



BARCELONA – Ela é uma mas sempre foi muitas, tantas, numerosíssimas. Nasceu Laye, cidade ibérica conquistada no ano 133 antes de Cristo pelo romano Lúcio Cornélio Scipião, colônia romana nos tempos do imperador Augusto (de 27 antes de Cristo a 14 depois de Cristo), com o múltiplo, imperial e soberbo nome de Faventia Julia Augusta Paterna Barcino, a cidade de Augusto, dos Augustos como eu.

De Barcino para Barcelona foram séculos. Plantada sobre um pequeno monte, o Taber, em meio à planície entre os rios Bésos e Llobregat, às beiras do Mediterrâneo, protegida dos ventos norte pela serra da Collserola, a cidade cresceu na área que é hoje o Bairro Gótico onde se podem ver ainda as imponentes colunas do templo de Augusto, cercada de muralhas até o século IV quando foi ocupada pelos francos.

Ludovico Pio chega ao sul dos Pirineus e nasce o Condado de Barcelona quando se destaca Vifredo o Velloso (Guifré el Pilós) e a cidade se desenvolve permanentemente até a invasão de Almamzor (ano 985) que a arrasa e cuja independência só vai ser restabelecida com o Condado do Conde Borell II no ano 988:

– “O esplendoroso desenvolvimento de Barcelona acontece a partir do século XI com a união de Catalunha e Aragão. No século XII, Afonso I torna-se o primeiro conde rei. Jaime I, o conquistador, estende seu reinado até o sul, no reino de Valencia e através do Mediterrâneo com a conquista de Maiorca, criando a grande confederação Catalã-Aragoneza no século XIII, com as máximas obras arquitetônicas do gótico e as grandes instituições como o Código dels Usatges, que define a personalidade histórica da Catalunha e de Barcelona.” (“Escudo de Oro”)

COLOMBO
Hoje, lá do alto de sua estátua, na praça ampla, olhando a avenida larga e o mar infinito, Cristovão Colombo é o herói universal que descobriu as Américas. Mas antes de voltar era “apenas uma anedota”. A partir dele é que veem a Exposição Universal de 1888 e a Exposição Internacional de 1929, até 1992 com os Jogos Olímpicos que definiram o novo urbanismo e a nova arquitetura da nova cidade.
Barcelona é símbolo de todos os mundos, do romano até hoje.

ADOLFO SUAREZ
Em 1975 estive aqui. Franco tinha acabado de morrer e as asas negras da ditadura haviam voado para fora da Espanha. Em 1977 voltei. Santiago Carrilho e Dolores Ibarrure, a Passionária, líderes do partido Comunista, voltavam do longo exílio em Moscou e na França. Isidoro, nome de guerra do jovem Felipe Gonzalez, saído da clandestinidade convocava entrevista coletiva para anunciar a refundação do secular PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).

Federica Montseny, líder anarquista, primeira mulher ministra da Espanha, voltando do exílio em Lyon, reuniu multidões nas praças de Touros. E eu lá.
Manuel Fraga, da Galícia, fundava o partido Popular e Adolfo Suarez, o grande, incomparável estadista, entendia-se com o rei e começavam a construção da nova Espanha legalizando todos os partidos políticos, instalando a liberdade de imprensa, convocando a Constituinte e comandando as eleições de 1977.

A NOVA ESPANHA
A nova Espanha nasceu das mãos valentes de um jovem rei, o Juan Carlos, que desafiou pessoalmente e esmagou um golpe militar, de um jovem político como Adolfo Suarez que refundou o partido franquista e de jovens dirigentes partidários como Felipe Gonzalez do PSOE e José Maria Aznar do PP. O que a Espanha é hoje deve muito, deve tudo a eles.
A Espanha provou a democracia e gostou. 
Em julho, nas eleições regionais, uma mulher, Manuela Carmena, de 71 anos, elegeu-se prefeita da capital Madri pelo novo partido de esquerda, o “Podemos”. Também pelo “Podemos” a jovem e bela Ada Colau, de 41 anos, se elegeu prefeita da segunda maior cidade da Espanha, esta Barcelona.
No fim do ano serão realizadas as eleições gerais para o novo parlamento que definirá o novo governo. Mariano Rajoy, do PP, que hoje comanda a Espanha, pode entregar o governo ao centro esquerda PSOE ou ao “Podemos” aliado à “Esquerda Unida”. As pesquisas de hoje dão 28,2% para o PP, 24,9% para o PSOE e 15,7% para o “Podemos”.

NOVAS FORÇAS
Mas existem novas forças como a “Esquerda Plural” com 10,3% e o direitista “Cidadãos” com menos de 10%. Se toda esquerda (“Podemos”, “Esquerda Unida” e “Esquerda Plural”) se unir a Espanha poderá ter o primeiro governo de esquerda depois da vitória do PSOE de Felipe Gonzalez, que durou de 1981 a 1996.

Um fato novo na política espanhola é a presença do economista francês Thomas Piketty, famoso com seu best seller mundial “O Capital do século XXI”, ao lado do “Podemos”. Ele elaborou um “Plano Integral de Luta Contra as Desigualdades”:
– “Precisamos de novas forças políticas para mudar a Europa”.
A Espanha continua ensinando democracia.

05 de outubro de 2015
Sebastião Nery

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