Sonhar ainda não é proibido. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acha que será reconduzido ao cargo, se for um dos escolhidos na eleição a ser realizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República, responsável pela formação de lista tríplice para a disputa.
A campanha eleitoral começou terça-feira passada e vai até 4 de agosto, um dia antes da escolha da lista tríplice pelo voto dos 1,2 mil integrantes do Ministério Público Federal em todo o país.
Detalhe importante: a presidente Dilma Rousseffnão é obrigada a nomear o candidato mais votado. Porém, este critério tem sido respeitado desde o primeiro governo do ex-presidente Lula da Silva.
PRESTADOR DE SERVIÇOS
Se depender dos serviços prestados ao governo, Janot será reconduzido. É dele a esdrúxula e escalafobética tese de que a presidente Dilma não pode ser investigada por crimes cometidos antes de assumir o respectivo mandato. Com este argumento, baseado num dispositivo constitucional totalmente ultrapassado, pois foi adotado antes de haver reeleição, Janot declarou Dilma “inimputável”. Sua tese oportunista salvou Dilma num primeiro momento, mas sua procedência depois foi publicamente rechaçada pelo ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo.
Janot é odiado pelos presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), além dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Edison Lobão (PMDB-MA), entre outros sete senadores envolvidos. Um dos motivos foi ter protegido o senador petista Delcídio Amaral, que antes de se filiar ao PT era do PP e exerceu o cargo de diretor de Gás e Energia na Petrobras, tendo sido citado como corrupto em depoimentos de delações premiadas, mas Janot fez questão de não incluí-lo na lista de indiciados que enviou ao Supremo.
O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
É claro que Cunha, Renan, Lindhberg, Lobão & Cia. pretendem fazer o possível e o impossível para rejeitar o nome de Rodrigo Janot no Senado. Porém, o mais perigoso adversário parece ser o ex-presidente Collor, que já subiu à tribuna três vezes para desancar o procurador-geral. Denunciou fatos gravíssimos, acusando o procurador-geral de favorecer a empresa Oficina da Palavra desde quando dirigia a Escola da Procuradoria.
Outra denúncia foi de ter acobertado um irmão dele chamado Rogério Janot, que era estelionatário internacional, procurado pela Interpol e morreu há alguns anos. Collor desceu a detalhes, dizendo que o procurador-geral usou uma casa em Angra dos Reis, no Condomínio Praia do Engenho, Km 110, da Rodovia Rio-Santos, para esconder outro estelionatário, sócio do irmão dele, acrescentando que Janot alugava o imóvel sem contrato, para não deixar rastro e sonegar Imposto de Renda.
FESTIVAL DE DENÚNCIAS
Collor tem feito um festival de denúncias. No segundo discurso, revelou que o irmão estelionatário Rogério Janot fez fortuna por um período no Brasil vendendo equipamentos de informática com “notas frias” para uma grande empreiteira mineira (Mendes Júnior) que está envolvida na Operação Lava-Jato, com dirigentes já presos.
Depois, no terceiro discurso, deu novas evidências da relação de Janot com a empresa de comunicação Oficina da Palavra, que, a cada contrato, aparece com nomes fantasias diferentes: Oficina da Palavra, Palavra Encantada, Oficina Treinamento de Comunicação… “Enfim, uma série de nomes, sob o mesmo comando e sempre sob a mesma condição: a falta de licitação”, disse.
Collor denunciou também que Janot mandou alugar um imóvel de 1.226m² no Lago Sul, por R$ 67 mil mensais, numa área nobre e totalmente residencial. Disse que o prédio simplesmente está desocupado, vazio, depois de a Procuradoria gastar mais de um milhão com reforma e adaptações.
Além disso, citou a nomeação ilegal de uma assessora por Janot para ocupar função CC4, sem que ela tenha formação superior, conforme é exigido em lei.
CRÍTICAS À IMPRENSA
No final do discurso, Collor estranhou que a grande mídia esteja protegendo Janot. “Não escondam. Mostrem tais fatos, apurem, como é a obrigação do bom jornalismo”, cobrou em seu discurso, elogiando a Tribuna da Internet como único espaço importante na internet que tem denunciado irregularidades cometidas por Janot.
O fato é que Janot tem obrigação de responder as acusações de Collor, mas não o fez. Com certeza, o nome dele estará na lista tríplice. Mas será que a presidente Dilma insistir em reconduzir Janot, depois desta série de denúncias graves? Bem, tudo é possível, porque Dilma é imprevisível. No bom ou no mau sentido.
21 de junho de 2015
Carlos Newton
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