"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 12 de maio de 2015

'O INSÓLITO ALAN GROSS



agAlan Gross não desfrutou de nenhuma das vantagens dos espiões cubanos nas prisões norte-americanas.

Há ao menos dois informativos que pretendem apresentar eventos ou situações difíceis de entender e aceitar. O mais conhecido é o “Acredite ou não” de Ripley, mas também há o micro radial “Nosso Insólito Universo”, no qual narram-se acontecimentos extraordinários, eventos misteriosos e estranhos, para os quais é difícil encontrar uma explicação.
Em qualquer destes exemplos caberia a decisão de Alan Gross de se somar aos que trabalham a favor das viagens a Cuba e procuram incrementar as relações comerciais entre os Estados Unidos e a ditadura insular, sem exigir do governo de Havana mudanças substanciais nas injustas leis que o conduziram à prisão, as mesmas que possibilitaram o fuzilamento de milhares de pessoas e o encarceramento de centenas de milhares.
Gross esteve encarcerado durante cinco anos por levar à comunidade judaica da ilha equipamentos para que pudessem melhorar seu acesso à internet, muito diferente das atividades de espionagem contra os Estados Unidos e a favor do governo de Cuba que os cinco convictos da chamada “rede Avispa” realizaram, sem passar por cima a implicação do grupo no assassinato no ar dos pilotos de Hermanos al Resgate.
Segundo diferentes informações, o cooperante cumpriu durante mais de 25 anos uma ampla trajetória profissional no campo do desenvolvimento internacional, trabalhando em mais de 50 países do Oriente Médio, África e Europa.
Ele desenvolveu projetos na comunidade mineira de Baluquistão, Paquistão, e com palestinos da faixa de Gaza e Cisjordânia, assim como em projetos agrícolas no Azerbaijão e Bulgária, e não há informação de que tivesse sido preso em algum desses lugares.
Quando o detiveram em Cuba em 2009 e foi acusado de espionagem, trabalhava como empregado da empresa Development Alternatives Inc. com sede em Maryland, que sub-contratava tarefas para a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Gross, que qualificou seu encarceramento como vergonhoso calvário e sua detenção de arbitrária, atos executados pelo governo de Cuba, declarou-se em greve de fome para exigir que Havana e Washington conviessem o relaxamento de sua prisão, porém os Castro estavam determinados a usá-lo como peça de troca em seu planos de conseguir a libertação dos espiões que continuavam encarcerados nos Estados Unidos.
O governo cubano não ouviu as solicitações de clemência a seu favor de políticos como o ex-presidente Jimmy Carter ou o ex-governador de Novo México, Bill Richardson, que viajaram a Cuba para interessar-se por seu estado.
Enquanto René González, em liberdade condicional de uma condenação de quinze anos por espionagem, foi autorizado a viajar à ilha em duas ocasiões para assistir aos funerais de igual número de familiares, o governo de Cuba negou ao americano a permissão de viajar para que assistisse ao funeral de sua mãe.
As diferenças dos regimes carcerários de ambos países pôde-se ver em toda sua dimensão quando o governo dos Estados Unidos autorizou a inseminação artificial da esposa de Gerardo Hernández, chefe da rede de espiões, condenado a duas condenações perpétuas e quinze anos de cárcere por sua vinculação direta com a morte de quatro pilotos, três deles cidadãos dos Estados Unidos e o quarto residente.
Gross não desfrutou de nenhuma das vantagens dos espiões cubanos nas prisões americanas. Suas condições de confinamento eram tão dramáticas que sua esposa declarou estar muito preocupada de que ele pudesse fazer algo drástico depois da morte de sua mãe.
O ex-cooperante estava recolhido junto a outros dois presos em uma pequena cela que as autoridades mantinham iluminada durante 23 horas, segundo declarou seu advogado, que também o acompanha neste novo empenho muito diferente ao que o levou à prisão.
É difícil entender o que motiva uma pessoa a mudar suas expectativas sobre determinadas situações. Gross foi uma vítima da ditadura cubana e deve saber que seu empenho não vai repercutir no povo cubano, ele conhece como poucos americanos que o governo da ilha é refratário a reconhecer os direitos dos cidadãos e que a única coisa que lhe interessa é a aplicação de fórmulas que lhe permitam continuar no poder.
Certamente que cada um é livre para promover e trabalhar a favor do que considere pertinente, porém nem todos poderiam estar em Ripley como o senhor Gross, já que, com sua conduta, além de quais sejam seus desejos, está favorecendo um regime que continua cerceando os direitos das pessoas que no passado ele tratou de ajudar e pelo qual permaneceu encerrado cinco anos de uma condenação de quinze, os quais teria cumprido se Washington não houvesse intervindo. Acredite ou não.
12 de maio de 2015
PEDRO CORZO
Tradução: Graça Salgueiro

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