"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A TRAG[EDOA AFROCANA PRECISA SER VISTA SOB OS ÓCULOS DE SCHINDLER



O mundos dos ricos nada faz pelo mundo dos pobres, está é a realidade

















Durante séculos, os europeus e americanos do norte e do sul arrancaram africanos de suas vilas e famílias, transportando-os forçadamente em navios negreiros para escravizá-los. Graças a investimentos na educação, ciência e tecnologia, os europeus conseguiram realizar o imenso sucesso da civilização industrial. O sucesso da Europa e a estagnação da África criaram um novo tipo de navio negreiro, transportando africanos empurrados pela fome. Mudaram o mar, a direção dos barcos, o tipo de algemas, mas não mudou a ética.
Quando o continente europeu sofreu escassez, as Américas receberam dezenas de milhões de pobres europeus. Agora, a Europa constrói um “muro” para impedir a entrada de africanos esfomeados. Em algumas semanas, morreram mais africanos na “cortina de ouro” do Mediterrâneo do que durante todo o tempo da Cortina de Ferro que separava a Europa Ocidental da Europa Oriental.
Os livros “O Erro do Sucesso – A Civilização Desorientada e a Busca de um Novo Humanismo” (2014), “O que é Apartação” (1993) e “A Cortina de Ouro” (1994) propõem que as grandes crises do mundo de hoje – desigualdade, migração, ecologia, terrorismo – decorrem do sucesso da civilização industrial que se protege deles construindo “muros”. A tragédia no Mediterrâneo é o mais visível desses “erros do sucesso” e da “cortina de ouro” para implantar a “apartação global”.
A ESTUPIDEZ DO MODELO
Não fosse a riqueza europeia, os africanos não se apinhariam em frágeis barcos, sujeitos à morte, fugindo da pobreza. Isso não seria necessário se a riqueza criada ao longo dos últimos séculos tivesse se distribuído por todo o planeta. A crise ecológica não ocorreria se o avanço técnico tivesse criado uma economia harmônica com a natureza. O terrorismo quase não existiria se o sucesso europeu respeitasse as diferenças culturais.
“Erro do sucesso”, “cortina de ouro”, “apartação global” decorrem do fato de que o magnífico avanço técnico não esteve sujeito à orientação ética. Faltam óculos capazes de mostrar a estupidez e a injustiça do modelo seguido pelo progresso da civilização industrial. Oskar Schindler percebeu a imoralidade da perseguição de judeus e os contratou em sua fábrica para salvá-los do holocausto.
DEIXAR QUE MORRAM
A Europa nega-se a dar emprego aos africanos ou a investir em educação e postos de trabalho na África. Prefere barrá-los no outro lado do Mediterrâneo ou deixar que morram afogados na travessia. Seus dirigentes reúnem-se para descobrir como barrar os africanos, como devolvê-los à asfixiada África.
Não adiantará a construção de uma “cortina de ouro” separando pobres e ricos; os pobres migrarão de qualquer forma: morrerão no caminho, desmoralizando a moral cristã dos ricos, ou inundarão a Europa, comprometendo o modelo europeu.
A saída é uma mudança de ótica que leve a uma nova ética, óculos de Schindler para reorientar o progresso global, distribuindo seus benefícios com a África, como os Estados Unidos fizeram para reconstruir a Europa depois da guerra.

12 de maio de 2015
Cristovam Buarque
O Tempo

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