"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 12 de maio de 2015

EUA ATRAVESSAM O SINAL AMARELO NA UCRÂNIA





O irresponsável aventureirismo dos EUA na Ucrânia deu um novo passo no sentido da escalada de confrontação com a Rússia, ao insistir no envio de militares para treinar o exército ucraniano. 
A aliança do imperialismo com os fascistas ucranianos e o regime instalado em Kiev consolida-se, num quadro de reorganização das forças armadas daquele país, manifestamente incapazes de conseguir uma vitória militar no leste russófono. Apesar das bárbaras acções punitivas que continuam a empreender, fazendo tábua-rasa dos acordos de Minsk.

O posicionamento de pára-quedistas dos EUA na Ucrânia , juntamente com contingentes do Reino Unido e Canadá, só pode ser visto como o princípio de uma expansão gradual para além dos objectivos (“Mission Creep”). 
A missão afirma o objectivo de treinar guardas nacionais ucranianos, mas por outro lado tais missões levam invariavelmente a compromissos militares mais profundos. Neste caso, o começo de fornecimentos de armas americanas à Ucrânia agora parece inevitável uma vez que os soldados ucranianos foram treinados para usá-las.

A União Europeia e a OTAN estão em estado de alerta a observar, mas estariam a compreender que os EUA e dois dos seus mais estreitos aliados no espaço euro-atlântico tivessem mais uma vez de intervir directamente num conflito militar na Europa após o intervalo de mais de uma década e meia desde o término da Guerra do Kosovo em 1999. Em suma, o conflito na Ucrânia está a entrar numa nova fase.

ALERTA DA ALEMANHA

Assim, a observação do ministro alemão dos Estrangeiros, Walter Steinmeier, acautelando a Rússia contra qualquer movimento no sentido de reconhecer as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk na região oriental ucraniana do Donbass poderia ser entendido como uma olhadela ao futuro de um homem de estado experiente.

Um lobby hard-line nos EUA encabeçado por figuras eminentes no circuito estratégico argumentou desde o princípio que armar a Ucrânia elevará o custo da guerra para Moscou e obrigará o presidente russo Vladimir Putin a armar os rebeldes. Na verdade, a decisão de Putin na semana passada de fornecer mísseis S-300 ao Irã teria mais uma vez fortalecido este lobby em Washington.

MÍSSEIS S-300

A opinião especializada de um analista militar no influente Council of Foreign Relations é a seguinte:

“O S-300 não é uma parede no céu. Se nós [EUA] quisermos, podemos atacá-lo e derrotá-lo. Fazer isto, contudo, exige um esforço que é muito maior, muito mais arriscado e muito mais custoso. Recentemente assistimos um debate sobre a escala de um ataque potencial a instalações nucleares iranianas, com alguns a argumentarem que seria relativamente limitado e outros a adoptarem uma visão oposta. 

Com o S-300 instalado, já não há debate. Ultrapassar este tipo de sistema exigirá um grande posicionamento de ativos de ar, mar e terra, incluindo os nossos mais capazes – e caros – aviões e mísseis. O nosso pessoal e equipamento estará em maior risco e cumprir a missão será mais difícil e mais demorado.”

RÚSSIA E IRÃ

Sem dúvida, Moscou aplicou um duro golpe à capacidade dos EUA para negociar com o Iran a partir de uma posição de força. Embora a Ucrânia e a questão nuclear do Irã não possam ser comparadas, dificilmente será uma surpresa se os hardliners em Washington vierem a argumentar que a administração Obama deve pagar na mesma moeda na Ucrânia.

Então, porque Obama minimizou a questão do S-300 , deixando os israelenses de “queixo caído”? É a qualidade de Obama, estúpido! Ele está a jogar o jogo longo e espera virar a mesa sobre o governo russo no futuro próximo na Ucrânia.

Na minha opinião, portanto, Washington não estará com pressa para explorar a mais recente oferta do presidente Putin de “trabalhar juntamente” com os EUA . Moscou provavelmente considera que embora o equilíbrio de poder na ordem bipolar mundial característica da era da Guerra Fria já não exista hoje, ainda há um “contrapeso” aos EUA, graças a uma ampla secção da comunidade internacional, especialmente as potências emergentes, as quais não estão alinhadas com Washington, que por sua vez trabalha a favor da Rússia na sua confrontação com o Ocidente.

SEM RECUO

Nem a Rússia nem os EUA estão numa disposição de recuo face à confrontação. E, por falar em Obama, ele não pode permitir-se ser visto como a vacilar uma vez iniciada a campanha para a eleição presidencial. Para todas as finalidades práticas, portanto, as duas grandes potências estão a tropeçar para a guerra. 

Leiam um excelente tour d’horizon feito por dois eminentes pensadores estratégicos na América que radica em estudos da Rússia sobre a dinâmica EUA-Rússia na Ucrânia não se deter diante do sinal amarelo num cruzamento que é altamente propenso a acidentes.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

12 de maio de 2015
M. K. Bhadrakumar
Moscow Times

Nenhum comentário:

Postar um comentário