A indústria se manterá no fundo do poço por um longo período. Pelas contas de Luciana de Sá, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o setor encolheu 2,8% em março na comparação com o mesmo mês de 2014. “O pior chegou. A queda da produção está batendo firme no emprego e na renda”, diz.
Com a indústria mergulhada na recessão, o governo deve se preparar para conviver com números bem negativos do comércio. Dados do setor mostram que o elevado nível de endividamento das famílias, a inflação rodando acima de 8% e o desemprego próximo de 7% estão derrubando as vendas para níveis considerados assustadores. A perspectiva para o varejo daqui por diante é de demissões e fechamento de lojas, reflexo do ano sombrio no qual 2015 se transformou.
Diante desse quadro desanimador, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) atingiu, em abril, o nível mais baixo da série histórica: 87,2 pontos. Em relação ao mesmo mês de 2014, o indicador que mede a percepção sobre o momento atual da economia desabou 25,1%, conforme será revelado hoje pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Foi o oitavo recuo consecutivo. Também as perspectivas futuras se deterioraram e, pela primeira vez, entraram no terreno pessimista, abaixo dos 100 pontos. Nesse caso, o Icec cravou 98,2 pontos, tombando 30,1% ante abril do ano passado.
SEM OTIMISMO
Na avaliação dos empresários, não há nada que os motive a vislumbrar um quadro positivo mais à frente, nem mesmo o ajuste fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Por isso, os investimentos do comércio continuarão contidos. Antes de qualquer desembolso para a ampliação dos negócios, os varejistas querem se desfazer dos elevados níveis de estoques, sobretudo os que atuam nos ramos de automóveis e de material de construção.
Para o presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa, não é surpresa que o comércio esteja sentindo o baque da forte retração da atividade. Nos primeiros quatro anos de mandato da presidente Dilma Rousseff, o Ministério da Fazenda insistiu no consumo como forma de estimular o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), apesar de todos os sinais de que esse modelo estava esgotado.
“Foi uma opção errada. O certo seria o governo ter apoiado os investimentos produtivos. Se tivesse feito isso, certamente, o resultado da economia seria outro hoje”, diz.
APOIO ÀS MONTADORAS
A certeza de que a salvação do país estava no incremento do consumo aparece, por sinal, na base no processo de destruição das contas públicas promovido por Dilma. Ao reduzir impostos sobre automóveis, o governo abriu mão de receitas importantes para o ajuste fiscal. Não foi só. Dos quase R$ 500 bilhões que o Tesouro Nacional repassou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 200 bilhões foram destinados ao financiamento do setor automotivo, política sustentada na visão equivocada de que as montadoras puxariam os demais ramos da indústria.
Tanto não puxou que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria como um todo está há sete trimestres consecutivos em queda e fechará o segundo ano seguido com retração. “Trata-se de um processo perigoso”, afirma Costa. O pior, acrescenta ele, é que não se sabe se a indústria chegou ao fundo do poço. “É difícil prever quando começará a recuperação”, frisa.
09 de maio de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense
Correio Braziliense
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