"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

A CONTA PARA O CONSUMIDOR

O incômodo e os prejuízos causados pelo protesto dos caminhoneiros, que paralisou rodovias em pelo menos sete estados do país nos últimos dias, não constituíram fato isolado. É mais uma das pontas da herança que a presidente Dilma Rousseff recebeu da antecessora, ou seja, dela mesma. O voluntarismo que marcou o primeiro governo abandonou regras elementares de política econômica, aumentou a intervenção do Estado no funcionamento de mercados, forçou a queda de alguns preços e adiou o reajuste de outros para evitar que os índices de inflação refletissem a realidade em ano eleitoral.

O preço dos combustíveis, incluindo o diesel, e o valor cobrado nos pedágios rodoviários fizeram parte do cardápio de analgésicos e panos quentes. Mas, como o dinheiro não aceita desaforos, a conta teria que ser paga mais dia menos dia. Neste começo de ano, ela foi espetada no peito de quem vive do transporte rodoviário, provocando difícil queda de braço entre o caminhoneiro e as empresas que pagam o frete.

Sabemos quem vai pagar o prejuízo: o consumidor da mercadoria transportada. Ou seja, o diesel, o caminhão e o pedágio são apenas elos de várias cadeias produtivas, que podem começar numa fazenda e acabar em um supermercado, nascer na mina de ferro e alimentar a montadora de automóveis. Quanto maior a cadeia, pior o efeito do ato de segurar artificialmente os preços de um dos elos.

Mesmo que o consumidor não perceba a ligação entre uma coisa e outra, a conta de igual trapalhada praticada em outros setores da economia está batendo forte no bolso. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação de fevereiro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 15. Trata-se da inflação oficial pesquisada entre os dias 15 de um mês e 14 do mês seguinte.

O resultado, alta de 1,33%, é preocupante, bem acima da apurada em janeiro, de 0,89%. Com isso, o índice acumulado em 12 meses pelo IPCA 15 soma 7,36%, muito longe da meta de 4,5% fixada pelo governo para este ano. Pior: significa que, em apenas dois meses, a disparada dos preços engoliu a metade da meta.

É certo que a inflação de fevereiro carrega a sazonalidade das matrículas e do material escolar. Este ano não foi diferente: o item teve alta no período de 5,98%. Mas esse é impacto localizado no tempo e nas famílias com esse tipo de gasto.

O verdadeiro vilão tem DNA parecido com o do diesel dos caminhoneiros: a energia elétrica, que reflete o resultado de uma maiores trapalhadas do primeiro governo Dilma. Em 2012, a presidente foi à tevê alardear heroica decisão de forçar inédita redução nas contas de luz. Inadequada e inoportuna, a medida não se sustentou mais que um ano, abalou o caixa das concessionárias e estimulou o consumo em meio aos avisos de que havia crise hídrica a caminho.

Resultado: somente entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro, a energia subiu nada menos do que 7,7% na média nacional, segundo o IBGE, pesando na inflação do período e sinalizando que as cadeias produtivas que dependem da energia elétrica (a maioria) vão refletir o aumento de custos nos próximos meses. Ao fechar as estradas em protesto legítimo, os caminhoneiros punem a sociedade. Melhor fariam se levassem os caminhões para a grama do Planalto. Teriam, certamente, mais vítimas da alta do custo de vida a apoiá-los.


28 de fevereiro de 2015
Editorial Correio Braziliense

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