"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O PALANQUE E A TRIBUNA


Dilma se empossa num ambiente de insegurança e suspeita, com seu próprio mandato condicionado às investigações que diz promover. Confirmado o que disse o doleiro Alberto Youssef – de que ela e Lula sabiam de tudo – ela corre o risco de um impeachment. Enquanto o 'mensalão' estava sendo julgado, a Petrobras estava sendo dilapidada numa escala bem maior, a ponto de o The New York Times considerá-lo o maior escândalo financeiro do mundo.
 
Charage: Lailson

A diferença entre palanque e tribuna é que, no primeiro, vale tudo (ou quase tudo): promessas irresponsáveis brotam no calor da emoção (ou do mais cínico pragmatismo), sem que se cobre do orador a viabilidade do que promete.

Cabe ao eleitor fazê-lo – e isso lhe exige o que, em regra, não tem: informação e algum grau de sofisticação política para separar o joio do trigo. Num eleitorado sem esses atributos, como é majoritariamente o nosso, fica-se com o joio e dispensa-se o trigo.

Prevalece e triunfa a ilusão, que, no entanto, em algum momento, terá de ser desfeita. E isso ocorre (deve ocorrer) quando se ocupa a tribuna – a presidencial, sobretudo. Ali, não há espaço para conversa fiada. É a hora da verdade.

A posse de Dilma Roussef deu-se no palanque. Era ainda a candidata que falava, ao prometer ajuste econômico sem prejuízo das ações sociais. Não disse como; apenas prometeu. Desprezou o fato de que algumas benesses sociais já estão sendo cortadas, na área previdenciária (pensões de viúvas) e na assistência social (seguro-desemprego).

Fez uma avaliação extremamente positiva de seu primeiro mandato, debitando as dificuldades à crise internacional. No entanto, admitiu que o povo quer mudanças, não explicando por quê, se tudo, afinal de contas, foi muito bem feito e os resultados são ótimos. Em time que está ganhando, diz a sabedoria popular, não se mexe. Só se mexe quando se está perdendo – sobretudo de goleada.

A mesma lógica tentou aplicar à crise na Petrobras. Apontou “predadores internos” e “inimigos externos”, sem associá-los a seu próprio partido e à base aliada, de onde já se identificou o núcleo da organização criminosa que dilapidou a empresa, fazendo com que desabasse do quinto lugar no ranking mundial para o 120º.

Insistiu em dizer que seu governo e o de Lula foram os que mais combateram a corrupção, apoiando as ações da Polícia Federal e do Ministério Público. Nem a Polícia Federal, nem o Ministério Público, instituições do Estado, carecem de apoio do governo para agir. Têm sua ação garantida por lei.

Em momento algum, como se sabe, o governo manifestou entusiasmo com as investigações. Basta ver o que o PT fez com Joaquim Barbosa - e, agora, repetindo a manobra, põe em cena, contra o juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações do Petrolão, a máquina de triturar reputações.

Veja-se também o que foi feito em relação à CPI da Petrobras, sabotada pelos parlamentares da base aliada desde o início. O grande combate que o partido da presidente Dilma deu à corrupção foi praticá-la num grau de intensidade tal que nem mesmo a imensa tolerância da sociedade brasileira foi capaz de suportar.

Supunha-se que o Mensalão era o maior escândalo da história republicana brasileira – assim pelo menos a ele se referiram, quando do julgamento, o então procurador da República, Roberto Gurgel, o relator Joaquim Barbosa, e os ministros Ayres Brito e Celso de Mello.

Eis, porém, que, no momento mesmo em que aquele escândalo estava sendo julgado, a Petrobras estava sendo dilapidada numa escala bem maior, a ponto de o The New York Times considerá-lo o maior escândalo financeiro do mundo.

Não é só. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse alto e bom som, na CPI, que o que houve lá se repete em todos os setores de infraestrutura do país: rodovias, ferrovias, eletricidade etc. - sem falar, claro, nos biliardários fundos de pensão, caixa preta ainda intocada, e no BNDES.

Como, em tal, contexto, proclamar a pureza do governo - e, ainda por cima, colocá-lo como paladino na luta contra a corrupção? Nem o palanque suporta tal absurdo – que dirá a tribuna.

Dilma se empossa num ambiente de insegurança e suspeita, com seu próprio mandato condicionado às investigações que diz promover. Se o que disse o doleiro Alberto Youssef, em sua delação premiada – de que ela e Lula sabiam de tudo – se confirmar, ela corre o risco de um impeachment.

O governo pode ter algum controle sobre o Judiciário, cuja cúpula foi majoritariamente nomeada por ele. Mas o aparelhamento será desafiado pelas investigações paralelas nos Estados Unidos, cujos investidores são menos tolerantes que os nacionais.

Em meio a tudo isso, há a crise econômica, que imporá (já está impondo) cortes nos benefícios sociais, desemprego e arrocho salarial. Eis aí a realidade do segundo governo Dilma, que nem de perto constou de seu discurso de posse. É hora de descer do palanque.
 
15 de janeiro de 2015
Ruy Fabiano

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