"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

MAIOR OU MENOR?

O dinheiro barato infla artificialmente o patrimônio dos mais ricos, enquanto a competição asiática trava o salário dos mais pobres
 O grande economista austríaco Joseph Schumpeter considerava o francês Léon Walras o maior economista de todos os tempos por sua formulação da Teoria do Equilíbrio Geral. O formidável Paul Samuelson comparava a importância de Walras nas ciências econômicas ao papel de Newton nas ciências exatas: Lagrange dizia que Newton era não somente o maior nome da física mas também o mais sortudo dos cientistas. Pois havia apenas um sistema do mundo, e foi Newton que o descobriu. Da mesma forma, há em economia um grande sistema do equilíbrio geral. E foi Walras quem teve a percepção e a sorte de o revelar.
Pois bem, nunca foi Walras tão contemporâneo. E sua análise é o calcanhar de aquiles da sempre popular tese do capitalismo cruel defendida por Thomas Piketty, o economista francês que se tornou celebridade instantânea. Pergunte o que acham disso os 3,5 bilhões de eurasianos que mergulharam nos mercados de trabalho globais. Como aponta Kenneth Rogoff em seu artigo do GLOBO deste sábado, quando se trata de reduzir a desigualdade mundial, o sistema capitalista teve três décadas de desempenho impressionante . Foi a fuga da miséria socialista que empurrou bilhões em desespero em direção à engrenagem capitalista global, derrubando os salários e aumentando o retorno sobre o capital nas economias ocidentais.

A mesma engrenagem que aumentou a desigualdade em países ricos reduziu globalmente a desigualdade, permitindo que bilhões de asiáticos escapassem da extrema pobreza , prossegue Rogoff. É fato que a desigualdade aumentou em cada um dos países avançados. Afinal, o dinheiro barato infla artificialmente o patrimônio dos mais ricos enquanto a competição asiática trava o salário dos mais pobres. E as operações de salvamento de instituições financeiras após o grande estouro das bolhas protegeram essa riqueza acumulada por retornos extraordinários do capital durante todo esse tempo. Mas foram os governos que garantiram os depósitos de déspotas africanos, cleptocratas russos, políticos corruptos e mesmo meritórios bilionários de todo o mundo. Enquanto a destruição dessa riqueza concentrada foi perpetrada pelo capitalismo acusado de injusto. A desigualdade é localmente maior e globalmente menor, enquanto convergem as remunerações através do comércio globalizado (Samuelson) em uma economia mundial integrada (Walras).

14 de maio de 2014
Paulo Guedes, O Globo

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