"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

DE LIVROS E DO TEMPO

As tribulações de Lucius Apuleius, em O Asno de Ouro; Sherazade e seus mágicos relatos de As Mil e uma Noites; os heróis imortais da China ancestral do Romance dos Três Reinos; a impositiva beleza da Princesa Kaguya, do Japão milenar do Conto do Cortador de Bambu; o sal e o corte de Os Lusíadas; a ironia e a graça de Rabelais, em Gargântua e Pantagruel;  as aventuras de Robinson Crusoé, de Defoe, ou do inesquecível Lemuel, das Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; nada disso existiria, nenhum desses personagens teria servido de amigo, de matéria para os sonhos, de solidária companhia, para milhões de homens, ao longo dos séculos, se os livros não os tivessem trazido até aqui.
 
E o que dizer de Guerra e Paz, de Tolstoi, de O Corcunda de Notre Dame, de A Queda da Casa de Usher, de Os Miseráveis, ou de Germinal?
 
Ou de Garcia Marquez, Eduardo Galeano, Machado de Assis, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, João Guimarães Rosa, Wander Piroli, Murilo Rubião?
 
Os livros são como o próprio Aleph, de Borges, que concentra toda a realidade do universo em único ponto, como eles reúnem a experiência e a imaginação dos homens em suas páginas, letras e linhas.
 
Tecido com o coração das longas hastes, colhidas às margens do Nilo, por diligentes fabricantes de papiro; lixado, desbastado e prensado, até o couro se transformar em pergaminho; abrigado, por tanto tempo, na escuridão das câmaras mortuárias das pirâmides egípcias e nas prateleiras tubulares da Biblioteca de Alexandria; copiado, à luz de velas, e das amplas janelas dos scriptoriums das abadias medievais, por gerações de monges que nele teceram a delicada e persistente trama dourada das iluminuras, desenhando, com longas penas de ganso, serifa a serifa, as letras dos textos bíblicos, da filosofia, da ciência, da história; escrito pelos revolucionários, contrabandeado pelos perseguidos, nau e asas dos injustiçados, leme dos que mudaram o mundo, o livro continuará, conosco, no futuro.
 
Nossos netos poderão achar os mesmos textos nas frias nuvens de bits, nas telas dos tablets e dos smartphones, ocultos nos algoritmos que as máquinas guardam e traduzem, até serem quebradas e derretidas para fazer novas memórias, placas e processadores.
 
Mas nada poderá substituir, ou superar, a sensação de imaginar, ao acariciar uma capa antiga, a vida de quem a encadernou.
 
De descobrir, ao abrir um volume de aventuras, a dedicatória, escrita, com esmero, a tinta de tinteiro, por um pai para seu filho de 10 anos.
 
Ou de localizar a letra do primeiro, do segundo, de um terceiro dono - nome, sobrenome e ano - como a marcar e afirmar, em uma lápide, ou numa carta jogada em uma garrafa ao oceano: eu existi. Como você, estive por aqui. Como você, tive este livro entre as mãos. Ria com ele, chore, aprenda e sonhe. Escreva seu nome nesta página de rosto. Aproveite a leitura.
 
05 de maio de 2014
Mauro Santayana

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