Heracleum mantegazzianum ou salsa gigante: é tóxica e invade campos russos |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
As grandes cidades de Moscou e São Petersburgo passam ao turista uma imagem positiva da Rússia.
Mas se afastando delas o viajante começa a andar por uma paisagem esparsa, com escassas aldeias pontuando prados e florestas por milhares de quilômetros.
São as terras do maior país do planeta que infelizmente estão sendo inutilizadas por uma planta venenosa que ninguém combate: a Heracleum mantegazzianum ou salsa gigante.
Esse capim invasor excepcionalmente alto tem uma seiva tóxica que pode causar queimaduras de terceiro grau e cegueira ao homem, mostra reportagem da jornalista russa Maria Antonova, no “The New York Times International Weekly”.
Ele passou a simbolizar a maldição que caiu sobre a imensa Rússia rural sob a maligna reforma agrária dos sovietes e da persistente negligência do governo atual que perpetua os desastres agrícolas marxistas.
A Rússia é enorme, mas sua economia está concentrada em um punhado de cidades.
Na era soviética a reforma agrária socialista e confiscatória pretextou que desenvolveria a produção agropecuária chacinando os proprietários e substituindo-os pelo planejamento central de uma imensidade de assentamentos ou kolhozes.
O governo de Putin conservou a mesma filosofia e os resultados continuam sendo o oposto do prometido.
Para pior, as terras dos assentamentos, no verão ficam ocupadas pela salsa gigante cujas folhas do tamanho de um centro de mesa criam um matagal impossível de passar sem um traje anti-risco.
A Heracleum mantegazzianum desola os panoramas agrícolas russos |
Fora de Moscou, a salsa gigante costuma ser o único marco visível em campos brancos. As autoridades qualificam de “contaminadas” as áreas cobertas pela praga.
A salsa gigante provém das montanhas do Cáucaso, mas prosperam em outros solos se sobrepondo a outros vegetais pela produção de um número extraordinário de sementes: até 100.000 por planta.
“Nossas espécies não podem competir com ela”, disse Dmitry Geltman, diretor do Instituto de Botânica Komarov da Academia Russa de Ciências.
“Ela ocupa campos abandonados porque gosta de solo instável”. E o solo não trabalhado entregue a si próprio é um dos maiores e mais danosos produtos da reforma agrária.
Acresce que os campos russos experimentam um êxodo incessante de população desde a década de 1990.
A Rússia tem cerca de 222 milhões de hectares de terras agrícolas disponíveis para a produção. Mas quase 100 milhões delas estão abandonadas, de acordo com um censo de 2016.
Ninguém pode ser dono de nada e aproveitar essas imensidades disponíveis. O regime soviético massacrou os proprietários e criou os kolhozes socialistas, ou assentamentos da reforma agrária que o regime de Putin perpetua sem nenhuma utilidade.
O regime pós-soviético pouco modificou o desastre, mas afrouxou a escravidão dos camponeses. Sem terra e sem alimento eles foram para as cidades. E quando os humanos partiram, a salsa gigante ficou incontível.
O governo não se interessa pelo campo nem pelos camponeses: esses são duas vezes mais pobres e desempregados do que os moradores das cidades.
Segundo a pesquisa o número de fazendas no país caiu pela metade entre 2006 e 2016.
Vasily Melnichenko, agricultor dos Montes Urais líder de um movimento pelo desenvolvimento rural, diz que a política do presidente Vladimir Putin em relação à agropecuária tem sido terrível.
Reforma agrária comunista confiscou a produção,
escravizou os camponeses.as terras foram abandonadas
e as pragas invadiram.
“Dura muito tempo para se dizer que foi um simples erro, parece feito de propósito. Isso significaria que
somos governados por inimigos”, disse Melnichenko.
Se continuar assim, em mais 20 anos, calculou ele, todos os residentes rurais morrerão, e terá desaparecido a aldeia russa como modo de vida.
A salsa gigante invade quando uma parcela fica sem zeladores.
A praga está se expandindo pelos campos a um ritmo de 10% ao ano.
Até a região altamente urbanizada de Moscou teve quase 700 quilômetros quadrados contaminados pela praga no verão de 2020, relata o governo.
Esta espécie contém uma alta concentração de substâncias que causam queimaduras e bolhas graves na pele exposta ao sol.
Na década de 1980, quando a planta começou a se infiltrar na região selvagem da Rússia central, os testes mostraram que as vacas alimentadas com salsa gigante produziam um leite com gosto ruim.
Alguns governos regionais pulverizam com pesticidas as áreas problemáticas, mas Moscou não dá atenção ao problema.
O Tatarstão, única região que monitora sua propagação, solicitou ajuda federal, dizendo que a área dominada pela salsa gigante aumentou 10 vezes nos últimos oito anos, com milhares de queimaduras em seres humanos e até mortes.
A jornalista russa Maria Antonova, autora da rica reportagem para o “The New York Times International Weekly” sobre o drama que mata a Rússia rural conta que uma noite fez uma incursão junto à ativista Maria Popova, num campo de salsa gigante no Parque Nacional Losiny Ostrov, perto de Moscou.
Esse Parque Nacional tem a missão de proteger a biodiversidade, mas ignorou o problema que mata as outras plantas.
Ela qualificou a salsa gigante de “símbolo de abandono”.
Nas províncias não há quem se interesse pelo desastre, disse a escritora Darya Grebenshchikova que mora na região de Tver.
“Perdi a esperança de algum tipo de renascimento rural. O governo decidiu que é muito problemático manter vivas as zonas rurais, por isso estão a transformá-las num deserto”, lamentou.
flagelo russo
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