A política brasileira é muito movimentada e surpreendente, porque aqui acontecem coisas que jamais ocorrem em outros países democráticos, embora possam até ser usuais em ditaduras de baixo nível. Por exemplo, o filho de um presidente chamar de mentiroso um ministro que trabalha diretamente com o pai, fazendo um escândalo nas redes sociais, e em seguida o chefe de governo confirmar o tuíte, deixando completamente manchada a imagem do importante auxiliar, que tinha sido coordenador nacional da campanha eleitoral e até então privava de sua intimidade. Sem a menor dúvida, é algo espantoso e inadmissível.
Mesmo que o tal ministro tivesse realmente mentido, nada justifica essa reação violenta e autoritária, que demonstra uma total falta de equilíbrio de pai e filho, um comportamento que nem Freud explicaria, com ajuda de Jung, Lacan, Pavlov, Piaget e Fromm.
LEMBRANDO SHAW – Em meados do Século XX, o grande jornalista, escritor e dramaturgo irlandês Bernard Shaw deu um depoimento para a TV britânica, na época em que não havia vídeo-tape e as entrevistas eram ao vivo ou filmadas, em que fez uma análise premonitória do significado do microfone e das gravações.
Disse Shaw que as gravações estavam destinadas a deixar muitos políticos em má situação, porque, caso mentissem, cedo ou tarde poderiam ser desmascarados, prejudicando suas imagens junto aos eleitores.
Lembrei do grande pensador britânico em 1974, quando Nixon renunciou à Presidência dos Estados Unidos. Na campanha de 1972, quando derrotou o senador George McGovern, cinco arapongas foram presos quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate. Na época, Nixon afirmou que não sabia de nada. Dois anos depois, quando surgiram as gravações mostrando que ele sabia de tudo, a Suprema Corte o obrigou a exibir os áudios, e ele renunciou.
PEGA NA MENTIRA – Para qualquer político, mentir é sempre arriscado. No caso de Bolsonaro, ele foi apanhado na mentira, sem a menor dúvida. Mas seu caso não tem a gravidade de Watergate, nada lhe acontecerá, continuará a governar normalmente.
Mas seu relacionamento com os oito ministros militares e os três comandantes das Forças Armadas jamais será o mesmo. A formação castrense é rigorosíssima em relação ao ato de mentir. O Regulamento Disciplinar do Exército, por exemplo, traz em seu Anexo I a relação de transgressões disciplinares a que estão sujeitos os membros dessa Força. E a primeira transgressão é justamente faltar à verdade:
ANEXO I – RELAÇÃO DE TRANSGRESSÕES
1. Faltar à verdade ou omitir deliberadamente informações que possam conduzir à apuração de uma transgressão disciplinar.”
1. Faltar à verdade ou omitir deliberadamente informações que possam conduzir à apuração de uma transgressão disciplinar.”
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P.S. – Portanto, ao mentir deliberadamente sobre o então ministro Bebianno, dizendo que não conversara com ele na terça-feira, dia 12, o presidente Bolsonaro cavou um fosso intransponível entre ele e a classe militar. Nenhum dos oito ministros da reserva e dos três comandantes das Forças Armadas jamais confiará nele como antes. (C.N.)
P.S. – Portanto, ao mentir deliberadamente sobre o então ministro Bebianno, dizendo que não conversara com ele na terça-feira, dia 12, o presidente Bolsonaro cavou um fosso intransponível entre ele e a classe militar. Nenhum dos oito ministros da reserva e dos três comandantes das Forças Armadas jamais confiará nele como antes. (C.N.)
22 de fevereiro de 2019
Carlos Newton
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