"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 25 de novembro de 2017

EM DEFESA DELAS

Dia desses li que 93% das argentinas já foram alvo de assédio sexual na rua - foi o que constatou um sério levantamento, de amplitude nacional. Apurou-se ainda que quatro a cada dez, em algum momento, foram vítimas de abuso enquanto utilizavam o sistema público de transporte.

Coisa de país latino? Reino Unido, um passo à frente: 85% das inglesas entre 18 e 24 anos já foram vítimas de assédio sexual - e 45% delas agarradas à força. Pela Europa afora, 3,7 milhões de mulheres são vítimas de violência sexual a cada ano - estupro excluído.


Aliás, a situação está sinistra no próprio Parlamento Europeu: recentemente li uma séria reportagem divulgando depoimentos de diversas funcionárias atacadas por parlamentares dentro de elevadores e gabinetes.

Após ler e arquivar dezenas de reportagens e pesquisas, posso afirmar, sem receio: da Austrália ao Brasil, do Japão à Índia, da África aos EUA, eis aí, com pequenas variações, o retrato do que sofrem as mulheres pelas ruas. Que vergonha, raça humana! Que coisa triste! De toda sorte, simplesmente criticarmos não adianta. Há que se passar para a ação. Sugiro, assim, modestamente, cinco providências.

A primeira delas diz respeito à nossa atitude cultural: os atos de assédio sexual são contemplados no mais profundo silêncio - uma omissão cúmplice, ao fim do cabo. Assim, simplesmente dizermos, com todas as letras, que ‘isto está errado’, é um bom começo.

A partir desta mudança de cultura, um segundo passo será possível: a conscientização dos homens de que assediar sexualmente mulheres é algo vergonhoso. Este objetivo já foi alcançado em diversas outras áreas, e com sucesso. Por que não nesta?

Reforçando este processo, entra em cena uma terceira providência: que as mulheres se unam, se façam representar, e denunciem os atos de abuso, venham de onde vierem.

O quarto gesto será o de proteger as vítimas, que não podem perder seus empregos ou sua paz por conta de não terem se conformado com os abusos que sofreram.

Entra em cena, finalmente, a última ação: punir exemplarmente, nos termos da lei, os transgressores - afinal, nada estimula mais o crime que a impunidade.

Nenhuma destas medidas é de simples aplicação. Demandarão longas e dolorosas lutas - talvez ao longo de gerações. Mas as mulheres merecem - de sua mãe a suas filhas!


25 de novembro de 2017
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

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