"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 9 de setembro de 2017

AO INVÉS DE MELHORAR, A SITUAÇÃO DE TEMER NA VERDADE AGRA VOU-SE MUITO

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Charge reproduzida do Arquivo Google
Para quem em visita à Noruega pensa estar na Suécia, e, ao lado do presidente paraguaio, trata-o como governante de Portugal, uma confusão a mais seria apenas natural e inevitável. Não fosse, dessa vez, uma viagem de Michel Temer a respeito de si mesmo, ao acreditar que o afundamento de Joesley Batista extingue os efeitos judiciais e políticos do que tramaram no seu encontro noturno. A situação de Temer, na verdade, agravou-se muito. Além de inalterada, a já conhecida incriminação que Joesley lhe fez ganhou, entregue em malas e caixas, volumosa contribuição do seu parceiro Geddel Vieira Lima.
As gravações que Joesley traz não apagam a anterior, em que Temer lhe recomenda manter a compra de silêncio dos presos Lúcio Funaro e Eduardo Cunha. Nem elimina sua indicação, para representá-lo junto a Joesley, do “auxiliar de plena confiança” logo fotografado com a mala e meio milhão vindo do empresário. Temer continua denunciado, para ser processado quando termine o mandato.
ANÃO DO ORÇAMENTO – Geddel é um político que não suscita dúvidas há 25 anos, quando se notabilizou como um dos “anões do Orçamento”, que desviavam em favor próprio a destinação, pela Câmara, das verbas federais para o ano. Na década passada, Antônio Carlos Magalhães avisava, sobre negócios de Geddel com fazendas e outros imóveis: “Geddelzinho vai às compras”, ou foi.
Apesar de tal transparência, Geddel foi diretor da Caixa Econômica a pedido do então vice de Dilma Rousseff (para eliminar dúvidas teimosas sobre o sentido de suas escolhas, o outro diretor indicado por Temer foi Moreira Franco). Derrubada Dilma, Geddel estava na primeira fila a entrar no Planalto, feito ministro da Secretaria de Governo de Temer – um dos dois ministros que sabem e lidam com tudo no governo.
COFRE DE GEDDEL – O apartamento de Salvador tornou-se cofre de Geddel no ano passado, como informou à polícia o proprietário, Silvio Silveira. No governo Temer, portanto. A providência teve motivo claro: o governo resguardava Geddel de investigação sobre o pretendido prédio ilegal em Salvador, mas a Lava Jato e outros jatos poderiam escapar ao controle.
Remeter dinheiro para o exterior, assim como aplicações encobertas, era um risco implícito nas circunstâncias. Malas e caixas passaram a compor um cofre dotado de sala, quartos, banheiro e cozinha. Tão único quanto Geddel. Mas sem negar a utilidade de cofres ainda mais turísticos, apesar de inconvenientes no momento.
As autorizações do juiz Vallisney de Souza Oliveira à Polícia Federal indicam disposição de esmiuçar a riqueza de Geddel, seus meios e fontes. Isso tem conexões com outro fator de agravamento para Temer: as revelações de Lúcio Funaro, intermediário de corrupção com ligações tanto a Geddel, em transações variadas, como a Temer, no mínimo em captações sob o nome do PMDB.
HOMOLOGAÇÃO – A delação de Funaro homologada pelo Supremo foi um complemento adequado ao dia em que ficaram conhecidos o cofre e mais uma gravação de Joesley. A homologação encerra a espera do procurador-geral Rodrigo Janot para liberar nova denúncia criminal contra Temer.
Ainda em nível de expectativa, há mais quatro ou cinco gravações de Joesley e outros dirigentes do grupo J&F. Mais ameaças potenciais para Temer, sem exclusividade: seria a hora também de outros políticos. Acima de tudo isso, paira a indignação que invadiu o Supremo e, pode-se pressentir, exacerbou disposições ali quanto a tudo referente à corrupção e seus personagens. Uma boa perspectiva, pois. Não para Temer.

09 de setembro de 2017
Janio de Freitas
Folha

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