A ordem de prisão preventiva contra o empresário Eike Batista aumentou o desespero de Sergio Cabral e de sua mulher Adriana Ancelmo. E não mais que de repente, como diria Vinicius de Moraes, as redações dos jornais começaram a receber insistentes informações de que o casal 171 da corrupção nacional estaria disposto a fazer um acordo de delação premiada. A justificativa é de que Cabral e Adriana, após dois meses e meio na prisão, não aguentam mais.
MUITA GENTE ASSUSTADA – Essas notícias se espalharam pela mídia, assustando um número enorme de políticos importantes, como a família Picciani, o governador Luiz Fernando Pezão, os ex-secretários estaduais Sérgio Cortes (Saúde) e José Mariano Beltrame (Segurança), entre outros, sem falar no ex-prefeito carioca Eduardo Paes e em muitas cabeças coroadas de Brasília.
Todos esses peixes graúdos sabem que serão alcançados pela Lava Jato, é só uma questão de tempo, mas sonham em adiar ao máximo a chegada dos federais. A possível delação de Cabral abreviaria a ação da Lava Jato, eles seriam apanhados com maior facilidade. Mas ainda não há perigo iminente, porque essas notícias sobre a possibilidade de o ex-governador estar perto de fazer um acordo ainda não têm consistência, é tudo conversa fiada.
NÃO HÁ INTERESSE – Na verdade, o que desespera Cabral é que, até agora, a Polícia Federal e a Procuradoria da República não tomaram a menor iniciativa de sugerir que ele faça delação premiada. Pelo contrário, é um desprezo total. Ele achava que logo seria procurado, contava com isso. Iria delatar todo mundo e cumprir uma pequena pena domiciliar, como acontece com os delatores Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Sérgio Machado, Ricardo Pessoa e Otávio Azevedo, entre outros, e depois poderia aproveitar o resto da vida com os milhões de dólares que ainda não foram bloqueados. Era o que Cabral pensava, mas não foi o que ocorreu.
A delação premiada segue o diz a Bíblia, na parábola do Evangelho de Mateus: “Porque muitos são chamados, mas poucos os escolhidos“. Na Lava Jato, os primeiros a delatar só foram privilegiados porque abriram o caminho para demolir o esquema de corrupção. De lá para cá, ficou cada vez mais difícil fazer acordo com a força-tarefa.
UM SISTEMA SIMPLES – A mecânica da delação premiada foi definida com total clareza pelo juiz Sérgio Moro, em seu livro “Lavagem de Dinheiro”, que Cabral não teve curiosidade de ler:“Faz-se um acordo com um criminoso pequeno para obter prova contra o grande criminoso ou com um grande criminoso para lograr prova contra vários outros grandes criminosos”. Como se vê, é um método simples e eficaz.
Isso significa que Cabral só terá direito à delação se entregar peixes muito graúdos, maiores do que ele. A força-tarefa não tem o menor interesse numa delação em que o ex-governador denuncie apenas seus ex-subordinados e políticos de menor expressão. “Não se vislumbra interesse da Justiça na realização de acordo de colaboração com chefe de grupo criminoso organizado, mesmo que este se disponha a identificar todos os seus comandados”, já esclareceu o juiz Moro, mas parece que Cabral não entendeu o espírito da coisa.
NOTÍCIAS PLANTADAS – O fato concreto é que o ex-governo só tem mostrado competência em desviar recursos públicos. Na vida real, comporta-se como um perfeito trapalhão, capaz até de mandar difundir a informação de que a delação premiada começará com sua mulher, Adriana Ancelmo. Isso é uma maluquice total. A força-tarefa não tem o menor interesse em ouvi-la, até porque ela não sabe de nada, é apenas uma dondoca deslumbrada, que o marido usou para fazer lavagem de dinheiro e acabou entrando como cúmplice e integrante de quadrilha.
Os advogados e amigos de Cabral espalham também que ele poderia fazer delação para dar detalhes sobre os crimes cometidos por Eike Batista, mas a força-tarefa não tem o menor interesse nisso.
Os delegados federais e os procuradores sabem que vai acontecer exatamente o contrário. Quando Eike se entregar, vai delatar todo o esquema de corrupção de que participou, não somente no Rio de Janeiro, mas a nível nacional. com apoio dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Roussef, que fizeram o economista Luciano Coutinho transformar o IBGE num braço político, em benefício dos empreiteiros que se ligaram aos governos do PT. E o resto é folclore.
29 de janeiro de 2017
Carlos Newton
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