O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho acusou o peemedebista Geddel Vieira Lima de ter recebido propina de 3% em troca de pagamento pelo Ministério da Integração Nacional a obra de interesse da construtora. Segundo relatado em acordo de delação premiada, o pagamento foi feito porque Geddel destravou liberação de recursos públicos vinculados à obra Tabuleiros Litorâneos, cujos repasses do ministério estavam atrasados.
Pelo relato feito ao Ministério Público Federal – e ainda não homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) -, a Odebrecht sugeriu o pagamento do percentual, como forma de Geddel, então ministro da pasta, quitar o serviço que já havia sido realizado. Geddel comandou a Integração Nacional de 2007 a 2010, durante o governo Lula.
“Em razão do meu pedido e esperando contrapartida financeira, Geddel determinou que os pagamentos por parte do Ministério da Integração ocorressem efetivamente para quitação de faturas dos serviços realizados. Não precisei pressionar Geddel para que os pagamentos ocorressem, pois ele receberia uma contrapartida financeira assim que as faturas fossem quitadas, o que por si só já o motivava”, contou o executivo.
PROPINA DE 3% – Posteriormente, relatou Cláudio Filho, ele foi informado por um diretor da empresa que o valor repassado seria de 3%. O executivo não falou em sua delação o valor total da obra que estava em atraso e nem a quanto equivaleria esse percentual.
“Transmiti isso a Geddel, que concordou com a oferta e liberou os pagamentos pendentes em nosso favor”, disse.
O executivo relatou, ainda, que o apoio financeiro a Geddel não se resumia a períodos eleitorais, e que o peemedebista oferecia “contrapartidas” claras. Apesar dos pagamentos feitos com frequência pelo Odebrecht, Cláudio Filho afirmou que Geddel cobrava mais “generosidade” da empresa.
VIZINHOS E AMIGOS – Na delação, o executivo disse que no caso de Geddel, diferentemente de outros políticos, eles eram amigos. Vizinhos em um condomínio no litoral norte da Bahia, caminhavam pela praia onde, entre outros assuntos, tratavam dos esquemas descritos ao Ministério Público Federal. Os caseiros das casas de Geddel e de Cláudio Filho são irmãos e foram apontados como testemunhas da boa relação e do convívio frequente entre os dois.
“Geddel recebia pagamentos qualificados em períodos eleitorais e em períodos não eleitorais. E fazia isso oferecendo contrapartidas claras. Apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele. Ele insistentemente alegava que nunca efetivamente demos a ele o que ele acreditava representar”, afirmou.
Segundo o delator, Geddel dizia se considerar “um amigo da empresa” e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente.
PATEK-PHILIPPE – Em março de 2009, quando o peemedebista fez aniversário de 50 anos, foi presenteado pela Odebrecht com um relógio da marca suíça Patek-Philippe, modelo Calatrava, enviado com um cartão assinado por Emílio Odebrecht O modelo do relógio custa cerca de 25 mil dólares. A Patek-Philippe é uma das grifes de relógio mais caras do mundo.
Depois de sair do governo Lula e disputar sem sucesso eleições pela Bahia, a Odebrecht deixou de se relacionar de forma tão intensa com Geddel. Cláudio Filho relatou que o peemedebista assumiu uma diretoria da Caixa Econômica Federal em 2011, já no governo Dilma Rousseff, para manter alguma influência.
“Em algumas oportunidades, na qualidade de vice-presidente de uma das diretorias da CEF, Geddel chegou a me procurar dizendo que estava ajudando a Odebrecht dentro do banco. Eu li esse comentário como a sinalização de um crédito de capital político para ser usado em futuras solicitações de pagamentos a pretexto de campanha que poderiam ser feitas”.
Procurado pela reportagem, Geddel limitou-se a responder: “Todas as doações que recebi da Odebrecht estão declaradas a Justiça Eleitoral”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Com esse currículo tipo folha corrida, ninguém sabe se Geddel chegou ao ministério para fazer articulação política ou para distribuir propinas. (C.N.)
14 de dezembro de 2016
Simone Iglesias
O Globo
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