"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

CINCO CARACTERÍSTICAS TÍPICAS DA MENTALIDADE DO ATRASO




Uma crença que sempre ressalto, dia após dia, é que estamos em guerra — não uma guerra física, que envolve tiros e bombardeios, mas uma guerra suscetível a se tornar tão destrutiva e custosa quanto.

A batalha pela preservação e avanço da liberdade é uma batalha não contra pessoas, mas sim contra idéias contrárias. O autor francês Victor Hugo certa vez disse: "É possível resistir a uma invasão de exércitos; mas é impossível resistir à invasão de idéias".

Essa declaração é frequentemente reformulada como "Existe uma coisa mais poderosa que todos os exércitos: uma idéia cuja oportunidade chegou."

Idéias possuem consequências abaladoras e impactantes. Foram elas que determinaram o curso da história.

O feudalismo existiu por milhares de anos porque, em grande parte, os professores, intelectuais, educadores, sacerdotes e políticos da época propagavam e defendiam as idéias feudalistas. A noção de "uma vez servo, para sempre servo" fez com que milhões de pessoas jamais questionassem a situação estacionária de suas vidas.

Sob o mercantilismo, o conceito amplamente aceito de que a riqueza do mundo era fixa e pré-determinada levou indivíduos a roubar tudo aquilo que queriam de outros, o que culminou em uma longa série de guerras sangrentas.

A publicação, em 1776, do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, representou um marco na história do poder das idéias. À medida que a mensagem de Smith sobre o livre comércio foi se espalhando, as barreiras políticas à cooperação pacífica (via transações voluntárias de mercado) foram entrando em colapso, e praticamente todo o mundo decidiu, pela primeira vez na história, tentar a liberdade.

Marx e os marxistas queriam nos fazer crer que o socialismo era inevitável. Com mesma certeza que temos de que o sol nascerá amanhã a leste, eles afirmavam que o socialismo é uma ideia que, no futuro, seria implantada em todo o mundo. No entanto, enquanto os indivíduos forem dotados do livre arbítrio (o poder de preferir o certo ao errado), nada que envolva a escolha humana pode ser inevitável. Se o socialismo vier, será porque os indivíduos optaram por abraçar seus princípios.

Mas embora o socialismo seja um fracasso completo e comprovado, suas idéias constituem a principal ameaça atual à liberdade. A meu ver, o socialismo pode ser decomposto nas seguintes cinco idéias.

1. As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o governo tem de fazer alguma coisa!"

Criar uma lei ou exigir que o governo "faça algo" são medidas que aparentemente se tornaram um passatempo entre políticos, intelectuais e ativistas.

Um setor da economia está mal? O governo deve lhe conceder subsídios ou então aumentar a tarifa de importação sobre os concorrentes estrangeiros. Pobreza? Criemos um projeto de lei para aboli-la. A educação está ruim? Que se crie um projeto de lei que obrigue o governo a destinar ainda mais dinheiro para os sindicatos dos professores. A cultura nacional é fraca? Uma lei que dê mais dinheiro para a classe artística é impreterível. Os taxistas estão descontentes? Uma lei proibindo a Uber é urgente.

Quase que invariavelmente, uma nova lei significa: (a) mais impostos para financiar sua imposição e administração; (b) aumento no quadro de funcionários públicos para regular algum aspecto da nossa vida que até então não era regulado; e (c) penalidades a quem violar essas novas leis.

Mais leis significam mais controle governamental, mais poder a políticos, e mais coerção. Que não haja dúvidas quanto ao significado de coerção: força, espoliação, compulsão, restrição. Sinônimos para a forma verbal da palavra são ainda mais instrutivos: impingir, exigir, subjugar, extorquir, extrair, arrancar, intrometer, distorcer, coagir, obrigar, pressionar.

Quando o governo intervém na economia, burocratas e políticos passam a maior parte do tempo tentando corrigir as consequências inesperadas de suas intervenções anteriores. E fazem isso por meio de novos projetos de lei. Para corrigir os danos causados pela providência A, eles criam o dispositivo B. Mas como B também gera consequências não-previstas, eles concluem que, para corrigir essas distorções causadas pelo dispositivo B, é necessário criar a cláusula C. Como C também cria desarranjos, é necessário então aprovar a provisão D. E assim vai, até que todo o alfabeto, em conjunto com nossas liberdades, seja exaurido.

As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o governo tem de fazer alguma coisa!" evidenciam uma fé irracional no processo político e uma confiança plena na força e na coerção, coisas que deveriam ser anátema em uma sociedade livre.

2. A fantasia de que é possível conseguir algo do governo

O governo, por definição, não tem nada para distribuir que antes não tenha confiscado das pessoas. Impostos não são doações.

Esse fato tão básico é solenemente ignorado pelos clamores de melhores remunerações para o funcionalismo público, mais programas assistencialistas, mais "serviços públicos e gratuitos", mais incentivos ao lazer e à cultura.

Se você acredita que o governo pode lhe dar algo que você não conseguiria adquirir voluntariamente, faça a si mesmo esta pergunta: "De que bolso está saindo isso? Estaria eu sendo roubado para pagar por esse benefício, ou o governo está roubando outra pessoa para me privilegiar?". Frequentemente, a resposta é "as duas coisas".

O resultado dessa fantasia é que todas as pessoas estão com as mãos nos bolsos de outras pessoas.

3. A psicose do "quero mais"

Recentemente, nos EUA, uma mãe que vivia de assistencialismo estatal escreveu uma carta para o Ministério responsável pelo programa e demandou: "Estou grávida do meu sexto filho. O que vocês farão a respeito?"

Um indivíduo se torna vítima da psicose do "quero mais" quando ele deixa de se enxergar como o único responsável por si mesmo. A mentalidade é: "Meus problemas não são realmente meus; são da sociedade como um todo. E se a sociedade não resolvê-los, e rápido, então teremos problemas!".

O socialismo prospera com o abandono da responsabilidade individual. Quando os indivíduos perdem seu espírito de independência e de iniciativa, quando perdem a confiança em si próprios, eles se tornam mera massa de manobra nas mãos de tiranos e déspotas, que adoram pessoas sem iniciativa e com espírito derrotista.

4. A aflição do "eu sei o que é melhor para você"

Essa é a característica central da ideia socialista.

O "eu sei melhor" é o tirano que se intromete na vida dos outros. Sua atitude pode ser expressa desta forma: "Eu sei o que é melhor para você, mas não me satisfaço em apenas tentar convencer você de quão certo eu estou; o que realmente quero é obrigar você a adotar as minhas medidas."


O "eu sei melhor" é a perfeita encarnação da arrogância e da intolerância.

No linguajar governamental, o refrão do "eu sei melhor" segue este raciocínio: "Se eu não pensei nisso antes, então não pode ser feito; e já que não pode ser feito, tenho de proibir qualquer um que queira tentar". Como um exemplo prático, o governo proíbe empresas privadas de atuar no serviço de correios com o argumento de que tal serviço não pode ser operado de maneira lucrativa (uma vez que os Correios estatais só operam com prejuízo).

O milagre do mercado é que, quando os indivíduos são livres para tentar, eles podem — e realmente conseguem — alcançar grandes feitos. Se simplesmente aceitarmos que não deve haver restrições artificiais às energias criativas dos seres humanos, a aflição do "eu sei melhor" seria prontamente rejeitada e escarnecida.

5. A inveja obsessiva

A cobiça pela riqueza e renda de terceiros foi exatamente o que deu origem à esmagadora maioria das legislações de cunho socialista que são criadas hoje. A inveja é o combustível que alimenta o motor da redistribuição. Os vários clamores para que se "tribute mais os ricos" têm suas raízes na inveja e na cobiça.

O que acontece quando as pessoas são obcecadas em sua inveja? Elas dizem que seus problemas são causados por aqueles que estão em melhor situação financeira do que elas. Elas atribuem a causa de suas frustrações a quem tem mais posses.

Para tais pessoas, a sociedade está fraturada em classes, e cada facção se alimenta daquilo que rouba da outra. A história está repleta de exemplos de civilizações que se esfacelaram sob o peso da inveja e de todo o desrespeito à propriedade privada gerado pela inveja.

Um aspecto em comum

Há algo em comum em todas essas cinco idéias socialistas. Todas elas apelam aos instintos mais primitivos e sombrios do indivíduo: o lado não-criativo, preguiçoso, dependente, desmoralizante, improdutivo e destrutivo da natureza humana.

Nenhuma sociedade pode perdurar por muito tempo se sua população se entregar, sem resistência, a tais noções suicidas.

Agora, veja a filosofia da liberdade. Trata-se de uma filosofia edificante, motivadora, criativa, regenerativa e estimulante. Ela recorre às — e depende das — qualidades mais nobres da natureza humana, como a responsabilidade individual, a autoconfiança, a iniciativa própria, o respeito à propriedade privada, e à cooperação voluntária.

O resultado dessa batalha entre liberdade e servidão dependerá inteiramente de quais idéias terão maior aceitação nos corações e mentes dos indivíduos. O júri ainda está deliberando.

09 de junho de 2016
Lawrence W. Reed é o presidente da Foundation for Economic Education

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