"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

DE PRINCIPAL ALIADO, CUNHA PASSA A SER PROBLEMA NÚMERO UM PARA TEMER






Política, como digo sempre, é assim. O aliado de ontem transforma-se, num passe de mágica, no adversário de amanhã. E vice-versa. Da mesma forma que, em outra dimensão, o aliado decisivo da véspera transforma-se num peso amanhã, exatamente para aquele a quem proporcionou a vitória. Este, especificamente, é o caso do deputado Eduardo Cunha em relação ao quase empossado presidente da República Michel Temer. O espelho da véspera está nitidamente refletido nas reportagens de Daiene Cardoso e Luciana Nunes Leal, O Estado de São Paulo, e de André de Souza, Cristiane Jungblut e Evandro Éboli, O Globo, em ambos os casos nas edições de ontem, terça-feira.
Os integrantes do “Centrão”, fundamental para a derrota de Dilma, querem uma compensação pelo desempenho de Eduardo Cunha no processo de votação. Isso de um lado. De outro, nada menos que cem deputados querem a saída de Cunha da presidência da Câmara. Duas forças laterais contrárias margeiam, logo ao início, o mandato do presidente Michel Temer, já que nesta altura dos acontecimentos ninguém tem dúvida que o Senado aceitará o julgamento aprovado no domingo. Aprovado inclusive por mais de 70% dos votos. Basta aceitar a tarefa para que a caneta luminosa do poder passe às mãos do vice presidente da República.
O QUE TEMER PODE FAZER?
Mas o que poderá Michel Temer fazer? Na minha opinião, muito pouco, para não dizer quase nada, além de um abraço de agradecimento.
Isso porque o processo-crime contra Eduardo Cunha já foi aceito por 10 votos a zero pelo STF, o que o torna figura de réu no julgamento esperado. Esse julgamento não poderá demorar muito. Sobretudo porque o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, afirmou à repórter Cleide Carvalho, O Globo também de ontem, que a operação lava-jato continuará independentemente qual seja o governo. Impossível freá-la. Ninguém poderá fazê-lo , muito menos o presidente Michel Temer, sobretudo porque hoje ele carece de apoio por parte da opinião pública. Sua principal tarefa será, portanto, obtê-lo. E não será tentando interferir em favor de Cunha que poderá conseguir.
HAVERÁ PRESSÕES
Porém. haverá pressões. O novo presidente terá de enfrentá-las, já que, como se sabe, nenhum governo poderá se firmar sem alcançar um respaldo percentual mínimo junto à opinião pública. A Operação Lava-Jato é absolutamente popular e os acusados são impopulares. As delações premiadas e as manifestações públicas tornam-se, ao mesmo tempo, testemunhas e protagonistas de uma série de impactos que começou em 2014 e prossegue a todo vapor.
Eduardo Cunha, em primeiro lugar, terá de se livrar das evidências. E o STF apreciar em quantos episódios se dividiu a atuação dele, no país e no exterior. Um cotejo entre evidências e providências. Não há, portanto, espaço para interferências.
Este o dilema de Cunha e a preocupação de Temer. O primeiro apresenta-se ao lado do governo na alvorada do poder. Esta é a preocupação de Michel Temer no início de uma jornada, que ele espera, aliás, como é natural, que só termine com a sucessão de 2018. O caminho não é longo. E o tempo passa rápido. Hoje, por exemplo, o STF julga a nomeação de Lula, nomeação que não houve. Amanhã, provavelmente, decidirá o destino de Eduardo Cunha.
20 de abril de 2016
Pedro do Coutto

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