"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 17 de março de 2016

UM MAR DE GENTE

A voz das ruas: ‘Chega de corrupção’, ‘Fora Dilma e fora PT’, ‘Sérgio Moro, herói da cidadania brasileira’ e ‘Lula na cadeia’

Os recados das impressionantes manifestações deste domingo foram poucos, inequívocos, em alto e bom som: “Chega de corrupção”, “Fora Dilma e fora PT”, “Sérgio Moro, herói da cidadania brasileira” e “Lula na cadeia”. Era um mar de gente com as cores de nossa bandeira, transbordando nas ruas suas exigências de mudança ao som de nosso hino.

A dimensão oceânica das manifestações e a clareza das mensagens são um alerta aos próximos movimentos da classe política. O apoio maciço às investigações da Polícia Federal e a celebração do juiz Sérgio Moro desaconselham quaisquer tentativas de impedir a apuração das responsabilidades pela roubalheira sistêmica de recursos públicos. Da mesma forma, remover Dilma e o PT do poder e prender Lula, mesmo que fossem a expressão atual de uma opinião pública majoritária, exigiriam o devido rito institucional para que tenham legitimidade.

“É difícil imaginar que pudesse ocorrer na Rússia ou na China o que ocorre agora no Brasil: investigações tão abrangentes contra a corrupção e uma ação judicial em que não há intocáveis”, registrou o “Financial Times” em seu editorial da última sexta-feira. O jornal britânico comenta que a prisão de líderes empresariais e o eventual impeachment da presidente indicariam notável avanço institucional brasileiro.

Sua excelência, o fato político, é o abandono da presidente. Lula acusa a oposição de não deixá-la governar, quando na verdade tentou todo o tempo capturar seus ministérios. O PT denuncia seu programa econômico e oferece alternativas obsoletas, que já foram tentadas e a levaram ao fracasso. E neste sábado, em convenção nacional, o PMDB reconduz Temer à presidência do partido e dá o aviso prévio de sua operação de desembarque do governo.

A crise atual será superada com o adequado funcionamento de nossas instituições. As investigações independentes das responsabilidades das lideranças políticas pela corrupção sistêmica. Uma atuação também “independente, transparente e tecnicamente fundamentada” do Judiciário, como recomenda o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto. E finalmente uma contribuição decisiva do Legislativo na questão do impeachment e na inadiável reforma política. Afinal, o Congresso há muito nos deve uma forma decente de fazer política.



17 de março de 2016
Paulo Guedes, O Globo

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