"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de janeiro de 2016

LULA QUANDO SE REFERE A QUALQUER LADÃO, FALA SEMPRE DE SI PRÓPRIO: LULA DOOU A BR DISTRIBUIDORA AO MESMO COLLOR QUE ACUSOU DE LADRÃO E DÉBIL MENTAL


Em 1993, pouco depois do impeachment de Fernando Collor, o radialista Milton Neves quis saber o que Lula achava do adversário escorraçado do gabinete presidencial por ter feito o que a seita petista faria anos depois em escala industrial. “Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”, pergunta o entrevistador no começo do áudio hoje transformado numa peça essencial para os estudiosos da Era da Canalhice.

Ouça a resposta de Lula.



O chefão do PT vinha rascunhando o diagnóstico desde a campanha presidencial de 1989, quando acusou de “corrupto” o inimigo que acabaria por derrotá-lo nas urnas. “Isso é uma tremenda maracutaia”, berrou Lula no ano seguinte, ao saber que o presidente da República tentara favorecer um empresário amigo com dinheiro desviado da Petrobras. A negociata gorou, mas logo se constatou que havia ali um caso sem cura. Enquanto Fernando Collor percorria o atalho que o devolveria à planície, Lula seguia tateando a estrada certa para o Planalto.

Finalmente vitorioso em 2002, ele chegou lá em 2003. Quatro anos mais tarde, o homem despejado da Presidência por ter desonrado o cargo voltou à Praça dos Três Poderes, agora como senador por Alagoas filiado ao PTB. Em 2009, os antagonistas que viviam trocando chumbo passaram a trocar elogios que pavimentaram o caminho da reconciliação. Logo descobriram que haviam nascido um para o outro. Viraram amigos de infância. Além de comparsas, confirmam descobertas recentes da Operação Lava Jato.

Aparentemente impossível, a parceria nada tem de ilógica. Vista de perto, a dupla tem almas gêmeas. Escancarado pela grossura explícita, o primitivismo de Lula aparece claramente por trás do falso refinamento de Collor. Escancarado pela arrogância de oligarca, o autoritarismo de Collor é perfeitamente visível por trás do paternalismo populista de Lula. Os dois são, em sua essência, primitivos e autoritários. Ambos também acham que os fins justificam os meios. E, como atestam revelações recentes, acham que demonstrações de amizade devem incluir barganhas extraordinariamente lucrativas ─ tudo por conta dos pagadores de impostos.

Já em 2009, Lula expressou seu contentamento com a conversão de Collor: premiou a “lealdade” do representante de Alagoas com duas diretorias da BR Distribuidora, uma das mais cobiçadas subsidiárias da Petrobras. Em dezembro, na denúncia enviada ao STF contra o deputado Vander Loubert (PTB-AL), o procurador-geral Rodrigo Janot resumiu a bandalheira no trecho abaixo reproduzido:

“Após o fim do período de suspensão de direitos políticos, Fernando Affonso Collor de Mello retornou à vida pública. Na condição de senador pelo Partido Trabalhista Brasileiro do Estado de Alagoas (PTB-MS), por volta do ano de 2009, em troca de apoio político à base governista no Congresso Nacional, obteve do então Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, ascendência sobre a Petrobras Distribuidora- BR Distribuidora”.

Quando Dilma Rousseff assumiu a chefia do governo, o padrinho já havia doado ao senador quase todo o latifúndio ─ uns poucos lotes foram reservados ao PT. Como sempre, o poste escorou o serviço sujo do fabricante. No depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, Nestor Cerveró, um dos pajés do Petrolão, confirmou que a afilhada endossou a obscenidade: “Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a Presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora”, revelou Cerveró.

As escavações nessas promissoras catacumbas estão ainda em seu começo. Vem muito mais por aí. O que já se sabe é suficiente, contudo, para reiterar que o Brasil, como ensinou Tom Jobim, não é mesmo para amadores. No tempo dos tiroteios entre Lula e Collor, o país inteiro apostou que os dois pistoleiros jamais seriam vistos do mesmo lado. Acabaram juntos para sempre no saloon do Petrolão.



16 de janeiro de 2016
Augusto Nunes, VEJA

Nenhum comentário:

Postar um comentário